Quando a Terra parou

Na década de setenta, tempo em que os jardins floriam e balançavam as flores ao vento das lindas manhãs de setembro e, enquanto as folhas caiam e rolavam pelo chão, eu brincava pelo chão da Rua Quarta Avenida. E na Quinta avenida me alegrava ao sentir o perfume da natureza lá da fazenda do Januário Carreiro.

Pelas ruas, homens armados e com uma cuia na cabeça chamavam atenção pela tranquilidade que iam e vinham enquanto os sinos da capela tocavam com seu balanço. Nada mudava a rotina do lugar, exceto um alto falante que na distancia tocava algo do Maluco Beleza com um locutor fazendo a propaganda de uma loja.

A tarde cai suave e serena, no rádio uma Ave Maria e na mesa o jantar depois de um dia cansativo de tanto brincar, sorrir, cantar e correr. Mas, ainda tinha um momento para abrir a esteira no calçadão da casa e olhar na noite escura o céu estrelado cintilante, enquanto sentada na cadeira ao lado, vovó atendia o nosso pedido e contava uma daquelas histórias maravilhosas que muitas vezes não ouvíamos mais o seu final.

Sempre no dia seguinte tinha a certeza de ter sonhado e poder na hora do café contar que na noite as fantasias se realizaram.

Numa dessas noites tive um sonho de sonhador e no amanhecer vi que era verdade, pois a Terra parou. O mundo inteiro parou e nada funcionava, nem o grande relógio balançava o seu pêndulo.

Então me lembrei que no dia anterior ouvi sucessivas vezes a musica do Rauzito e por certo, isso devia ter ficado gravado na memória e ser apenas um ato imaginário. Não era! A terra aparou mesmo!

Carros não passavam lá na ponte, a policia estava quieta no quartel, o padeiro nosso vizinho estava quieto em casa, a linda menina lá da fazenda dos Caminotes não passou para ir à escola. Na igreja o Padre Chiquinho não fez o sino badalar, dona Sãozinha não foi lecionar, no FSESP o doutor Ozeias nem apareceu, o Chaquib e o Agenor não se encontraram para um bate papo. O Nilson Carecão não foi costurar, o Dadá, Chico Felix, Arnô Coelho, Eliedes Henriques, o Corinto e dona Marta não abriram os seus comércios...

Mas... Meu pai que sempre foi homem madrugador para cuidar do cultivo da terra, foi me acordar justamente nessa hora e então descobri que era apenas um sonho e lá vamos nós começar um novo dia...

André Almeida
Enviado por André Almeida em 27/03/2017
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