O Brilho das Estrelas

Acordei!!! Que susto! Mais uma vez tive o mesmo pesadelo. A menina linda da pele de ébano que me chama desesperada e chora dizendo que eu a abandonei. Quem seria ela? Porque não consigo me lembrar dela? Suava tanto que chegava a pingar. Resolvi tomar uma ducha quando o alto-falante do hospital me chamou a realidade.

- Drª Lídia Stenhouse, compareça a sala de exames do 2º piso.

- Drª Lídia Stenhouse, compareça a sala de exames do 2º piso.

- Drª Lídia Stenhouse, compareça a sala de exames do 2º piso.

Ao entrar no lavabo pensava por onde andaria minha mãe. Então me assustei quando ouvi sua voz atrás de mim.

_Ei não vai me dar nem bom dia?

_Ah que susto, mãe! Claro que sim. Bom dia, mas você não está ouvindo o alto- falante?

_Já sei o que eles querem mas, não vou opinar. Já sabem minha opinião, mas querem que eu repita para o paciente, mais uma vez. Ele não é mais meu paciente. Está com câncer e se recusa a operar. Deixei-o a cargo do dr Rosevelt. É um excelente profissional e tem mais paciência que eu.

_Mãe...Tive aquele pesadelo outra vez.

_Aquele da menina? Jesus o que quererá dizer? Sonha com ela desde a adolescência.

_É mas agora estão cada vez mais frequentes. Sinto que vou saber em breve quem é ela. Consultei o Ronaldo, meu colega psiquiatra, e ele fez muitos exames na minha cabeça e não achou nada. O Gildo, um colega especialista em terapia de regressão, me submeteu a terapia de hipnose mas ficou embasbacado com o que ouviu da minha boca. Ele disse que não entendeu uma só palavra. Eu falei numa língua totalmente estranha.

Minha mãe me abraçou ternamente e disse:

_Meu filho, não pense mais nisso. Seja lá o que for você saberá quando chegar a hora. O importante é que você é normal. É um médico brilhante e responsável e cura as pessoas com suas mãos. Não se preocupe mais.

_Tem razão. Vou tomar uma ducha e vou pra casa. Meu plantão acabou há três horas. Tchau mãe!

_Tchau Dr Paterson, meu filho querido. E me beijou na testa com carinho. Afastando-se rumo a sala de procedimentos.

Saí pelos fundos do hospital para pegar meu carro mas ele estava com os quatro pneus vazios. Algum moleque tinha me feito esse favor. Resolvi ir a pé pois meu apartamento é a apenas dois quarteirões daqui. Depois mandaria o Borracheiro resolver isso pra mim. Depois da esquina tem uma praça e sempre paro por lá pra tomar um sorvete. Hoje estou precisando mais do que nunca. O pipoqueiro se queixou que eu nunca lhe tinha dado um tostão numa pipoca. Que culpa tenho se não gosto delas?

Lá estava o Zé em frente ao seu carrinho de pipocas.

_Olá Zé! Tudo bem? Hoje vou lhe fazer uma compra, se tiver alguma criança pra comer as pipocas!

Ele prontamente apontou para um portão em frente. Era um prédio antigo. Parecia um orfanato. Havia um grande pátio na frente. No portão grande de ferro com mais ou menos uns tres metros de altura e largura, estava uma menina negra de apenas uns oito anos de idade. Comprei as pipocas e fui até la. O Zé ainda me gritou:

_Seja rápido doutor!

Mas andei no meu passo normal mesmo, afinal estava cansado do plantão que não tinha sido nada fácil. Assim que me aproximei do portão alguém veio correndo em minha direção. A menina estendeu as mãozinhas e dentro da minha cabeça ouvi sua voz, apesar de eu não vê-la mover os lábios:

_Eu sabia que você vinha me buscar um dia. Por que demorou tanto? Mas não pude responder pois ela foi arrastada pra dentro de casa. Fiquei ali com as pipocas na mão sem entender nada. A menina estendia os bracinhos como se fosse me alcançar mas não pude fazer nada. Voltei ao pipoqueiro que me disse que era sempre assim. Ela não podia conversar com ninguém. Toda vez que alguém se aproximava da casa era levada pra dentro rápido.

