A Academia - Capítulo 23

O espectro negro carregava a coroa do Reino do Rei nas mãos enquanto caminhava entre o exército:

- E então? - Perguntou Deus sem olhar para ele.

O espectro ergueu a coroa e entregou a seu senhor:

- Com esse temos 3 dos 13 fragmentos. - Lembrou o espectro.

- Derrubamos apenas dois reinos, temos dez outros pela frente. - O general Fantasma disse impetuoso ao lado de Deus, o espectro recuou fazendo uma reverência a ambos.

- Fantasma, quero você liderando o próximo ataque ao lado do espectro, demoramos muito pra derrubar o Reino da Flecha. - Ordenou Deus. - Não vou lutar, não ainda.

...

Capítulo 23 - O último dos elementos.

Cecilia encarou Lisa, não conseguia projetar o que a companheira faria naquela situação, pressionada por um aluno novamente:

- Me diz! Pessoas estão morrendo enquanto estamos nessa torre trancados! - Patri não tinha mais controle de suas emoções, sua energia aflorava por toda a sala.

Lisa sentiu aquilo e caminhou com calma em direção do garoto enquanto inflava sua própria aura, fazendo sua energia engolir a do garoto, tomar o ambiente:

- Se não nós, quem vai parar essa guerra! - Gritou o garoto, se calando ao sentir a energia de Lisa crescendo.

Os móveis começaram a vibrar com a energia de Lisa, até estremecerem, a sala começou a escurecer.

A energia dela só crescia, sem limites aparentes, os ventos lá fora começaram a chacoalhar toda a torre:

- Lisa! - Gritou Cecilia, mas a mulher não deu ouvidos.

A aura cresceu até Patri não ser capaz de ficar de pé, caindo de joelhos, o garoto suava frio.

Conforme crescia sua aura, tomava forma mesmo sem se enxergar, cheiro sem poder cheirar e o calor e poder de Magician era imposto naquele ambiente.

Lisa era imensa naquele momento, nada no mundo fosse grande como ela naquele momento, Patri lembrou do medo que sentia dos raios, aquilo estava com certeza no mesmo patamar.

Lisa respirou fundo, e recolheu a aura com a mesma velocidade que havia emancipado-a:

- Você não pode comigo, jamais poderá com o que está lá fora devastando reino a reino. - Disse seca.

Posso adiantar que Patri nunca mais se impôs a Lisa daquela maneira:

- Precisamos nos preparar, os reinos são capazes de defender-se... E se não forem, eles chegarão aqui... Preciso de você preparado pra isso. - Cecilia sentiu preocupação na voz de Lisa, talvez medo de Patri ser como seu pai?

- E por mais que os males da guerra chegue até aqui, preciso que prometa não sair da torre até concluir as portas, todas elas. - Disse saindo dali.

Patri continuou parado, ainda no chão assistiu Lisa saindo dali:

- E-e... E-e-ela é m-muito poderosa... - Disse o menino com dificuldade.

Cecilia sorriu mesmo com o clima tenso:

- Ela gosta de você... - Cecilia ajudou Patri levantar. - Você precisa descansar e continuar seu treino.

Levantou e foi andando com dificuldade até o quarto:

- Está esfriando... - Disse Patri.

- O inverno vai chegar em breve. - Cecilia olhava preocupada para a janela, imaginando se a guerra realmente chegaria até ali.

...

Dias se passaram e Mary já se acostumava ao lugar, Beth assim como tinha feito com Saturis recebeu a moça muito bem:

- E ai falou com a tal Affilia? - Perguntou Edwin para a amiga.

- Ainda não... Afinal não sei qual das duas é, imagino que seja Saturis... Mas não sei como aborda-la...

Mary ajudava a mestra e Edwin a ensinar a arte do arco e flecha, furtividade a alguns muitos alunos que se interessaram, a fim de se preparar para a guerra sem que eles soubessem:

- É de suma importância não criar pânico. - Alertava Raffaiet sempre que possível.

Àquela altura as notícias de ataques eram constantes, um por um os reinos eram atacados e seguravam o exército sombrio de Deus que avançava com sede reino a reino.

Por outro lado na Academia não se fala em outra coisa se não o baile de inverno:

- Eu já tenho uma máscara lindaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! - Gritava Beth pelos corredores.

- Eu acho que não preciso de máscara. - Ironizou Saturis que estava sempre com o rosto pouco a mostra.

- Você vai participar? - Perguntou Callel a Mary que acompanhava o grupo.

- Não sei, fui convidada diversas vezes não só por vocês... - Disse Mary realmente pensando no caso.

- Vem sim, vai ser divertido! - Catherine estava distante do grupo, não era de seu feitio assim como Ferni.

- Catherine tem estudado muito, mas mesmo assim ela vai, vamos todos! - Beth enfatizava as palavras enquanto puxava e empurrava Mary que ficava sem graça com aquilo.

- Ok! - Sorriu para o grupo acolhedor.

