O CONVIDADO
Entro no banho, saio e dou de cara com Ney Matogrosso cantando em minha sala.
Pelo sim, pelo não, vejo urgência em cobrir minhas partes intimas, mas, relaxo, já estão cobertas.
- Como você entrou aqui? – pergunto –, mas ele faz que nem me escuta, continua fazendo cara de brabo, rebolando e cantando como se eu nem existisse.
Já me preparo para mandar um tapa no pé da sua orelha, mas lembro que há dois dias deixei a televisão programada para recebê-lo: Ele está absolvido, foi convidado.
Do Ney Matogrosso pode-se dizer qualquer coisa que se queira, mas de modo algum se pode dizer que ele não canta nada.
E já que ele está aqui em minha sala soltando a voz, e as vezes a franga, me dou permissão para ficar na poltrona assistindo ao seu ótimo show.
Ele... Bem, ele continua lá, na televisão, fazendo o que sabe: Cantando, rebolando e fazendo cara de brabo como se eu nem existisse.
“.... Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto. Lá lá lá lá lá ... faala!”
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