O Cão de Ázgore!

Certa vez ouvi dizer que ao norte do Forte Órtiz havia uma cidade chamada Ázgore, lá vivia um homem muito rico e na mesma proporção, muito misterioso, ninguém nunca soube ao certo como ele conseguiu construir seu império, afinal não era rei, não veio de nenhuma família tradicional da região e tão pouco alcançou seus valores encontrando uma reserva de ouro nas minas de Orvidary, fato é que numa noite após o solstício de inverno, surgiu no meio da floresta maldita; lugar que até então ninguém se atrevia a ir, pois acreditavam que lá viviam os espíritos de cinco bruxas mortas à quase 300 anos; um Castelo majestoso, daqueles que provocaria inveja e cobiça à qualquer reino ladeado a Vila dos Mercadores. Minha mãe dizia que algumas bruxas, enquanto eram queimadas na fogueira, no auge da cegueira e do ódio pulsante em suas almas, lançaram uma maldição que muitos chamaram de “A Maldição das 3”, clara alusão às três bruxas que praticavam magia negra na época e que aterrorizavam os moradores com feitiços e sacrifícios de crianças inocentes.

“Vida que não cessa, vida que não se apaga, seu primeiro fruto varão, ficará preso no clarão da noite, adestrado não será, sem controle ficará e no amanhecer de um novo dia, ficará sem companhia”.

Até hoje esse enigma é repetido para as crianças em contos de ninar, e não há uma alma que não conheça o conto de Liabe; junção dos nomes Lilith, Astirth e Bermith; e em como o povoado ficou livre desse mal a centenas de anos. E quanto as outras duas, por serem bruxas brancas, diz a lenda que no momento derradeiro; mesmo estando amarradas ao tronco e sendo consumidas pelo fogo, profetizaram...

“Nem um mal será maior que a força e a coragem de um coração fiel à fé e aos valores de um bem maior chamado amor...” e disseram mais, “que deste ventre amaldiçoado, crescerá um sentimento abençoado, que será alimentado e como um Salvador, mostrará o verdadeiro poder de um ser encantado”.

Mas fato é que até hoje, ninguém sabe ao certo o que elas realmente quiseram dizer, muito se fala sobre a veracidade das histórias contadas e até que ponto eram realmente lendas, verdade mesmo; e até o momento a única, por assim dizer; era que essas histórias se tornaram livros, e que de geração em geração, acabaram sofrendo adaptações. Realmente era uma forma de aterrorizar as crianças, inventando motivos para que elas fossem obedientes, pois caso contrário as bruxas viriam pega-las, era um “conto da velha”, como chamavam histórias que mães e avós contavam. Mas até que ponto tudo isso era mentira? Em que momento à história foi corrompida e adaptada, simplesmente para suprir a necessidade dos habitantes de criarem seus filhos com o estímulo do medo e do pavor? No fundo acredito que isso tenha alguma razão, mesmo que eu ainda não entenda qual seja, sei também que certas lendas servem para que verdades sejam sempre lembradas, mesmo que em forma de “era uma vez”.

Porém, uma coisa sempre me intrigou, nas histórias contadas, nada era dito sobre as Bruxas Brancas, aliás, nada que fizesse sentido, pois as únicas informações contidas nas páginas dos Livros, faziam referência apenas ao fato de serem irmãs e que ao fim do julgamento coletivo, após terem feito a profecia “do Salvador”, simplesmente evaporaram, enquanto os corpos das Bruxas Negras se mantinham firmes ao poste, aguardando que a fome do fogo feroz e impiedoso cessasse. Seus nomes? Ninguém sabia; ou pelos menos não diziam; onde realmente viviam? Alguns acreditavam que viviam como reles mortais, numa casinha afastada do centro urbano, na saída norte do povoado.

O tempo passou, os filhos dos filhos cresceram e o Castelo continuava imponente no meio da Floresta, pouco ainda se sabia sobre o habitante misterioso, mas muitos supunham que ele já estaria velho, pois depois de 70 anos, quem poderia resistir ao tempo, não é? Pois bem, a única informação que sabiam, era que todas as noites ele soltava o seu cão para que pudesse ir a cidade, ele podia ser visto vagando pelos becos, pelas ruas e quintais das casas, às vezes parava do lado de uma janela e observava a rotina dos moradores, alguns em frente a lareira, simplesmente pensando na vida, outras vezes observava as crianças brincando no tapete da sala, via pais carregando a lenha que acabaram de cortar, preparando a reserva de combustível que os protegeria do frio que logo mais chegaria, mães preparando o jantar, enfim, não parecia que as visitas noturnas eram ao acaso, as verdadeiras razões ainda não haviam sido reveladas, mas a questão era que todos os habitantes o conheciam.

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Moises Tamasauskas Vantini
Enviado por Moises Tamasauskas Vantini em 04/02/2016
Código do texto: T5533693
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