Todos vibravam, Ferni acompanhava eles um pouco de trás, enquanto lia.

Ferni se dedicava aos estudos, pois tinha certeza que Patri estava fazendo o mesmo, e por mais que sentisse falta dele não subiria, não iria atrapalha-lo.

O clima estava diferente ali dentro de todo o resto de Terra Nova, o frio anunciava sua chegada com uma garoa fina e a Academia era decorada para o baile que aconteceria em breve:

- Preciso que alguém me ajude com as roupas... Eu meio que nunca me vesti bem. - Disse Mary sem graça.

- Pode deixar conosco! - Disse Beth puxando Saturis que nem havia dito nada.

...

"Se não nós, quem vai parar essa guerra." Lisa pensava nas palavras do garoto:

- Definitivamente ele é diferente do pai. - Disse para Cecilia.

Cecilia olhou séria para Lisa, que continuou:

- Klyce era... Klyce não se preocupava com nada a não ser seu próprio treinamento. - Lembrou Lisa.

- E Felicya. - Completou Cecilia. - Ele se preocupava com a Felicya.

Lisa suspirou:

- Me pergunto se é ele que lidera esse exército que marcha contra nós. - Lisa sabia que Klyce estava envolvido nisso.

- Eu me pergunto onde Felicya se enfiou... Precisamos dela... - Cecilia era honesta consigo ao dizer aquelas palavras. - De toda terra dos homens, ou como vocês chamam "Terra Nova", você e Felicya são as únicas que sempre acreditei.

- Eu acreditava em Klyce... - Disse Lisa virando o rosto.

Os olhos de Cecilia se encheram de lágrimas:

- Quando a hora chegar, o que você vai fazer? - Perguntou Cecilia se segurando para não chorar.

- Eu vou lutar.

...

Patri descansou por dias, precisava daquele descanso depois de duas portas seguidas, estava preparado.

Levantou decidido, vestiu-se e antes de sair do quarto fitou o colar de sua mãe, parado ali apagado... Lembrou como aquilo era importante pra ele, pegou-o e colocou no pescoço e sorrindo saiu do quarto, não ouviu sinal de nenhuma das duas.

Passou pela janela grande na sala da estrela e viu lá fora uma nuvem branca opaca tomando conta de toda a Academia.

Parou em frente as portas, estralou o pescoço e estendeu a mão sobre uma porta vermelha ardente, pôde sentir o calor dela exalando.

A porta se abriu.

Do outro lado, diferente de tudo que o garoto imaginara, estava uma sala vazia, era escura e a única coisa presente ali era uma cadeira central.

A cadeira era branca e Patri se dirigiu até ela, a porta desapareceu nas suas costas:

- Ok...

Rodeou a cadeira, percebendo na frente desta um cálice prateado com um pó dentro e uma carta ao lado.

Pegou a carta e leu "Acenda."

Patri sorriu, sentou na cadeira e segurou o cálice prateado nas duas mãos.

Se concentrou um pouco no que queria fazer e nada aconteceu, não conseguia fazer surgir fogo das mãos.

"Na verdade", pensou o garoto, "Eu não consigo fazer surgir nada"

De fato, o garoto aprendera a manipular terra, raízes e flores, por fim aprendera a manipular a água, com maestria diga-se de passagem, mas surgir... Surgir nada.

Colocou o cálice de volta no chão e levantou, não conseguia pensar parado.

Lembrou da aura da Magician, como ela conseguiu se impor só mostrando sua energia, e como parecia ter forma, cheiro e...

"Temperatura!" pensou estralando os dedos.

"Ela é capaz de dar forma, impor respeito e mudar a temperatura do lugar só com sua energia", Patri sentou novamente, pegou o cálice e concentrou sua energia nele.

"A prata e a substância de dentro irão me ajudar", concentrou mais sua aura, mais até que...

Um barulho imenso, o cálice explodiu de dentro pra fora, jogando Patri longe.

O conteúdo de dentro do cálice incinerou rápido demais, com a prata esquentando e fora o suficiente pra explodir.

Patri levantou, um pouco ferido e olhou a taça de longe.

Uma porta podia ser vista do outro lado da sala, não era como se ela tivesse aparecido de repente, mas como se Patri não tivesse notado-a anteriormente.

Ele avançou e abriu a porta, chegando numa segunda sala.

A mesma coisa, uma cadeira e uma taça, porém esta sem a substância de dentro.

"Ok", pensou. Sentou e com a taça em mãos concentrou a energia novamente.

Diferente do esperado, não foi mais difícil, a taça em pouco tempo se incinerou, dessa vez sem explodir, Patri largou a taça assim que ela pegou fogo por dentro, o calor das chamas produzidas por ele era nocivo como qualquer fogo.

"Bom... é mais fácil do que eu esperava."

Outra porta, Patri avançou.

Dessa vez estava escrito na porta: "Cuidado, último teste do fogo pode custar sua vida."

Franziu a testa e abriu a última porta.

Ficou de boca aberta com a cena.

