DOMINGO À NOITE

Pensando bem, nunca fui amigo dos dias de domingo e muito menos de domingo à noite. Pode haver maior chatice do que isso? O raio do domingo nada mais é do que o ontem de uma segunda-feira, e o amanhã do sábado! Pode haver maior pasmaceira do que isso? Principalmente, domingo à noite? Afinal, para que serve um domingo, à noite?

Nesse final de dia as pessoas, normalmente, estão em casa procurando num palheiro algo de interessante para fazer. Não é muito fácil encontrar essa coisa, pois os assuntos da semana já foram esgotados no sábado, a ressaca da cachaça, da cerveja e do churrasco já se foi com o velho “Sonrisal” e o time do coração levou uma bela goleada. Os filhos não largam da televisão, enchendo a casa e o saco da gente, com o vozerio do Faustão, Gugu. Casas Bahia, R.R. Soares e Malafaia, Macedo e outros produtos do circo midiático.

Na Internet parece que há debandada geral. Os amigos que lotam nossa caixa postal de todo tipo de “e-mails” entram em letargia e somem!

Dei uma espiada na sacada, tomei um belo fôlego, e disse adeus ao mundo. Engoli um comprimido de “Enalapril” e fui dormir. Ferrei no sono e sonhei...

Estava em um lugar completamente desconhecido. Nunca houvera andado por paragens daquele tipo. Olhei para mim e não vi nem meus braços e nem as minhas pernas. Estava tudo muito esquisito, mesmo!

O que pude observar, de extraordinário, é que estava com um agudíssimo senso de percepção das coisas e que não tinha sensação nem de frio e nem de calor. Era algo muito estranho!

Havia um zumbido suave, à minha volta, e pude ver algumas luzinhas que giravam, em órbita, ao redor daquilo que julgava ser o meu corpo. Não tinha a menor idéia de onde estava e de que estava fazendo ali.

De repente, ouvi uma voz. Somente a voz. Não via ninguém e nem nada que pudesse estar se dirigindo a mim. Na segunda vez que ouvi, pude perceber que a tal voz falava de “dentro de mim mesmo”. Estranhíssimo, aquilo! Será que estou ficando maluco? Pensei!

-- Nada disso! Respondeu-me a Voz Interna. Você está experienciando um momento fantástico. Pouquíssimos são os humanos que podem passar por isso!

-- Posso saber o motivo desse “privilégio”?

-- Humm! Digamos que você possa estar entrando em um estado de consciência um pouco diferenciado e que as informações que receberá poderão ser importantes para o seu desempenho em outras etapas da eternidade...

Achando aquilo tudo muito enigmático perguntei à “Voz Interior”:

-- A que informações você se refere?

-- Sei que você já se inteirou de que, no momento, não está usando o seu corpo. Essa diferença é que você está, agora, vivenciando a experiência da vida, como um átomo!

-- O quê? Como um átomo? Átomo de quê? Que loucura é essa?

-- Sim, agora, você está animando um dos átomos que fazem parte de uma das células da unha do dedo polegar do seu pé direito!

-- Ah! Sem essa, meu amigo! Fala Sério! Virei o “bobo da corte”, por acaso?

-- Veja você mesmo! Essas luzinhas girando em redor do seu núcleo, são os elétrons, partículas da luz que se combinam, com as outras que você tem e dão forma àquilo que os cientistas chamam de “substância”.

-- Eles dizem que “substância é aquilo de que se compõe a matéria”!

-- É isso, exatamente! Você, agora é um átomo de uma das milhões de células que cooperam para que a unha do seu dedão possa existir e cumprir o seu papel no conjunto do que é o seu pé!

Você, em combinação com as outras células, suas irmãs, produz o todo a que deram o nome de “unha”. Portanto, você está experienciando a vida como a menor partícula da substância de que se compõe o todo da unha do seu pé. Entendeu?

-- Entendi, sim! Mas acho muito complexo!

-- Por isso lhe disse que aqueles humanos que não tiverem atingido o nível de consciência adequado, jamais poderão admitir essa verdade. Estão muito longe disso!

