A Academia - Final.

Klyce suspirou, se virou para Felicya:

- Não vou deixar nenhum de vocês me parar, eu estou literalmente perto do meu objetivo. - Klyce se aproximou com dificuldade, estava cansado e ferido.

Felicya segurou o colar, que brilhou intensamente:

- Você não vai machucar nosso filho! - Gritou.

Klyce rangiu a testa e antes da mulher conseguir fazer qualquer coisa ele bateu as duas mãos no chão, gastando todo o vestígio de energia que restava em si, seria seu fim.

Felicya arregalou os olhos mas era tarde para qualquer reação, ela, as paredes, o chão, o teto, a proteção em frente a Patri e o próprio garoto, todos estavam completamente congelados.

Klyce caiu de joelhos, estava esgotado:

- Acabou... - Estava sem fôlego, mas levantou, tinha que dar um fim em tudo aquilo.

Caminhou até o muro que bloqueava Patri, o muro criado por Felicya, de madeira e planta, agora congelado e com um chute destruiu transformando-os em cacos, o garoto estava atrás, congelado com os punhos cerrados, Klyce o contornou e caminhou até a sala da estrela.

Esta estava apagada, ele havia destruído a estrela que fornecia energia a toda a Academia, afim de destruir a proteção, sorriu e seguiu adiante.

E lá estava, seu objetivo, as sete portas do caminho.

Ele suspirou e se dirigiu até a última porta, a porta do reflexo, abriu e entrou determinado.

Capítulo 34 - Klyce.

Algo inexplicável estava acontecendo a ele que se autointitulava Deus, ele precisava fazer algo a respeito.

Caminhava sozinho pelo castelo, todos os servos haviam saído como ordenado.

Andou até o jardim nos fundos, nos limites de Terra Nova, além de todas as fronteiras.

No centro um altar vazio, feito de pedra, era feito e gasto, e já havia sido utilizado séculos antes dele mesmo estar ali, antes dele nascer.

Retirou a coroa transparente da cabeça e repousou-a ali, pouco a pouco sua aparência retornava a ser a dele mesmo, retornava a ser o que as pessoas chamavam de Homem de preto.

Ajoelhou na beira de um lago e se viu naquele reflexo, pálido, os cabelos pretos quebradiços, nada como um Deus.

Ergueu-se e se concentrou naquele sentimento que o perturbava a algum tempo, um sentimento novo, um leve desespero...

Era como se um pedaço dele, pequeno mas significativo, não estivesse mais ali onde deveria, no começo não era difícil ignorar, ele sempre atarefado em dominar Atelavida e iniciar uma guerra há tanto prometida, mas com o tempo o sentimento foi crescendo e tomando conta dele.

Ergueu as mãos para o céu, este escureceu completamente.

O homem no luar, o céu escuro começou a gritar, raios amarelos tomavam conta de tudo.

Fechou os olhos e num estampido foi transportado dali.

Estava em Nero Cidadela, onde o pequeno pedaço que lhe faltava estaria, seria o fim de sua humanidade.

Caminhou lentamente até uma pequena cabana no meio de um campo extenso, longe da cidade:

- É aqui. - Disse para si.

Caminhou até a porta, abrindo-a com cuidado, pediu licença irônico.

Ela estava ali, mais linda do que nunca, a pele branca estava levemente corada, parecia doente... Fraca... Estava sentada numa cama e nos braços...

O coração de Klyce acelerou de uma forma violenta, e em poucos segundos milhões de coisas passaram pela cabeça:

- Meu filho... - Sussurrou para si.

Aquele bebê, o pedaço que lhe faltava estava nos braços de sua amada, ele não tinha palavras para descrever o que estava sentindo, se colocou a caminhar devagar, porém algo o atrapalhou.

Um homem forte segurada uma espada, diante dele com a cara fechada.

Klyce foi cortado da realidade, e com desprezo fitou a criatura:

- E você é? - Perguntou com ódio àquele que interrompia aquele momento.

E a criatura lhe disse talvez a única coisa que lhe tiraria do sério naquele momento:

- O pai da criança. - Respondeu Logan.

Klyce num impulso de fúria jogou um raio, afim de obliterar completamente o homem, porém os sentimentos confundiram seus sentidos, e ele acertou a perna do infeliz, que foi ejetado do local onde estava, berrando de dor, sangue foi espalhado por todo o lado.

A criança começou a chorar desesperada, Felicya a colocou num berço e se virou contra ele, correndo para auxiliar o homem caído.

Porém Klyce estava em êxtase:

- Não pretendia fazer isso com ele... - Disse irônico novamente. - A criança é linda igual a mim.

Se aproximou:

- Você não tem o direito de estar aqui! - Gritou Felicya.

