A Academia - Capítulo 21

O Reino do Rei combatia feroz os cavaleiros de Atelavida, esses cavaleiros antes pertencentes a Ordem de Deus sob o estandarte do Sol, agora sob as ordens de seu messias destruíam reino a reino:

- Vossa majestade precisamos do senhor no campo de batalha! - Suplicava um dos generais do reino do rei.

O reino do rei tinha como símbolo um leão branco, majestoso assim como todos os reis que já passaram por ali, exceto por Leorio.

Leorio era o atual rei, mas diferente de sua armadura que brilhava e transmitia grandiosidade, o Rei Leorio era covarde, uma vergonha para o reino, seus vassalos não tinham Leorio como o verdadeiro leão, pois Rei Leorio era ganancioso e não possuía o orgulho, a maior virtude de um rei do Reino do Rei:

- Por favor vossa majestade a população clama pelo poder do grande leão. - Disse o general, que não acreditava nas palavras que vociferava, Leorio estava embaixo da mesa, com a coroa em mãos.

Leorio nunca havia usado a coroa, pois não sabia das consequências, a coroa tinha como joia um fragmento do espelho, e todos que a colocavam eram obrigados a abrir mão de muitas coisas.

Rei Leorio sempre se gabava de seus feitos, se dizia o melhor combatente de todos os 12 reinos, e até mesmo de Atelavida, rei Leorio dizia que as riquezas eram tudo, e aqueles que não a tinham não mereciam a glória do Rei Leão, enchia o peito para dizer quantas riquezas sua filha Tessaria herdaria, e realmente, Tessaria herdaria tudo, menos a covardia do pai.

A princesa Tessaria entrou na sala, com o nariz erguido, silenciosa e majestosa, pegou a coroa das mãos do pai que permaneceu ali sem dizer uma palavra:

- General, estou assumindo o controle da situação. - Disse a nova rainha do Reino do Rei.

Capítulo 21 - Notícias dos ataques.

Mary adentrou a Academia com seus amigos, Raffaiet guiava os visitantes:

- Vou pedir para que mantenham segredo sobre Affilia, nós não divulgamos nenhum acontecimento afim de que ela se recuperasse em paz. - Pediu o professor Púrpura.

Mary consentiu:

- Bom, nós vamos dar uma volta pelo lugar. - Disse Edwin e a atiradora de Elite.

Raffaiet guiou Mary até o pátio central:

- Aguarde aqui vou me certificar do paradeiro de Affilia. - Disse ele.

A garota aguardou, durante alguns minutos olhou o lugar sem interrupções, pensando na possibilidade que lhe foi prometida, de Patri estar vivo e ali naquele lugar incrível.

A tristeza tomou conta da garota, "fui boba em pensar nessa possibilidade." Pensou.

Lembrou de quando imaginavam lugares como aquele juntos, onde aprendessem coisas novas, como queria que Patri estivesse vivo e soubesse o tanto que ela aprendeu nesse quase um ano.

Quase um ano que Nero Cidadela foi inteiramente destruída, quase um ano que ela havia saído dali quase morta, salva pelos atuais companheiros, quase um ano que fora apresentada a ira de Atelavida e seus raios, quase um ano que se juntou a causa do Reino da Flecha e treinou dia após dia.

Um sino tocou e alunos começaram a aparecer de todos os lados, Mary se destacava entre eles, suas roupas eram diferentes, e o arco e flecha nas costas chamava atenção de todos.

De longe pôde ouvir uma voz estridente, uma guria falava alto com seus amigos, estava de mão dada com outra garota, um pouco mais alta que ela, esta com vestes que cobriam todo o corpo e parte do rosto.

A guria menor parou diante dela, o grupo parou atrás:

- Olha, mas tem aparecido muita gente nova por aqui! - Disse. - Sou Beth!

Mary não esperava ser abordada por ninguém, mas foi simpática:

- Sou Mary, do Reino da Flecha. - Todos soltaram barulhos involuntários de espanto, Mary achou graça naquilo.

- Esta é Catherine, Callel, aquela tímida ali atrás é a Ferni, e essa é Saturis. - Beth apresentou os amigos. - Você irá estudar aqui?

Mary lembrou do professor Púrpura pedindo sigilo:

- Não, vim fazer umas pesquisas por aqui. - Respondeu Mary mentindo.