Dei a pipoca para um vira latas que andava por ali. Ele adorou. Levantei-me e despedi-me do Zé. Fui caminhando rapidamente pra casa. Em casa resolvi tirar outro cochilo.

Deitei me no sofá da sala e aconcheguei-me em minhas almofadas de penas de ganso. Logo o sono me venceu.

Acordei!!! Outro susto. A menina chorava copiosamente e dizia:

_Porque não me levou consigo?

E só então a ficha caiu. Era ela!!! A menina dos meus pesadelos. Levantei rápido e voltei ao casarão. Ele estava fechado. Ninguém atendeu a campainha. Resolvi ligar para Lidia.

_Mãe, encontrei a menina.

_Jura, meu filho! E onde ela está?

_No casarão da praça. O que funciona lá?

_Não sei. Sei que pertence a alguns cientistas que estão fazendo uma pesquisa importante para o governo. Ninguém tem autorização para entrar.

_Como soube então?

_Uma cientista é uma colega da faculdade chamada Ana.

_Mãe eu preciso conhecer esta menina. Você entende isso?

_Pat, Você percebe que talvez eles estejam estudando a menina? E que se perceberem que você tem algo a ver com ela vão querer aprisioná lo também para estudá-lo?

_Meu filho, adotei você porque percebi que tinha poderes especiais e achei mesmo que seria objeto de estudos. Não quis que isto acontecesse com você. Por favor ignore esta gente!

_Não mãe. Desculpe-me, mas ela me pede ajuda desde a adolescência, e esses pesadelos só vão acabar quando eu ajudá-la.

_Deixe-me tentar entrar em contato com a Ana. Vejamos o que podemos fazer.

_Está bem mas vou esperar aqui na praça. Não demore.

_Não se preocupe. Volto a entrar em contato com você. Tenho uma cirurgia complicada agora de manhã não poderia mesmo demorar.

Minha mãe demorou-se demais e eu acabei cochilando no banco da praça. Zé não deixou ninguém me acordar e quando meu celular tocou ele o tirou de perto pra que eu pudesse descansar mais um pouco. Infelizmente era minha mãe pedindo pra eu não tentar entrar no casarão da praça. Ana avisou que se alguém tentasse seria preso pelo governo.

Acordei assustado e então Zé me entregou meu celular dizendo que o afastou de mim pra não perturbar meu sono. Quase lhe dei uma bofetada mas me contive. Ele não tinha como adivinhar. Tentei ligar pra minha mãe mas ela estava na cirurgia e não pode me atender.

Resolvi entrar no casarão. O portão estava fechado. Era feito de ferro com desenhos em forma de curvas para todos os lados de metro em metro. Nunca fui bom de escalada. O muro era muito alto. Além disso tinha uma câmera que rodava de tempos em tempos para vigiar o pátio inteiro. Não queria ser visto pelos cientistas por isso resolvi esperar pra ver o que fazer.

Já eram 12:35h quando um caminhão de entregas se posicionou em frente ao portão. O motorista saiu do carro e postou a carteira dele em frente a um leitor de cartão situado do seu lado direito. Eu estava sentado bem atrás do leitor e esperei até ele virar as costas e me pendurei atrás do caminhão. O caminhão entrou logo que o portão abriu e eu me segurei forte atrás. Assim que ele passou pela câmera de segurança, parou e eu desci. Escondi me debaixo do caminhão. O motorista saiu, pegou umas sacolas, desastradamente, dentro do baú e caminhou em direção ao prédio. A porta se abriu em seguida e permaneceu aberta. Arrastei-me até a porta e entrei. Caminhei por um corredor e dei de cara com o motorista mas ele não me reconheceu como estranho, pois eu estava com um jaleco do hospital, que esqueci de tirar na pressa de sair de casa. Estava um pouco sujo de poeira mas ele até sorriu dizendo:

_Boa tarde dr! Essas experiências são um tanto trabalhosas não é?