Klyce sentiu vontade de responder mil vezes, com mil argumentos diferentes, mas se conteve.

Se aproximou e pegou a criança no colo, era quente como nenhuma outra, sentiu dentro dela o poder de uma estrela, incandescente, incontrolável:

- Você é poderoso... Nos veremos novamente. - Disse para Patri.

O homem vociferou atrás:

- Pela Ordem de Deus eu ordeno que saia daqui!

Klyce riu por dentro, ele era o Deus da Ordem que o "pai" acreditava piamente, pobre coitado.

Prometeu que não voltaria, e assim o fez.

Saiu dali com um novo sentimento, não mais angustiado porém não havia cumprido sua missão, não havia expurgado sua humanidade da Terra, Felicya estava viva e agora com um filho deles.

...

- Me mostra... - Pediu Felicya.

- Vou lhe contar tudo... - Prometeu a ela.

Andaram por muito tempo por Atelavida até um castelo de mármore, onde as pessoas pareciam ignorar o casal:

- Ninguém nesse lugar me reconhece dessa forma. - Disse Klyce enquanto adentravam o palácio. - Pessoas entram e saem daqui a todo momento.

Felicya com os punhos cerrados seguia seu antigo amor sem entender, Atelavida parecia maior a cada visita:

- Você se lembra da coroa que pegamos dentro da caverna, próxima a cidade dos Dwarfs? - A moça confirmou com a cabeça.

Andaram até uma porta de pedra, pesada que marcava o fim do palácio.

Klyce tocou com as mãos e a porta se moveu lentamente, do outro lado um jardim imenso, era lindo, o lugar mais lindo que Felicya havia visto em toda vida.

Caminharam até o centro do jardim, onde uma coroa transparente estava sobre um altar de pedra:

- Eu restaurei a coroa. - Disse Klyce mostrando-a.

- E o que isso tem a ver com a torre da estrela? A cor escarlate? O que tudo tem a ver com essa sua obsessão?

- Existem mais doze dessa. Coroas, armas, fragmentos do espelho, espalhados por toda Terra Nova, cada rei e rainha possuí um deles. - Disse calmo pegando na coroa.

Felicya prestava atenção, estava prestes a retomar sua luta com ele, sua irmã...

- Eu o vi... Eu vi O Espelho de Menkauhor...

Felicya sabia do que se tratava, na caverna Klyce havia dito do décimo terceiro rei, banido há milhares de anos, mencionou os fragmentos do espelho que cada rei possuía, mas não havia dito nada disso.

O Espelho de Menkauhor, era um conto antigo, hoje uma lenda contada para crianças, para ensinar quando que ambição se torna ganância:

- Não pode ser. - Disse. - Já disse que não acredito que tudo que você segue é baseado em uma história para criança...

Felicya virou de costas, porém antes de sair sentiu uma aura imensa invadir o local, um poder inexplicável, se virou e no lugar de Klyce, uma figura divina estava ali, os cabelos e olhos incandescentes, flutuava enquanto fitava ela nos olhos.

A moça caiu de joelhos e levou as mãos até a boca, a figura retirou a coroa e pouco a pouco tornou a ser Klyce:

- O espelho de Menkauhor, não se sabe muito dele, a não ser que pertenceu a um grande e único rei Antigo. - Disse Klyce. - O espelho dava poderes inimagináveis a esse rei, o poder de separar o céu da terra, o poder de criar oceanos e nomear-los como bem entende.

Klyce pousou a coroa na pedra novamente, que se tornou transparente:

- Esse rei governava nós... Os homens, sem piedade, sem escolha. Nós éramos prisioneiros desse poder...

- Por que alguém com esse poder faria isso? - Disse Felicya sem entender.

- Por que não faria? - Disse Klyce alisando a coroa. - Ninguém sabe o que o atingiu, mas esse rei perdeu a majestade e entrou num sono profundo, o espelho sumiu e durante bilhões de anos foi esquecido.

Felicya franziu a testa:

- Bi-Bilhões? - Klyce sabia o que todos aprendiam, sobre a quanto tempo o mundo existia, e não chegava nem perto dessa estimativa.

E continuou:

- O que eu sei dessa história é pouco, os homens foram libertos, conquistaram o mundo inteiro, tomaram para si aquele mundo daquele rei, eles se tornaram seus próprios reis, e durante muito tempo prosperaram. - Klyce dizia isso como se lembrasse daquela época, o que era impossível.

- As histórias desse antigo rei foram esquecidas, cada vez menos pessoas acreditavam nelas, até ser extinta. Os recursos de suas terras estavam se esgotando, porém os homens sempre ambiciosos nunca pararam, atingiram os céus, a terra, tudo... Até a água acabar, o que foi o início do fim.