Saturis se colocou a frente e disse:

- Também sou nova aqui, se precisar de algo certamente eu e Beth podemos ajudar. - Mary notou a garota sorrindo, mesmo o rosto parcialmente coberto.

Ambas sorriram:

- Estávamos falando do baile de inverno que acontecerá daqui três semanas, seria legal ter mais gente envolvida! - Disse Beth.

Mary sorriu:

- Não sei quanto tempo ficarei, mas certamente se estiver aqui participarei, adoro bailes e festas.

- Pois é, o frio já chegou e logo a neve estará caindo por aqui, o baile está sendo organizado já e o tema foi escolhido. - Disse Catherine. - Eu particularmente adorei, será um baile de máscaras!

Mary por um momento conseguiu se desprender da realidade, olhando aquele salão imenso, imaginando-o tomado pela neve e pessoas mascaradas por todo lado, talvez ficasse para ver isso, tudo que fez nesse último ano foi treinar com o arco e flecha em meio as florestas, um pouco de diversão seria bom pra variar:

- Quem sabe...

Neste momento um porta bateu, e a professora Vermelha entrou correndo pelo pátio, passou pelos garotos e subiu as escadas, estava afoita, todos acompanharam em silêncio a movimentação:

- Estranho... - Disse Saturis.

Todos se entreolharam:

- O clima ta estranho, desde o último torneio e desde o cessar dos raios... - Disse Callel.

Mary ergueu as sobrancelhas, todos perceberam seu espanto:

- Você sabe algo sobre os raios? - Perguntou Beth.

Ferni começou a prestar atenção na conversa:

- Então... - Mary tinha dúvidas o quanto podia dizer, porém sabia que a Academia era o aliado mais forte de todos os reinos deste lado de Terra Nova. - Nós do Reino da Flecha nos preparamos há tempos para contra atacar.

Todos ficaram espantados, Saturis abaixou a cabeça e ficou em silêncio durante toda a conversa:

- Contra atacar? - Perguntou Callel com espanto.

- Os raios não são fruto do acaso. - Disse Mary convicta. - Há algum tempo que Atelavida invade cidades pequenas do lado de cá buscando soldados fiéis, seu exército cresce a cada dia com pessoas de toda Terra Nova, dizem que até além dela.

E continuou:

- Os raios são frutos do poder do líder deles, o Deus do Sol. Em busca de enfraquecer os reinos e destruir as pequenas cidades que desobedecem suas ordens, mesmo do lado de cá dos 12 reinos. - Mary tinha feito a lição de casa.

- Calma calma calma, os raios são fruto de um Deus? Líder de Atelavida? - Perguntou Beth boquiaberta.

- Atelavida junta é quase do tamanho da metade dos 12 reinos juntos. - Disse Ferni. - Não é uma batalha que podemos vencer.

- E eles recrutam pessoas de cidades pequenas de dentro dos 12 reinos, com promessas de moradia melhor, comida e a vida eterna. - Completou Mary.

Beth se lembrou de Saulo, amigo dela que se inscreveu de livre e espontânea vontade para a Ordem de Deus:

- Eles estão infiltrados em todos os reinos e não há nada que possamos fazer, não ainda. - Mary agora parecia preocupada. - Poucas pessoas sabem de fato o que acontece, nós do Reino da Flecha somos especializados em coletar informações do outro lado, mas é tudo muito nebuloso.

- De qualquer forma temos aliados não? - Perguntou Catherine.

- Sim... Alguns reinos são mais difíceis do que outros, Reino da Dualidade, Reinos Separados e principalmente o Reino da Lei... - Mary havia visitado alguns deles. - Mas com certeza a Academia é um aliado forte.

Todos ali já ouviram falar dos grandes feitos dos professores dali:

- Não temos chances... Os raios... Presenciei o poder deles de perto... - Disse Beth enchendo os olhos de lágrimas. - Não temos força suficiente para ir contra os raios.

Saturis finalmente ergueu a cabeça:

- Discordo. - Todos olharam sério. - Temos chance sim, não podemos desistir, nenhum soberano vai ditar o que podemos ou não fazer.

Beth ficava aliviada de certa forma de ver a amiga recuperada e emponderada novamente:

- Concordo com a moça. - Disse Mary. - Nós do Reino da Flecha treinamos arduamente e temos um grande exército, podemos proteger Terra Nova de Atelavida.

