Os Gigantes do Norte, Cap 02

Se você não leu o primeiro capítulo, convido-o à leitura para o melhor entendimento da história: http://www.recantodasletras.com.br/contosdefantasia/4549315

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As árvores continuavam a ser arrancadas. O som cortante dos arbustos sendo partidos fazia com que todos dentro da jaula se arrepiassem. O capitão nada podia fazer. A situação não o favorecia, nem mesmo para os improvisos.

Os troncos que os envolviam eram fortes e quase todos colados um ao outro. Eram pequenas frestas que faziam ser capaz o avistar do lado de fora. Aquilo era uma obra e tanto. Difícil de acreditar que algum homem fosse capaz de tal façanha.

Mas a curiosidade junto ao medo estava para ser saciada. Em questão de poucos minutos, os aprisionados puderam ver a última árvore a sua frente ser derrubada. E por de trás dela, brotar o ser mais monstruoso que o homem já avistara. Nunca foi visto algo parecido. Não era um ogro nem um ciclope e muito menos um dragão. Era simplesmente um gigante, que alcançava a altura de mais de dez metros. Era maior que a maioria das árvores do local. Raras eram aquelas que se igualavam em sua altura.

- Então é isso! – disse o capitão, perplexo.

Agora, a cidade antes vista fazia sentido. Ela existia para que fosse possível abrigar tal criatura. Assim o gigante não se preocuparia em bater sua cabeça no teto. Mas a pergunta em questão era se ele era o único da ilha. A probabilidade era pouca. Imaginar um exército de gigantes como aquele era mais que assustador.

O gigantesco humanoide se aproximou da jaula. Era tão absurdo seu tamanho que apenas com uma mão, ele poderia carregar aquele amontoado de troncos enrolados. E se quisesse esmagá-los com a sola do pé, nada e nem ninguém conseguiria impedi-lo. Nenhum ser antes visto era capaz de ultrapassá-lo em altura.

- O que você quer de nós? – berrou o capitão, achando que somente assim o gigante o escutaria.

Não houve resposta. Talvez a criatura não tivesse o dom da fala, ou não entendesse a língua dos homens. Apesar de ele parecer muito com um. Até cabelo tinha. Era curto e castanho. Um pouco gordo. Alguns musculosos. A diferença só estava no tamanho. Mas o capitão não pode deixar de notar. Sua pele não era como a dos homens. Era rachada, parecia terra. Talvez pedra.

Será ele um gigante de pedra?, pensou o capitão.

Enquanto todos tentavam entender que criatura era aquela, o gigante arrancou a jaula do chão com os dedos de uma única mão. Era como se uma donzela pegasse sua acanhada caixinha de joias de poucas gramas. Mas diferente do porta-joias, aquela prisão de troncos pesava toneladas.

Quando o gigante os chacoalhou no ar, todos perderam o equilíbrio e desabaram. Foi uma grande demonstração de força da criatura. Depois, aproximou a armadilha do rosto e cheirou com toda sua força, fazendo os prisioneiros serem puxados para a parede de madeira. Em seguida, jogou uma violenta e quente baforada, que penetrou pelas frestas da armação, quase fazendo todos desmaiarem devido o odor.

Chacoalhou novamente. Dessa vez, o movimento foi demorado. Parecia estar brincando com o prêmio capturado, ou algo parecido. Todos rolaram dentro da jaula. Parecia uma caixa com pequenas bolas batendo de um lado para o outro. Alguns enjoaram, outros vomitaram. Estavam tontos e com medo.

Finalmente, o gigante começou a trotar. O capitão não enxergava para onde, mas imaginou que estavam sendo carregados para a alta cidade. Como o gigante não sacudia mais a jaula, os aprisionados se sentaram tentando recuperar a sã consciência.

- Os senhores estão bem? – perguntou o capitão.

Todos acenaram que sim, mas era de se duvidar. Alguém o perguntou para onde iam. E era claro que o capitão não sabia.

- Para a cidade colossal. – deduziu.

Eles o olharam com pavor nos olhos. Temiam a morte. E não era exagero da parte deles. Estavam sendo carregados para o matadouro. Para o local onde serviam o banquete. Tinham a sensação que aquele era o último dos seus dias.

O gigante caminhou em longas passadas. Cada passo seu equivalia a centenas de um humano comum e algumas dezenas do maior troll já visto. Seu alcance era inacreditável. Assim como sua força. Em nenhum momento, deixou de carregar a gigantesca jaula. Ela ainda permanecia em sua mão esquerda.

Algumas passadas a mais e o gigante chegou ao seu destino. Era a mesma cidade vista antes pelo capitão e seus homens, mas desta vez, estavam numa outra parte dela. Talvez uma entrada lateral.

O muro, incrivelmente alto, que se estendia por vários metros, possuía apenas um portão. Ele era gigantesco e devia pesar toneladas. Além de madeira maciça, era constituído também, por placas reforçadas de ferro. Mas assim que o gigante a empurrou fez parecer que aquilo fosse algo simples de se fazer. Qualquer um poderia abrir um portão como aquele. Melhor dizendo, qualquer exército composto por cem homens poderia. Depois de muito insistir.

O gigante deu apenas um passo e todos estavam dentro da cidade. O capitão não entendia o porquê de o muro cobrir apenas uma parte. Era estranho e diferente. Uma fortificação que não defendia toda a área.

Um dos homens se virou para o capitão e disse:

- É aqui que morreremos. É o fim da nossa expedição.

Tal fala fez com que ele se lembrasse da única viagem na história do homem onde não se obteve o sucesso. A mando do rei, o trajeto fora designado para o mesmo local de onde agora o capitão estava: o Norte. Talvez fosse nesta mesma ilha. Isso explicaria o motivo de nunca terem voltado. A história conta que dez homens partiram nessa viagem sem jamais retornar. E isso ocorrera há oito anos.

O teto foi arrancado como se fosse a tampa de um simples recipiente. Depois, o gigante virou a jaula de ponta cabeça derrubando as suas presas no solo. Estavam numa nova prisão, agora construída por altas paredes de pedra. Sendo impraticável a escalada até o topo. Era uns sete metros de altura.

Quando o capitão olhou ao seu redor, não acreditou no que viu. Ou talvez quisesse acreditar. Mas será que era verdade ou seus olhos eram enganados por uma ilusão? Quem sabe estivesse louco. Mas essa possibilidade poderia ser descartada, já que todos os seus homens também avistaram.

continua...

RENAN MOTTA
Enviado por RENAN MOTTA em 01/11/2013
Reeditado em 28/04/2014
Código do texto: T4552312
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