Felicya havia sentado, era demais para ela tudo aquilo:

- Não sei ao certo em qual ponto os homens descobriram a existência delas, mas demorou até realmente chegarem até lá. - Klyce apontou para a estrela polar. - Esse foi o ponto de virada.

- As estrelas... - Felicya disse para si, compreendendo.

- Nós alcançamos as estrelas... Quando isso aconteceu, não demorou para nosso mundo inteiro mudar Felicya.

Felicya olhou no fundo dos olhos de Klyce, sabia o que ele estava dizendo:

- As estrelas começaram a nascer entre nós, abençoadas, isso possibilitou os Dwarfs, as Fadas, toda magia e beleza foi restaurada, a água voltou! - Klyce aumentou o tom de voz.

- Porém a ambição dos homens não permitiu a felicidade, não eram todas as pessoas que possuíam o dom das estrelas, os ricos e poderosos não eram abençoados com essa magia, e foi quando surgiu um laço entre todas as nações... Os homens de branco surgiram, com o intuito de ter a magia das estrelas para eles.

...

Patri acordou do que pareceram horas de sono, estava com frio e uma voz suave o acalmava:

- Que bom que está vivo... - Disse Felicya aliviada. - Fiquei muito preocupada.

Patri abraçou a mãe com força:

- O que aconteceu? Deus está morto? - Perguntou Patri.

- Ele não é deus nenhum filho, e não... Ele não está morto. - Disse olhando para dentro. - Vem.

Patri levantou e seguiu sua mãe, que adentrou a sala da estrela:

- Está apagada... - Disse Patri olhando para cima.

Felicya suspirou:

- Ele destruiu a proteção da Academia... - Disse. - Ali.

Felicya apontou para a porta do reflexo que brilhava intensamente, correram até lá:

- Vou entrar! - Disse Patri colocando a mão na maçaneta, porém a porta o expeliu para fora. - Merda! - Disse.

- Você já concluiu seu treino... Klyce não havia concluído o dele, propositalmente. - Disse Felicya entendendo tudo. - Ele vai destruir tudo...

Patri percebeu que não era desespero na voz dela, parecia... Esperança:

- Precisamos sair daqui, não sei qual reação isso irá causar. - Disse Felicya olhando para a porta que brilhava cada vez mais.

Patri obedeceu e correram para baixo:

- Vamos tirar todos daqui. - E pouco a pouco, Felicya e Patri tiraram todos os feridos e desacordados de dentro da Academia, levando-os até o campo do lado de fora.

Sentaram cansados:

- Só nos resta esperar... - Disse.

Patri consentiu, e ficaram ali, apenas os dois durante muito tempo:

- Quero que me conte algo filho... - Disse Felicya abraçando o garoto que não via desde recém nascido. - O que você viu quando entrou naquela porta?

Patri fitou a mãe, sabia o que ela queria saber, só não sabia como explicar.

...

Klyce continuou:

- Mas como eu disse, o poder da estrela era para poucos, as criaturas místicas não possuíam esse poder, e apenas poucos homens e mulheres nasciam dessa forma. - Disse retomando o raciocínio.

- Os homens de branco... - Repetiu Felicya.

- Sim. Eles recrutaram uma estrela para eles, alguém que foi manipulado, alguém que como todos nós está suscetível a erros. Criaram desde criança, ensinaram, doutrinaram, e ele se tornou o primeiro de seu nome. - Disse Klyce.

- O primeiro? - Disse franzindo a testa.

- O primeiro Magician. Alguém capaz de extrapolar a aura da estrela internamente, manipulando e criando elementos, alguém que podia chegar aos pés do Rei Antigo.

Felicya abaixou a cabeça, ele continuou:

- O primeiro Magician não foi o culpado, ele fora manipulado pelos homens de branco, homens que dominavam todo o conhecimento de sua época, estes homens vestiam branco pois se diziam donos de todas as cores. - Klyce agora tinha pesar em sua voz. - Foi quando eles, junto do primeiro Magician, encontraram as sonhadas portas do Caminho.

- Portas do Caminho? - Perguntou.

- Sim, essas portas do Caminho eram capazes de sozinha criar diversos Magicians, pessoas capacitadas e poderosas, estrelas doutrinadas. E assim foi.

- Existe algo assim ainda hoje? - Perguntou Felicya, Klyce fez sinal para a moça se calar.

- Não vou direto ao ponto, não é esse o objetivo. - Disse.

Ela concordou:

- Eram seis portas, e elas ensinaram a diversas estrelas o poder da Terra, Água, Ar, Fogo, Luz e Escuridão... E ficaram poderosas, porém isso não dava o real poder aos homens de branco, e não foi o suficiente. - Felicya começava a entender.

- O mundo mudou completamente com os Magicians, eles por si só perceberam o que queriam esses homens de branco e elegeram um líder próprio, a Escarlate.