Nesse momento gritos são ouvidos dos andares de cima, e Raffaiet desce apressado pelas escadas:

- Mary, se puder me acompanhar. - Disse sério.

Mary se despediu brevemente dos novos colegas e acompanhou o professor:

- Conversou com Affilia? - Perguntou enquanto andavam.

Mary ficou confusa, franzindo a testa:

- Mas o senhor ficou de procura-la para mim. - Disse.

Raffaiet olhou confuso para a moça:

- Ela estava no grupo ali com você.

Mary arregalou os olhos e olhou de volta para eles, que ao longe ainda conversavam:

- Ninguém disse Affilia ali. - Disse Mary.

- Bom, por algum motivo ela deu um nome falso... - Disse Raffaiet pensativo. - Bem, isso não é o mais importante agora, precisamos encontrar seus companheiros, a chefe de vocês principalmente.

- O que houve? - Perguntou Mary preocupada.

- Reino do Rei está sendo atacado enquanto conversamos. - Disse, respirou fundo e olhou nos olhos da garota. - E o Reino da Flecha também.

...

Patri estava exausto, deitado no chão ao lado da porta azul, que ainda aberta trazia o barulho do mar.

Magician e Cecilia vieram correndo ao ouvir a porta se abrindo:

- Eu... Eu... Consegui... - Disse Patri respirando forte.

Lisa sorriu e andou até o garoto:

- Restam cinco portas, e com essa tenho certeza que deu um grande passo.

- Obrigado... - Disse ainda no chão.

Cecilia ajudou-o a se levantar e entregou uma toalha para o garoto, que se secando seguiu Lisa que se colocou a andar:

- A manipulação dos elementos é só o início Patri. - Disse Magician imponente. - É o primeiro passo para algo maior.

Patri não entendeu, para ele aquilo parecia algo surpreendentemente grande:

- Mas esse poder... É algo que eu nunca imaginei...

Lisa continuou séria, andavam até a sala da estrela, onde se sentaram:

- Aprender a manipular água e raízes é sim um grande feito, um grande feito dentre os medíocres. - Patri arregalou os olhos. - Porém um Magician está além disso.

- Sim, como manipular terra, areia, como você disse. - Patri lembrou do último ensinamento, ela sorriu.

- Patri, se imagine em uma situação onde não existe raiz ou areia perto de você, onde a manipulação de terra não seja o suficiente e não há água próximo de ti. - Exemplificou Lisa.

Patri pensou por um segundo:

- Meus poderes atuais seriam inúteis... Mas não é pra isso que completarei as outras cinco portas?

- Terra, Água, Ar e Fogo. - Disse Magician. - São as quatro primeiras portas e simbolizam os elementos que formam toda a natureza.

Patri franziu a terra:

- E como que são gerados os trovões?

- Luz e Escuridão. - São as duas portas que simbolizam o equilíbrio interior.

Patri se incomodou de não ter sido respondido, mas não interferiu mais a mestra:

- E a última porta, a porta de espelho... Aqui cada um aprende aquilo que mais lhe convém, o desejo mais profundo do coração...

Patri imaginou o que aquilo significava:

- Só depende de você Patri... - Lisa estava séria ao dizer aquelas palavras.

Patri se lembrou do último aluno dela, aquele que era responsável pelos raios, destruição, aquele que não finalizou as sete portas... Aquele que a fez desistir de lecionar.

Consentiu sem questiona-la mais e sem descansar se colocou a caminhar para a próxima porta, Lisa se surpreendeu com aquela atitude, Cecilia sorriu vendo aquela cena.

A próxima porta parecia suave, uma brisa fazia-a balançar, como se fosse feita de um tecido leve que esvoaçava de forma esplendida, Patri respirou fundo, colocou as mãos na porta transferindo sua energia para ela, desta vez mais rápido que as anteriores, e adentrou.

Mas o que viu não condizia com a suavidade da porta, um furacão imenso estava sobre um campo verde, devastando tudo que tocava.

Patri olhou para trás e a porta sumiu como um suspiro, tornou a fitar a paisagem.