Respondi casualmente para não levantar suspeitas.

_Oh sim! Agora mesmo me sujei todo. Mas chegaremos ao nosso objetivo certamente.

_Sim com certeza! Ate logo!

_Até logo!

Naquele corredor não havia câmeras. Assim como em nenhum lugar da casa. Andei sem fazer barulhos até uma sala grande em que uma mulher conversava com a menina.

_Pare de fazer manha! Você sabe que não pode sair daqui. Fique calminha e eu te levo pra ver o mar no domingo. Está bem? Nem adianta falar que não vai me responder. Não é? As vezes penso que é muda outras que não quer falar de propósito.

Ela não respondeu. Mas ouvi claramente seu pensamento dizendo que sim.

A mulher não ouviu pois perguntou novamente

_Está bem? Ah , vou adiantar o almoço e depois volto.

Então deduzi que a menina podia conversar por telepatia e resolvi tentar falar com ela . Disse:

_Não olhe pra trás mas eu estou aqui e vim te ver para conversarmos. Quem é você e porque tenta se comunicar comigo. Eu também não sei quem sou eu.

_Você veio!!!! Que bom! Sou a Maior das estrelas e você é a menor. Veio me buscar e perdeu a memória. Venho tentando te acordar desde então.

_Estrela!!! Como assim?

_Não somos humanos. Somos seres de luz.

_Não pode ser! Sou de carne e osso!

_Sim mas pode se transformar em luz a hora que lembrar quem é.

_Porque está presa aqui então? Porque simplesmente não se transforma em luz outra vez?

_Não poderia ir embora sem você.

_Como é o seu nome?

_Aqui me chamam de Tereza.

_Mas de verdade como se chama?

_Não me lembro. Acho que não temos nome específicos. Quando entrei na atmosfera terrestre assumi a forma humana e perdi quase totalmente a memória.

_Então isso aconteceu comigo também.

_Pior. Você se tornou um menino sem saber nem quem era. A Drª te adotou mas você precisava de mim pra saber quem é.

_Você veio antes de mim ou depois?

_Antes. Foi tudo culpa minha. Eu quis vir para a terra e você tentou me impedir. Não te ouvi.

_Então porque eu me tornei adulto e você continua criança?

_Eis o motivo da minha prisão. Não evolui para a forma adulta. Não sei por quê. Penso como adulta mas meu corpo é de criança humana. Estão me estudando. Não suporto mais esta prisão. Preciso sair daqui.

_Se eu tentar te tirar daqui estarei preso também.

_Sim há algumas pessoas que tentaram e estão presas no porão. Cuidado! Ela se aproxima.

_E então Tereza como está? Um pouco mais calma? Não vai responder? Tudo bem. Vou adiantar umas pesquisas e volto logo com seu almoço, ele já está quase pronto. Está com fome?

Teresa fez cara de birra.

_Deixa de bobagens tem que se alimentar.

Nova birra e gesto negativo

_Está bem então quando quiser comer me fala. Eu preciso que você coma e sabe disso.

Teresa fez sinal de que estava com sono.

_ Bom descanso. Faça isso. Mais tarde te procuro.

_Ela vai ficar umas duas horas pesquisando. Temos que aproveitar para sair daqui agora. Estamos sós na casa agora. Ela vai para o laboratório de pesquisa que fica no segundo andar do casarão. O guarda está de folga e portanto não estão vigiando as câmeras. O portão se abre com um toque naquele botão verde que tem sobre a porta e que eu não alcanço nem com uma cadeira. Mas você sim. Ele ficará aberto por apenas um minuto e então teremos que correr.

_ Estou aqui .

