Canções de Guerra - Capítulo 3

---Capítulo 3---

Era uma grande distância dos vales nas serras até as fronteiras no norte, onde ocorriam os conflitos. Grande parte das terras por onde serpenteava a estrada eram campos, terras sem domínio, muitas vezes ocupadas por alguns acampamentos de andarilhos e nômades que não ofereciam tanto perigo para a comitiva. Mas outras vezes passavam por outros vilarejos e cidadelas os quais foram palco de recentes batalhas contra os bárbaros, com cenas hediondas de campos de batalha vistas agora de perto, cidades arrasadas e incendiadas, e seus habitantes dizimados completamente.

Era um árduo caminho nessas terras sem fim e a visão da batalha cada vez mais próxima entristecia a cabeça dos soldados, que se sentiam solitários e deprimidos, a ponto de desistir da investida. Até seus senhores eram afetados pela estrada, lhes ocorriam o quão seus povos sofreriam no caso da batalha ser perdida. Não deveria ser dessa forma, precisavam encontrar uma forma de recuperar as energias e a vitalidade das tropas, de modo que não perdessem a guerra antes mesmo de desembainhar espada alguma.

Viajaram ainda algumas horas, até que adiante na estrada foram vistas assomando à distância, ruínas de outro lugarejo devastado pelas guerras, dessa vez um núcleo de comércio da região, por onde passavam mercadorias de todos os gêneros. Parariam por ali aquela noite e montar acampamento. Três batedores foram enviados para vasculhar os armazéns em busca de alimento e água, e mais dois por turno de vigilância contra ataques surpresas vindas de povos ciganos.

As tendas principais dos dois líderes da comitiva cercadas de muitas pequenas barracas simples circundando uma fogueira de madeiras das casas destruídas era o acampamento das tropas. Fora montado onde antes parecia ser uma praça ou um pequeno parque no centro da cidadela, com vários edifícios de madeira antiga que deveriam servir para estocagem, ao longo da rua viam-se também pequenas casas rústicas que agora, com portas e janelas quebradas, não abrigariam mais comerciante ou forasteiro algum. A não ser pelos pequenos animais que corriam e se escondiam nas sombras não se via vestígio nenhum de vida naquele lugar.

Era um cenário digno de admiração, as construções projetavam sobre o acampamento penumbras leves da preguiçosa luz da lua crescente e a volumosa fogueira no centro iluminava as fachadas mais próximas com uma luz quente e amarelada, era noite sem nuvens, mas mesmo assim, fazia frio intenso obrigando os soldados a se aglutinarem mais próximos da fogueira. Bebiam para sentirem-se melhores por estarem naquele lugar e cantavam canções heroicas, que falavam de batalhas épicas e bravos guerreiros que fizeram história e dos quais hoje são cantadas as memórias. Como os guerreiros das canções eles marchavam para a batalha e, do mesmo modo, queriam fazer história, os bardos cantariam seus nomes e dariam forças para mais hordas de soldados desacreditados como eles hoje estavam.

Lentamente as canções foram morrendo no ar gelado, aos poucos foram para suas barracas, a fogueira foi reduzida a brasas incandescentes e outra vez a escuridão mortal tomou conta da cidade, relembrando o que acontecera naquele mesmo lugar dias atrás. O lugar nunca esquece.

Leonardo Nali e Gabriel Piassi Tosi
Enviado por Leonardo Nali em 09/05/2016
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