Meus Anjos

Eu particularmente nunca tive medo dos anjos que viviam aqui. Eu os via de longe, segurando seus arcos, protegendo suas flechas e caminhando a passos lentos. Eles sorriam sempre que orientados, cumprimentavam sempre que instigados, abraçavam-me o tempo todo. Foi uma bela época.

Mas, um dia, eu resolvi não sorrir tanto pros anjos, ignora-los um pouco e ver minhas próprias asas negras, cheias de brilho e muito maiores que as deles. Eu resolve lapidar meus arcos e buscar, dentre o ferro, aquele melhor para um belo escudo. Eu aprendi caça, pesca, ser gentil e poucas coisas sobre liderança, honestidade e livros.

E, desde então, eu tive que aprender a lutar. Lutar com os anjos que cercavam-me com intuito de proteger-me. Lutar pela sobrevivência e contra o medo que eles espalhavam em mim. Eu, duvidei por longos momentos que seria feliz em rebelar-me, mas, eu sentia-me correto naquela decisão. Eu queria ser um anjo tão bom, mesmo que minhas asas fossem grandes e negras, eu precisava do meu espaço também. Eles eram belos por terem asas pequenas e alvas? O que tornava isso belo? E, unificava a beleza assim? Para mim, agora, os anjos eram os piores demônios que conheci. Muito piores do que os inimigos que matei ao longo dos anos ou os medos que enfrentei. Os, meus anjos, caçaram-me por tentar ser igual a eles. E, a beira disso tudo, eu percebi que quando mais eu melhorava, mais eu tornava-me uma ameaça.

Neto Gouveia
Enviado por Neto Gouveia em 14/01/2015
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