Teresa olhou e viu o dr Paterson. Ele era muito bonito. Aqueles cabelos castanhos cacheados que lhe caiam sobre os ombros lhe caiam muito bem. Tinha um metro e noventa e os olhos azuis como os seus. Seu sorriso era encantador.

_Preciso soltar as pessoas do porão. Espera um momento. Onde fica mesmo?

_Ali atrás da porta de entrada tem outra porta. È só abrir.

Assim que a porta se abriu ouviram murmúrios. As pessoas sairam junto com Pat.

Teresa correu, passou por ele e mostrou o botão que ele tinha que tocar para abrir a porta. A cadeira estava próxima e ele a usou e saíram em seguida. O portão estava aberto e se fechou assim que saíram. Foi muito rápido. Saíram correndo do casarão e seguiram direto pro apartamento do dr. Lá ele percebeu que o celular tocara 5 vezes nos minutos que antecederam a sua chegada em casa. Era sua mãe.

Retornou a ligação e ela atendeu na hora.

_Pat, o que você fez meu filho?

_Como assim, você já sabe?

_Sim Ana me ligou e me ameaçou. Eu havia ligado pra ela antes lembra? Agora querem a Teresa de volta ou vão chamar a Interpol a Cia e o diabo a quatro. Pelo amor de Deus onde você está?

Desliguei o celular e retirei o chip. Joguei o aparelho pela janela o mais longe que pude em direção as árvores da praça. O havia um rastreador nele.Eu mesmo mandei instalar. Arrumei a mala o mais rápido que pude e transferi o dinheiro que tinha para uma conta em outro banco em nome de uma identidade falsa. Tinha uma boa economia em dinheiro. Escrevi oito livros e recebia muito em direitos autorais. Peguei a mão de Teresa e saímos correndo dali. Meu carro estava no hospital e por isso resolvi comprar um carro novo que tivesse um insulfilme bem escuro pra não sermos reconhecidos. Usei a identidade falsa.

Teresa nada disse nem pensou. Deixou tudo a meu cargo. Estava acostumada a agir como criança. Já passava das seis horas quando alcançamos o limite da cidade.

Resolvi sair do carro e comprar umas coisas para comer. Eu estava com fome. Ao contrário dela eu sentia muita fome. Quando voltei ao carro vi uma jovem sentada em cima do carro a observar as estrelas. Deveria ter uns doze anos. Ela sorriu pra mim:

_Não vai me oferecer seu lanche?

Reconheci a voz de Teresa. Ela cresceu rápido demais em algumas horas apenas. Isto era incrível.

_Que foi Pat? Que bicho te mordeu? Que cara é esta de quem viu um passarinho multicor?

_Você não percebeu que cresceu?

_Vejam só!!! Cresci mesmo!!! E agora o que acontecerá?

_Não sei. É aguardar pra ver. Vamos embora. Entre no carro podemos ser vistos por aí.

Comemos o lanche. Estava delicioso. Teresa ria, observando a si mesma. e seu riso me enternecia.

A noite estava muito alta quando chegamos a um hotel na cidade vizinha a nossa. Quando Teresa saiu do carro parecia um pouco mais velha, mas em cinco minutos ela cresceu uns trinta centímetros. Estava com uns dezoito anos agora. Registramo-nos como marido e mulher pra não levantar suspeitas. Ninguém procuraria um homem e uma mulher. Depois de instalados Teresa dormiu e eu não consegui pregar o olho. Uma dúvida pairava em minha mente. Porque Teresa não crescia direto e apenas em alguns momentos?

Amanheceu com o FBI na porta do hotel. Quando sai pra ir comprar um jornal, fui cercado e pediram meus documentos. Entreguei-os na esperança de que não me reconhecessem. Quiseram ver minha esposa e não prosseguiram quando viram que ela era uma mulher feita. Procuravam uma criança que havia sido sequestrada por um médico. O nome do médico era dr Paterson e se eu o encontrasse deveria entregá-lo a polícia.

Agradeci o empenho e disse que o faria se o encontrasse.

