QUANDO A VIDA NOS DÁ A RESPOSTA

Laura nascera doze anos antes de Letícia.

Embora tivessem filhos em diferentes idades, tornaram-se conhecidas no condomínio no qual moravam.

Eram muito diferentes.

Letícia se casara muito cedo, com o primeiro namorado, e praticamente nada tinha de muita experiência de vida, mas contava com sua extrema sensibilidade aos contatos com as coisas do mundo. Era uma mulher de aparência franzina, suave, mas de rápida percepção.

Laura não, era uma mulher vivida. Bonita e de pouco estudo já conhecia os bastidores da vida, e embora não tivesse também grande porte, tinha uma sensualidade morena nata, própria do clima tropical, que se insinuava através de sua linguagem corporal.

Falante, comunicativa, e extravagante no vestuário, contrastava a olhos vistos com o marido, um intelectual de óculos diminutos, terno impecável, e pouca conversa.

Letícia sempre se perguntava como tanta diferença entre ambos viabilizara um casamento que já durava quinze anos, e que tinha dois filhos como fruto. “Mas afinal o amor é assim, aproxima e atenua as diferenças”, acreditava Letícia.

Certa vez, caminhando numa trilha do parque, Laura lhe contara que após seu casamento, havia perdido o contato com a família do marido, e que há muito tempo dela não tinham nenhuma notícia.

Letícia, a cuja sensibilidade nada escapava, logo percebeu que ali havia um distanciamento inquietante.

Conversavam sobre tudo, e naquele dia Letícia foi surpreendida com a notícia de que o marido de Laura estava muito doente.

-Mas parece tão saudável! comentou Letícia espantada.

Laura procurou várias vezes por Letícia nos momento mais difíceis da doença do Marido.

Não tardou e o falecimento se consumou. Aquele homem jovem, bonito e elegante lhe acenara precocemente um adeus.

Mas a vida seguiu.

Laura muito abalada lhe relatava a dificuldade de tocar a vida, de arranjar emprego e de arcar com as despesas que eram muito altas.

Mas, além disso, Laura mudara o tom da conversa. Os assuntos passavam a ser estranhos, aonde Laura lhe relatava suas recentes e perigosas aventuras amorosas. Nada demais, estava viúva, não fossem as histórias sensuais, picantes e desproporcionadas para as quais Letícia tampava seus ouvidos e arregalava os olhos!

Não, aquilo não se tratava de envolvimento emocional.Letícia, já havia amadurecido suficientemente para saber disso... Laura parecia ser entendida demais nos jogos da sensualidade...

Certa vez Letícia achou por bem adverti-la...

-Laura, se seus filhos souberem...

Letícia desde cedo pressentira com a alma o passado de Laura, mas se negava a acreditar.

E o tempo passou.

A vida muda para todos e não foi diferente com ambas... seus caminhos acabaram por se distanciar.

Dias desses, encontrei com Letícia num shopping. Instintivamente perguntei por Laura.

Contou-me que a tinha visto a três meses atrás, magérrima, muito abatida, quase acinzentada, e que alguém lhe dissera que falecera subitamente dias após.

“-Laura nunca me disse uma palavra-pensou consigo Letícia- mas foi a vida quem me deu a resposta que eu tanto temia.”

Foi esse o lamento que ouvi, quando tristemente, eu li a alma de Letícia...