O ENCONTRO DAS PULGAS

Zizinha é uma pulga de 6 meses. Conheceu seu atual habitat Rex quando o mesmo estava passeando na rua e pelo simples fato de ver uma cachorrinha no cio balançando o rabo foi atrás. Tentou se aproximar em meio a concorrência de outros dois cachorros e o trânsito de pessoas, carros, motos e caminhões.

Deu tempo apenas para duas cheiradas. Neste curto tempo Zizinha pulou de Tina para Rex, um vira-lata que tinha casa e o dono, mas vivia livre na rua, latindo e passeando. Um cachorro que não avançava em ninguém, a não ser que tentassem entrar na casa da sua dona quando ele estava preso.

Zizinha passeava livre por dentro dos pelos pretos de Rex. Tinha centenas de pulgas ali, mas cada uma tinha seu espaço. Podia passear a vontade e já tinha passado por poucas e boas. Quando ainda inexperiente quase foi lançada para fora de casa por uma patada na hora de uma coçada de Rex. O sangue dele é uma delícia. As pulgas fazem turnos para as refeições senão ele fica uma arara e não para de se coçar. É o terremoto das pulguinhas. Zizinha já testemunhou muitas "expulsões". E depois para arrumar outra casa?

Certa manhã de sol quente, logo depois de ser acordada pelos latinos de Rex que corria atrás de uma moto, subiu para as costas dele para ver o que estava acontecendo. Rex freou. Ele foi atraído por um cheiro de cadela. Era uma poodle fugitiva da mansão do Dr. Pereira, um médico famoso do bairro. Ela era vacinada, tinha pedigree, uma coleção de roupinhas e portava uma correntinha banhada a ouro no pescoço e um pingente com as letras esculpidas no metal: Chiquinha.

Rex ficou doido, chegando de língua para fora, babando e sem latir. Foi logo metendo o focinho no rosto da Chiquinha. Durante a rápida apresentação, ouviu-se Joana, esposa do doutor, gritando a 50 metros de distância: _Peguem a Chiquinha! Pequem a Chiquinha, ela pode ser atropelada. Chiquinhaaaaaa, vem com a mamãe.

Com seu ouvido afinado, ela ouviu a voz de Joana e ficou parada, enquanto Rex ficou olhando.

_Sai daqui seu vira-lata, gritou a ciumenta Joana para o Rex.

Quando Rex estava descendo da calçada em direção a rua alguém pulou 50 centímetros de distância nos seus pelos.

Zizinha estava próximo do pescoço de Rex, que não usava coleira, quando percebeu que o "hotel" tinha acabado de receber mais um hóspede. Era Zico. Era especializado em morar em gatos, mas foi se aventurar há 3 semanas em Chiquinha, sua primeira cachorra, fascinado com a beleza e macies dos pelos.

_Que salto hein, sou Zizinha.

_Quase não deu tempo, sou Zico, muito prazer, disse meio sem graça.

_Seja bem-vindo. Rex é maravilhoso.

_Estou há dias esperando esta oportunidade para mudar.

_A poodle é uma gracinha, elogiou Zizinha.

_Concordo, mas eu não estava aguentando a tal Joana.

_Porquê?

_Mania de limpeza. Eu quase morri por três vezes vítima daqueles banhos e tosas. Em três semanas, três quase-mortes. Eu perdi muitos amigos.

_Como você se safou?

_Milagres! Uma vez me escondi dentro da orelha. Na outra, quase me afoguei, e fui descoberto dentro da orelha da Chiquinha e a funcionária do pet shop perseguiu com aquele secador maldito.

_Faltou mais uma, não foram quase 3 quase-mortes?

_Ah! Sim, a última vez foi ontem. Ela comprou um talco antisséptico perigoso. Ele é cheiroso, mas depois lança uma substância. Seus pelos ficam iguais aquelas câmaras de gás que os nazistas usavam nos campos de concentração. Vai matando por asfixia. Perdi meus amigos Toti e Lulinha e mais dez pulguinhas de uma vez só.

_Rex não toma banho há séculos, só de chuva. Seus donos nunca compraram este tal de talco assassino ou sabonete do gênero e nunca passou nem na calçada de uma pet shop.

_Aprendi a lição Zizinha.

_Cachorro de rico, estou fora Zico.

_hahaha, mas aqui, o sangue do Rex é gostoso?

(fim).

Anderson Heiz
Enviado por Anderson Heiz em 27/01/2017
Reeditado em 27/01/2017
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