Os policiais se foram e eu resolvi sair do prédio com Teresa sem me preocupar com mais nada. Ela só crescia a noite . Ao dia isso não acontecia. Disse a ela que eu suspeitava que não cresceu antes pois estava sempre trancada em seu quarto sem luz a noite. Agora em contato com as estrelas estava crescendo tudo que deveria ter crescido antes.

Tomei o rumo do parque pois no inverno ele ficava deserto e assim se ela crescesse a noite, de dia ninguém notaria. No parque Teresa me contou por telepatia tudo que lembrava de nós dois. Fiquei sabendo tudo que sempre quis saber. Andamos o dia inteiro e voltamos para o hotel antes de anoitecer. Queria saber se ela evoluiria mais sem as estrelas. Entramos no quarto e fechamos as cortinas. Pedi o jantar no quarto e dormimos logo em seguida.

O amanhecer veio sem novidades e Teresa continuou sem evoluções. Ela não poderia ser exposta a lus das estrelas sem evoluir. Se evoluísse despertaria suspeitas. Então resolvemos que ela não ficaria exposta as estrelas. Senti que devia dizer algo a minha mãe para despreocupá la. Mas se ligasse do hotel a polícia me descobriria. Então liguei de um aparelho de rua destes que chamam de orelhão.

_Mãe, sou eu. Estou bem, não se preocupe comigo. Estamos bem. É só o que você precisa saber. Vou desligar pra não piorar as coisas. A ligação caíra na caixa postal. Ela deveria estar em atendimento. Melhor assim. Liguei do outro lado da cidade enquanto Teresa dormia. Voltei para o hotel e resolvi que no dia seguinte viajaríamos em” lua de mel” para fora do país.

Teresa me surpreendeu com a seguinte exclamação no dia seguinte ao café da manhã:

_Pat, temos que ficar.

_ Vou te ensinar a usar seus poderes e em breve poderemos voltar pra casa.

_Onde é a nossa casa?

_Já te contei a nossa história e então o que deduz disso? Onde é a nossa casa Pat?

_Somos estrelas mesmo?

_Sim querido somos estrelas.

Aquela mulher linda me deixava encantado com seu jeito doce de falar. Seus cabelos com cachos espalhados pelos ombros me deixavam embasbacado. Afinal me sinto um ser humano e ainda poso me apaixonar.

_Pat, concentre-se em me ouvir. Você pode levitar. Assim,... tente.

_Como faço isto?

_Deixe sua alma leve. Não pense em mais nada. Apenas que você é uma estrela. Mas cuidado!

Lídia estava preocupada com Pat. Ele havia lhe dito que estava tudo bem. Mas sabia que ele estava sendo procurado pelo FBI, CIA e INTERPOL. Como poderia estar bem? Limpara a sua conta no banco e agora estava em algum lugar com a menina. Quem seria ela? Provavelmente ele seria igual a ela. Sempre tivera um fundinho de medo de saber quem era o menino que a encantara e resolveu adotar. Ele era muito especial. Achava que não seria uma tarefa fácil mas acabou sendo. Ele era calmo e sereno. Não houve nenhum empecilho pra que fosse uma criança feliz. Mas porque nunca procuraram por ele? E aqueles pesadelos, oque quereriam dizer? Porque tudo que ele tocava ficava curado. O primeiro foi o pássaro na praça no dia em que o encontrara.

Naquele dia saíra do hospital cansada. Fora um plantão difícil. Ele estava em pé olhando para o hospital. Assim que pousou os olhos nele ficara encantada. Ele sorriu e se tornou ainda mais lindo. Era um menino de apenas uns cinco anos de idade. Olhos azuis e cabelos crespos e louros lque caiam sobre as costas. Então perguntou a ele:

_Quem é você querido? Onde estão seus pais?

Ele apenas sorriu e não respondeu. Ela pegara em sua mão e o levara pra comer algo. Talvez estivesse com fome. Deixara recado na portaria do hospital. Se alguém o procurasse, este menino lindo estava com ela. Ligassem no seu celular.