Mais uma cadeira e mais um cálice de prata, maior que os anteriores, porém em volta a sala estava repleta de pólvora, como areia que iam até a cintura do garoto, que se movia com dificuldade.

A areia cinza era densa e Patri se moveu até a outra extremidade da sala pegando o cálice.

"Fazer fogo não é difícil..." Pensou, "O difícil é não morrer fazendo fogo, saquei."

Se concentrou, segurou o cálice e fechou os olhos.

Alguns segundos se passaram...

- Aaaaaaah! - Gritou Patri sozinho largando o cálice.

"É muita pressão!" Pensou para si se vendo soterrado naquela pólvora.

"Eu posso simplesmente me explodir."

Balançou as mãos rapidamente e a cabeça, tentando esvaziar a mente.

Fogo lembrava-o daquele dia em Nero Cidadela, a cidade inteira pegando fogo por conta dos raios...

Balançou a cabeça novamente com violência, "preciso pensar em algo bom".

Pensou em Ferni, os olhos esverdeados da garota que lia sem parar naquele corredor, no abraço deles, o beijo deles...

Pensou nos amigos da Academia, Beth, Callel, Catherine... Pensou em Raffaiet o professor incrível dali, pensou em como todos eles estavam a essa altura...

Pensou nos amigos de infância, Cardioti e sua coragem e fibra, Louis que sempre foi o melhor no combate e Mary...

Pensou em Logan... Pensou em sua mãe que nunca conhecera...

Felicya...

Fechou os olhos, segurou o cálice e se concentrou em sua própria energia, aquela chama azul que vira na bola de vidro da sala da estrela, ela fazia parte dele... Ela era ele...

A estrela polar...

Conseguiu sentir a estrela polar, não importa onde ele estivesse... Ele sentiria...

Sentiu a energia esquentando, controlou para não esquentar demasiadamente, sentiu o cálice esquentar dentre suas mãos, sentiu uma chama pequena brotar dentro do cálice, viu a porta vermelha surgindo.

Apagou.

A porta vermelha sumiu, a chama dentro do cálice se apagou.

Destruição, morte, os raios... Logan explodindo diante dos olhos, Nero Cidadela queimando inteira, os raios... Mary morta, Louis morto, Cardioti... Todos mortos... Sua mãe morta... Os raios... A guerra que se aproximava deles...

O corpo do garoto esquentou, esquentou... A sala inteira explodiu e ele foi tomado pelas chamas.

...

Mary e Saturis estavam no quarto de Beth com a garota, provando roupas que serviriam em Mary para o baile de máscaras:

- Definitivamente essa está perfeita. - Disse Beth.

Mary deu um volta e concordou, aquele era o vestido.

Um vestido azul escuro, não era de gala, era perfeito para qualquer ocasião, Mary nunca tinha visto uma roupa tão bonita:

- Eu ganhei alguns vestidos das garotas veteranas, depois do torneio que o Callel e o... - Beth foi interrompida pela própria Mary.

- Torneio? - A garota disse boquiaberta. - Isso é muito mais legal que baile.

E as três riram:

- Sim quem sabe você não está aqui para o próximo.

Mary agradeceu, tirou o vestido guardando-o e vestiu sua roupa:

- Agora só falta a máscara. - Disse sorrindo.

Sentia-se mal por estar bem mesmo dentre todos os acontecimentos:

- Temos uma semana ainda... Você consegue. - Beth sorriu e sentou na mesa da sala para comer algo.

As outras duas acompanharam-na:

- Eu estava pensando... - Disse Beth.

As outras prestaram atenção enquanto comiam também:

- Nenhuma de vocês estavam aqui quando aconteceu, mas creio que tenham conhecimento sobre...

Ergueram as sobrancelhas enquanto Beth continuou:

- Os raios foram uma realidade de todos nós por tanto tempo... - Disse Beth melancólica.

Mary abaixou a cabeça:

- Entendo você... - Disse Mary. - Perdi muito com isso.

Ficaram em silêncio um tempo até que Beth concluiu o raciocínio:

- Não consigo parar de pensar no raio que não caiu... - Beth foi honesta quanto aquilo. - O que parou aquele raio?

Mary tinha certeza, Beth não era Affilia, e nesse momento fitou Saturis, que percebeu que Mary sabia de tudo.

Mas ficou em silêncio, de olhos fechados:

- Com certeza algo fora do comum parou aquele raio, nunca tinha ouvido falar de nada igual até o acontecimento. - Disse Mary ainda olhando para Saturis, que permanecia em silêncio.

- Eu acho que foi um anjo que nos ajudou... Ou um deus... - Disse Beth.

Mary deu uma porrada na mesa:

- Foi justamente um deus que matou todos e está destruindo tudo! - Disse Mary ficando furiosa.

- Destruindo? - Perguntou Beth.

Saturis levantou e se virou para a porta:

- Não existe tal coisa como "Deus". - E saiu do quarto.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 01/04/2016
Reeditado em 01/04/2016
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