Felicya arregalou os olhos:

- Escarlate foi a Magician mais poderosa que existiu e liderou um ataque aos homens de branco, mas por algum motivo não foi o suficiente. O último homem de branco sequestrou Escarlate e obrigou todos os Magicians se unirem em pró de uma causa. - Disse.

- Qual? - Felicya estava agora empolgada com a história.

Klyce sorriu:

- Juntos, todos os Magicians para salvar Escarlate obedeceram o último homem de branco, e encontram ele... - Disse.

Felicya completou:

- O espelho...

- Sim. - Disse Klyce. - O espelho, com ele o último homem de branco destruiu todos os Magicians e trancou Escarlate em algum lugar, desconhecido até hoje.

- A esquecida Escarlate... - Disse Felicya para si, Klyce continuou.

- O último homem de branco reinou sobre os homens, criando um reino só para ele, Atelavida. Todos os seres mágicos decidiram se separar dos homens gananciosos, e assim foi divida a Terra, entre Antiga e Terra Nova. - Klyce estava sério agora.

- Terra Nova tinha Atelavida como capital, e o último homem de branco reinou soberano, todos os doze reis se reuniram com o soberano e fizeram um acordo, os doze reis prometeram que ensinariam o soberano a guardar o espelho em troca de um pouco de poder, o soberano aceitou pois ele se tornaria um Imperador.

"E foi assim que os doze reis com todo conhecimento roubado criaram uma porta artificial, uma porta transparente, uma porta do caminho que guardaria o espelho, o último homem de branco não cumpriu sua parte do trato, o poder estava enlouquecendo-o, algo que ele não havia lido nas antigas escrituras, e com sagacidade os doze reis partiram o espelho num golpe, e pegaram para si pequenos fragmentos, o máximo que aguentariam, pois o fardo era pesado demais."

- Pegaram o maior fragmento dos treze que haviam caído do espelho partido e enterraram na cabeça do último homem de branco, numa coroa pesada demais, que enlouqueceria o velho completamente, como num hospício feito por reis loucos. Os doze reis separam Atelavida de seu reino, tornando um lugar sem soberano, fundaram a Academia afim de ter um lugar seguro para residir as portas, e reinaram por séculos. - Klyce terminou se levantando.

- E agora você quer esses fragmentos para si? Começando com o fragmento do último homem de branco? - Disse Felicya.

- Essa coroa é pesada demais para um homem, mas eu não sou um homem Felicya, algo que os doze reis não contava aconteceu, as estrelas tornaram a nascer novamente, Lisa é uma delas porém está vivendo uma ilusão... Eu sou a estrela mais forte em milênios, o espelho não me atrai, o espelho não me venceu, e nunca vai me vencer... Eu vou destruí-lo

- Quem lhe contou tudo isso? - Perguntou Felicya.

...

- Mãe... - Disse Patri. - Eu vi eu mesmo lá dentro... Mas de um jeito diferente...

- Me conte... - Disse Felicya.

- Um espelho quebrado e lá dentro eu estava parado, e disse muitas coisas para mim mesmo, sobre você, sobre meu pai... Mas eu fui perdendo as forças e entendi o que era aquilo... - Disse Patri fitando a torre da estrela de longe.

Felicya abaixou a cabeça:

- Eu entendi que aquele espelho me diria tudo que eu precisava saber e mais, mas eu teria que aguentar a verdade de frente, mas é pesado demais... Literalmente, e eu não resisti muito tempo, não quis... Foi quando a porta abriu e eu sai. - Patri era honesto com a mãe.

Felicya entendeu, Klyce aguentou o máximo que pôde, o espelho lhe mostrou o reflexo de tudo que havia acontecido, pois o espelho estava lá em todos os acontecimentos.

Um barulho alto surgiu da torre da estrela, a Academia começou a desabar de baixo.

Nesse momento os alunos e professores começaram a acordar aos poucos:

- O que está acontecendo? - Perguntou Patri para a mãe.

- Acho que ele conseguiu... - Disse.

Os blocos caíam pouco a pouco, até toda a Academia estar desmoronada, sobrando apenas as sete portas do caminho, no centro sobre os escombros.

As pessoas acordavam, resmungando de dor, todos paravam e olhavam a cena da Academia desabando.

Logo tudo estava no chão, no centro uma figura cadavérica se levantou, os poucos cabelos que haviam sobrado estavam brancos, marcas de expressão fortes no rosto:

- Um velho? - Perguntou Patri sem entender.

Felicya levantou e correu sozinha até o centro dos escombros, a tempo de ver as portas desabando, cada uma sendo consumida por seu próprio elemento, o velho estava de joelhos e chorava:

- E-e-eu... Consegui...

Fim.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 03/05/2016
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