O Pequeno perguntador

Tão pequeno era aquele garotinho para inúmeras interrogações!

Sua cabecinha ruiva coçava e seus olhos pretos embaçavam. Suas mãozinhas, indecisas, revezavam na tentativa de arrancar-lhe o couro cabeludo e esfregar-lhe os olhos esbugalhados.

Ele fazia muitas perguntas a qualquer adulto que estivesse por perto. Começou com seus pais... Se a televisão estivesse ligada, já sabiam que viria uma chuva de “porquês”. Achavam que a curiosidade do garoto era coisa de criança e, impacientes, davam qualquer resposta.

Na escola, ele observava e escutava atentamente as conversas alheias e quando aparecia alguém que ele conhecia, já não mais conseguindo conter a coceira na cabeça e nos olhos, disparava as perguntas. Essas últimas, ainda eram sobre história, geografia e mais conteúdos escolares.

Logo o garoto aprendeu a ler! Foi admirado por professores e alguns alunos, por ter aprendido tão rapidamente. Com isso, suas dúvidas aumentaram e suas insuportáveis coceiras também.

Certo dia, na sala de aula, o menino que perguntava demais estava assistindo a um vídeo, curta-metragem sobre o livro “Zoom”. A professora fitava-o com espanto, pois o menino coçava tanto a cabeça e esfregava os olhinhos que lhe dava aflição. Porém, em seus olhos surgia um brilho fantástico a cada explicação dada na projeção que tomava conta da parede.

Terminada a aula, a professora pegou o pequeno perguntador pelas mãos e o guiou pelos corredores da escola. Pararam em frente a uma porta enorme onde tinha um aviso: “Só entre se tiver coragem”!

O garoto sentiu arrepiar-lhe o corpo todo e um medo acompanhado de sua familiar coceira incontrolável na cabeça. Ele apertou a mão da professora e disse:

“Vamos entrar?”

Ela soltou a mão dele respondendo:

“Entre sozinho. Daqui para frente é com você!”

O perguntador queria fazer muitas perguntas antes de abrir a porta, mas a professora deu-lhe as costas e seguiu pela escuridão do corredor.

Trêmulo, ele então encheu os pulmões de ar, estufou o peito e de olhos fechados, empurrou a porta. Contou até três e abriu os olhos. Não podia acreditar no que estava vendo! Estava entrando em um labirinto!

No primeiro caminho que escolheu, encontrou elefantes, unicórnios e até um dinossauro. Correu para outro caminho! Deparou-se com personagens dos contos de fadas e uma bruxa lhe ofereceu uma maçã! Então percorreu por vários lugares no infinito corredor, e quanto mais caminhava, mais pessoas encontrava. Se chocou ao presenciar a morte de Sócrates tomando cicuta! Mudou o caminho e chegou a tempo de aplaudir a inauguração da casa verde do Dr. Bacamarte. Chorou ao ver Joana D’Arc ser queimada na fogueira. Em seguida, ouviu uma declamação no passadiço ao lado que o atraiu e o fez se perguntar “por que aquele cara chamado Hamlet não tinha certeza das coisas?”

A sirene tocou! Hora de ir embora. No caminho para porta, encontrou um pequeno príncipe que ofereceu uma flor ao perguntador. Na saída, olhou para o teto e leu a mensagem que piscava em luz de led: “Você foi muito corajoso. Volte sempre à nossa biblioteca”. Ele sorriu e acenou para os novos amigos que acabara de conhecer.

Michele Valverde
Enviado por Michele Valverde em 08/05/2016
Reeditado em 02/03/2017
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