Foram passear na praça depois de comer. Ao sentarem no banco, um pássaro que havia sido atropelado, estava caído ao lado do banco. Ele estava vivo mas, agonizava. O menino pegou o passarinho e começou a fazer-lhe carinho e lançar-lhe olhares de uma ternura que a emocionou. Quase chorara de alegria quando o passarinho foi ficando assanhado em suas mãos e saiu voando. Seus olhinhos o acompanharam até ele sumir de vista.

Levara-o para casa e o mantivera consigo na esperança de que alguém deixasse recado no hospital mas o recado nunca chegou. Algo lhe dizia que ele não era um menino qualquer. Depois de um mês que ele estava consigo resolveu pedir a justiça a sua guarda. Não foi difícil pois como dona do Hospital Municipal era uma médica conceituada e séria. Nunca ninguém procurou por ele. Deu-lhe o nome de Patersom por ser o nome de um dos melhores médicos que já tivera trabalhando consigo. Pat, como o chama até hoje, foi aprendendo a falar como se nunca houvesse conhecido a nossa língua. Era um mistério. Ensinara-lhe tudo o que sabe. Ele fez faculdade em uma das melhores universidades do mundo. Seu estágio no hospital foi premiado. Não lhe facilitara em nada, mas ele era muito inteligente.

Hoje conta que ele tem 35 anos de idade, pois lhe dava uns cinco quando ele aqui chegou. Lidia é a mãe mais apaixonada do mundo pelo filho. Não é pra menos. Ele é maravilhoso. Sente agora que seu maior medo se avizinha. Vai perder o filho pra seu verdadeiro eu.

O Dr Paterson acordou Teresa com um leve toque em seus cabelos. Ela havia se banhado da luz das estrelas e agora estava na forma adulta finalmente. Era uma linda mulher. Seus olhos eram de um azul profundo que as vezes se apagavam e ela então começava a brilhar Ela já lhe contara toda a sua história verdadeira e agora ele já estava preparado pra enfrentar o mundo. Tinham que voltar pra casa.

Mas antes precisava voltar ao hospital e rever a mãe.

_Vamos?

_Sim, está pronto agora.

_Você nunca deveria ter vindo pra cá. Chegou a hora de ir embora. Aqui não é o nosso lugar.

Deixamos o hotel as 16 horas e partimos rumo ao hospital geral. Mas não fomos do modo convencional pra não chamar a atenção. Não queríamos machucar ninguém. Chegamos na sala da plantonista que hoje é a Drª Lidia, minha mãe adotiva.

_ Saímos no banheiro pra não assustar os pacientes. Quando me viu minha mãe exclamou:

_Pat, meu filho! Como você está? Por onde andou? Eu já estava ficando muito preocupada. Olá jovem linda como vai?

Teresa apenas anuiu de forma graciosa.

_Tudo bem mãe. Vim me despedir.

_Eu sabia que este dia chegaria mas não consigo gostar da ideia. Vamos lá. Comece me contando quem é você afinal? Você descobriu não foi?

_Sim. Eu agora sei quem sou. Minha memória foi ativada e vou lhe contar a história toda. Mas antes peça pra Jane dispensar os pacientes da tarde porque vai ser uma longa história.

Minha mãe saiu da sala e retornou alguns minutos depois.

_Pode começar que sou toda ouvido. Quem é essa moça linda e o que ela tem a ver com a sua história?

_Vou começar mas peço que não me interrompas. Ok .

_ Sim pode deixar.

_Eu sou a estrela mais brilhante que você pode ver no firmamento.

_Como assim?

_No começo vivíamos em um planetoide localizado em uma galáxia bem longe da sua. Ha muitos anos-luz de distância. Nosso sol era uma estrela amena e o nosso planeta era o mais próximo dele.Nossa forma de vida seria considerada pelos humanos como gasosa, eu diria. Éramos livres para ir e vir e éramos felizes. Tudo iria muito bem e continuaria bem, se um asteroide, vindo da sua galáxia, não nos atingisse. Meu mundo ficou inabitável até mesmo para seres de luz como nós. Resolvemos nos mudar para encontrar um mundo onde pudéssemos viver em harmonia com os seres que ali habitassem.