O furacão engolia casas de madeiras e matava os animais no caminho, Patri entendeu que se aproximar significaria sua morte:

- Não posso perder tempo. - O coração estava disparado, as pupilas dilataram, estava prestes a entrar em pânico.

Era uma visão aterrorizante.

Correu em direção ao tufão enquanto o suor começou a brotar em sua testa, as pernas tremiam dificultando o garoto de avançar.

Se aproximou o suficiente para enxergar o tufão sem estar perto o suficiente para ser atingido e ergueu as mãos em sua direção.

"Só preciso controla-lo e afasta-lo daqui." Pensou.

Fez esforço para se concentrar no meio da destruição, pedaços de casas voavam para todo lugar, e gritos abafados podiam ser ouvidos no meio de tudo, o furacão seguia para um vilarejo que beirava um rio.

Fechou os olhos com força, tentou limpar a mente e se concentrar em sua energia.

Mas nada havia acontecido, o tufão continuava e Patri pôde ouvir a perturbação que fazia na natureza, as nuvens escuras e até faíscas brotavam dele, era a força da natureza em ação.

Patri abriu os olhos e começou a finalmente entrar em desespero ao perceber que nada havia acontecido.

Tornou a se concentrar, balançando a cabeça violentamente como num ato que dissipasse o desespero, mas foi inútil sua tentativa.

Os sons da destruição e o poder da natureza haviam dizimado a auto-estima do garoto, que não conseguiu se concentrar nos ventos.

Patri não conseguia se concentrar no teste, apenas nas vidas que estavam sendo perdidas ali, pessoas estavam morrendo e isso aterrorizava ele.

Olhou para as casas que estavam no caminho do furação e pensou em salvar o máximo de pessoas que conseguisse.

Correu o máximo que pôde, sentindo ainda o cansaço da porta anterior.

Viu pessoas com sacos e pertences tentando fugir do furação, correu mais para se aproximar a ponto de ver uma senhora tentando salvar uma cabra que estava presa na cerca:

- Eu te ajudo! - Gritou Patri. - Desenroscando a cabra e apressando a senhora.

Viu uma mãe com quatro crianças, carregando duas e tentando puxar as outras, enquanto todos corriam para a direção oposta dos ventos.

"O máximo de pessoas que eu puder." Pensou correndo em direção a mãe desesperada.

Carregou as outras duas crianças, ouvia o furacão se aproximando, correram todos o máximo que conseguiram.

Mas conforme o tempo passava, as pessoas se cansavam e diferente da natureza os humanos tinham força limitada.

Patri percebeu que não se salvariam, não estavam longe o suficiente.

"Eu claramente não consigo manipular o ar..."

Se virou para o furacão que vinha enfrenta-lo impetuosamente, viu o rastro de destruição deixado por ele.

"Mas eu manipulo a água".

Olhou para o rio que estava ali, se concentrou em todas aquelas vidas que precisava salvar, começou pouco a pouco a ouvir, no fundo de todo o desespero a corrente do rio.

Sentiu a água fluir, correr, sentiu as fibras e a conexão que havia sido estabelecida, e com movimentos precisos começou a jogar uma quantidade colossal de água fria no tufão e nas nuvens acima dele.

Se esforçava o máximo que podia, seus movimentos eram bruscos e contínuos, a água era jogada e graças a manipulação de sua energia chegava até as nuvens e no furacão, que recebia a fúria do garoto.

Algumas pessoas pararam de correr e contemplaram o garoto manipulando água, o furacão se aproximava feroz, como que não fosse desistir facilmente, Patri intensificou a manipulação, sentindo a água pulsar em seus braços, eles eram um só naquele momento, pensou em todas aquelas vidas, sentiu o rio suplicar para que salvasse aquelas pessoas, o rio que com abundância dava vida a gerações e gerações daquele lugar.

Patri começou a gritar, conforme crescia a determinação a água se unia a ele e chegava nas nuvens.

Intuitivo e certeiro, o furacão começou a perder força, a água fria acabava com a energia que havia constituído o poderoso, e num último golpe a água tomou forma de serpente, uma serpente imensa que voou na direção do furacão e num instante o fez desaparecer, se tornando apenas em uma forte tempestade.

Todos gritavam!

Patri estava exausto, caiu de joelhos e olhou feliz para a chuva caindo, havia salvado aqueles aldeões.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 28/03/2016
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