MONALISA E O ÚLTIMO SUSPIRO

-VoVó, acorda!

Ela já não possuia a agilidade articular, com a qual subira as escadarias daquela igreja há trinta anos atrás.

Desta vez, apenas o tênue calor da terra que se amornava sob o sol , e aquele doce suco de cajú na barraquinha do largo, pareciam lhe enganar que o tempo não havia passado.

Parou tres vezes no pequeno lance de escada para resfolegar e aliviar o coração, que sobressaltava pela idade e pela saudade.

-O que foi, vovó?

Empurrou a velha porta com esforço, um pouquinho de água benta na ponta dos dedos, fez o sinal da cruz na neta e em si, e tentou ajoelhar.

Não conseguiu.

Sentaram naquele mesmo banco, rezou um PAI NOSSO em pensamento, "PERDOAI AS NOSSAS OFENSAS...", olhou para neta, e enlaçada naquela mãozinha , adormeceu para sempre, esboçando um parco sorriso de Monalisa.

Eram seis horas duma tarde de outono, e o sino acabara de repicar mais uma AVE MARIA...