A cada planeta que encontrávamos, havia os seres que ali habitavam e estes estavam sempre em algum tipo de guerra ou disputa. Somos sensíveis e por isso não conseguiríamos viver ali.

Seguimos o rastro daquele asteroide e viemos parar em sua atmosfera. Do alto pudemos ver que seu mundo ainda não era habitado. Alguns seres estavam aparecendo na terra, aleatoriamente e combinamos que pairaríamos sobre o espaço para acompanhar o desenvolvimento desta raça.

_Você quer dizer que é mais velho que este planeta?

_Idade para nós não existe. Mas estávamos aqui quando seu mundo começou a ser habitado

Aqui, longe do nosso planeta, os nossos poderes aumentaram muito. Tentamos usar nossos poderes para fazer os homens serem felizes mas, de nada adiantou. Eles estavam destruindo seu planeta e por vezes tentamos fazer com que as pessoas se reunissem para tentar salvar o planeta. Durante muitas décadas vimos guerras e problemas causados pelos seres humanos. Já havíamos combinado mudar de lugar quando um de nós resolveu descer a terra para tentar ajudar os seres humanos. Ele achava que assim poderíamos continuar aqui. Tentei dissuadi-lo da ideia mas nada o fez desistir.

Quando descemos a algum planeta assumimos a forma dos habitantes daquele lugar. Mas em alguns casos é possível que isto aconteça de forma nada vantajosa. Aqui assumimos a forma do primeiro ser humano que encontramos. A estrela mãe assumiu a forma de uma criança ingênua e inocente que pouco se lembrava de quem era. Ela aqui tinha muitos poderes e isto chamou a atenção de alguns cientistas que a aprisionaram para fazer estudos sobre ela. Quando exposta a luz do luar ela brilhava e isto chamou-lhes a atenção. Se assumirmos a forma de criança só poderemos voltar a nossa forma normal quando nos tornarmos adultos outra vez. Mas para que isto aconteça é preciso que tenhamos contato com a luz das estrelas. Ela nos fará crescer normalmente e, no tempo do planeta nos tornaremos adultos. Estrela foi aprisionada por pessoas inescrupulosas que não a deixavam ver as estrelas. Talvez por pura ignorância. Assim ela deixou de crescer. Continuou com a forma de criança por trinta anos.

Eu desci a terra atrás da estrela para tentar fazê-la voltar para nós mas deu tudo errado e eu acabei encontrando um menino e me transformei nele. Perdi a memória e o resto da minha história você já sabe.

Assim que recuperou a memória, o que poderia acontecer a qualquer momento nesses trinta anos, Estrela tentou de várias maneiras entrar em contato comigo por telepatia. Na adolescência eu sonhava com ela mas a intensidade dos meus sonhos era suave. Depois que fiz faculdade e vim morar aqui perto, a telepatia gritava em meus ouvidos o tempo todo. Mas eu não a reconhecia por causa de sua forma. E eu estava sem memória. Assim que a vi naquele portão as lembranças começaram a dançar dentro da minha cabeça. Consegui entrar no casarão e assim que ouvi a voz dela dentro de mim, entendi que ela falava comigo por telepatia. Conversamos e conseguimos sair dali. Estrela me ensinou a ser eu mesmo outra vez. Reaprendi a levitar., desaparecer e aparecer em outros lugares e enfim, a ser estrela de novo.

Meu povo não quer mais ficar nesta atmosfera e assistir seu mundo ser destruído pelos humanos. Vamos partir finalmente e procurar um planeta onde possamos viver em harmonia.

_Você tem mesmo que partir? Eu vou sentir tantas saudades!

_Sim mãe. Eu tenho que partir. Devo muito a você. Se não tivesse me adotado provavelmente eu seria objeto de estudos como Estrela. Por isso vim te fazer um convite. Quer virar uma estrela e vir comigo?

_Não posso fazer isso. Milhares de pessoas precisam de mim. Sem mim este hospital já teria fechado as portas. Você sabe disso muito bem.

_Os humanos merecem o fim que terão mas, você é especial.

_Acho que não saberia ser uma estrela e ficar apenas brilhando no firmamento.

_Também sentirei saudades! Aprendi a ser humano com você e no verdadeiro sentido da palavra. Você é o que todo ser humano deveria ser Dª Lidia Stenhouse. Foi um prazer muito grande ser seu filho.

_Fica aqui e vamos juntos ajudar estes coitados Pat. Alias como é o seu nome verdadeiro?

_Melhor me chamar de Pat mesmo. Sou apenas mais uma estrela no firmamento e meu nome depende de quem está me vendo. Nossa língua não é essa. É muito difícil para vocês falarem. Não a compreenderiam.

_Não nos veremos mais?

_Não. Esta é a última vez que nos vemos, mãe.

_Nem se eu te chamar?

_Estarei a anos-luz de distância da terra. Quando eu chegar aqui já será tarde demais. Sinto muito. Não quer mudar de ideia mesmo e vir conosco?

_Não. Nunca seria uma estrela feliz. Te amo muito meu filho mas pode partir em paz. Será a sua felicidade e isto é o que basta pra mim. Sempre soube que este dia chegaria.

_E estrela, não vai me dizer nada?

A voz de Estrela se fez ouvir em minha cabeça. Olhei pra ela e entendi.

_Não consigo conversar bem na sua língua. Por isso falo por telepatia doutora. Só o Pat pode entender o que eu digo. Diga a ela pra mim.

_Mãe ela está falando por telepatia. Disse que não entende direito nossa língua e por isso prefere falar por telepatia em nossa língua e só eu a posso compreender.

_Foi um prazer conhecê-la e se as pessoas fossem como a senhora o seu mundo estaria a salvo. Parabéns. Continue agindo assim. Agora vamos Pat, Já perdemos muito tempo aqui.

_ Que foi um prazer conhecê-la e se as pessoas fossem como a senhora o seu mundo estaria a salvo. Parabéns. Continue agindo assim.

_Obrigada querida.

_Precisamos ir.

Minha mãe me deu um abraço bem caloroso. Senti que nossos laços continuariam por toda a eternidade.

_Adeus mãe e muito obrigado por tudo.

_Adeus Pat. Eu te amo. Adeus Estrela cuide bem dele.

Estrela deu um sorriso lindo. Ela sabe que as estrelas não precisam que ninguém cuide delas. Quando a energia é finita ela simplesmente se apaga.Mas isso só acontece quando ela quer ou quando um asteroide colide com ela sem que ela o perceba.

A polícia bateu forte na porta e entrou em seguida deu voz de prisão a Pat. mas ele deu as duas mãos a Teresa e ficaram brilhando cada vez mais intensamente até serem apenas um brilho forte de luz e depois foram diminuindo de tamanho até que em segundos havia duas pequenas luzes piscando na sala da doutora Lídia que saíram pelo ar em direção a janela. Os policiais ficaram estáticos diante da cena e depois simplesmente foram embora. Lidia correu pra janela e ficou assistindo aos dois pontos de luz que se afastavam da terra.

As duas estrelas se confundiram com o firmamento. Agora sempre que olhar para o céu Lidia saberá que em algum lugar haverá uma estrela especial. Seu filho Paterson, cuidará de algum planeta com o mesmo carinho que cuidou de si e do nosso planeta. E cada estrela que avistar no firmamento será como se fosse ele. Disse em voz alta olhando o firmamento:

_Adeus meu filho querido. E teve a ligeira impressão de que uma luz piscou no céu.

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 03/12/2015
Reeditado em 03/12/2015
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