-- De que maneira posso ver ou saber como é a imagem da “unha inteira”?

-- Ah, meu amigo! Isso, ainda não é possível! As mentes humanas precisam estar em outros patamares para poderem assimilar essa idéia. Mas, partamos para outras informações:

Agora que você já sabe que papel desempenha na unha do seu pé direito, pode começar a pensar no papel que a unha inteira faz no contexto do seu próprio pé... Também pode compreender que todas as células da sua estirpe, suas irmãs, cooperam para a existência da unha e para que ela cumpra a sua finalidade no contexto maior. Não é mesmo?

-- Sim, claro que é! Então, assim eu posso deduzir que tenho milhões de irmãs espalhadas em “outros mundos”, ou melhor, em outras unhas que se espalham pelos dedos dos dois pés e das mãos?

-- Exatamente! É isso mesmo! É como se um ser humano estivesse imaginando-se como se fosse uma célula da Terra e que a Terra, como um planeta, estivesse na mesma correlação, como uma célula do Universo!!

-- Caramba! Mas, isso é fantástico!

-- É verdadeiramente fantástico! Mas, agora, você já pode pensar um pouco mais longe do que isso! Você é uma das poucas células dessa unha que está recebendo essa informação preciosa! Das demais células dos outros dedos, nos pés e nas mãos, somente algumas como você ascenderam a esse grau de conhecimento.

Como você vê, como uma célula, o todo que é a unha da qual faz parte?

-- Posso fazer uma idéia, já que todas as células da minha família têm uma tarefa a cumprir, na manutenção da unha, e nós trocamos informações sobre o seu estado, necessidade de crescimento, anomalias, etc...

-- Isso se explica! É porque as células possuem um certo tipo de memória e essa memória armazena uma programação. Por meio dessa programação tem a faculdade de se comunicarem, umas com as outras, cuidando das tarefas específicas na manutenção da unha, conforme os arquétipos para ela delineados... Esse assunto já é concebido pelo ramo da ciência denominado de “Biologia Quântica”.

O importante é compreender que uma célula da sua unha irá cuidar e se reproduzir somente nela mesmo. Jamais irá se instalar, por exemplo, no tecido do dedo, do calcanhar ou da sola do pé. E isso vale para todo o tecido do organismo, “enquanto mantiver inalterada a programação original”.

Agora que você já se inteirou desse detalhe, comece a pensar maior: Como é que a célula da unha veria ou entenderia uma célula do tecido do pé? E como é que essa mesma célula entenderia ou imginaria uma célula da perna? E, finalmente, como é que você como célula da unha do dedão pé imaginaria o homem por inteiro?

-- Ah! Acho que as nossas limitações são tão vastas que nunca teremos a possibilidade de ter essa visualização, a não ser através de conjecturas!

-- Você falou sabiamente! Somente através de conjecturas isso é possível e tais conjecturas podem conduzir a idéias ou a imagens errôneas que nada têm a ver com a verdade... Principalmente, se forem manipuladas por outros interesses.

-- Estou começando a entender e a me colocar diante do gigantismo do que acabei de aprender! Sou gratíssimo a você, por isso!

-- Quer explicar melhor essa descoberta?

-- Sim! Acho que você me conduziu a uma viagem partindo do micro, para o macrocosmo! Sim! É isso!

-- E o que mais você entendeu, a partir daí?

-- Entendi que eu, como célula da unha do dedão do pé, posso ser análogo a um ser humano, em seu planeta. Posso entender, também, que a unha, a que pertenço, tal como as unhas dos outros dedos, podem estar no mesmo plano dimensional de outros planetas. Posso entender, ainda, que para além das unhas-planeta, há outros setores aos quais podemos chamar de sistemas, constelações, nebulosas, galáxias e, finalmente, “universos”.

-- Exatamente! Você chegou ao lugar a que precisava chegar! Se foi capaz de compreender o todo de um corpo humano, a partir da sua posição como uma pequenina célula da unha, pode, também, colocar-se diante da grandiosidade desse mesmo corpo que pode ser, para você, o mesmo que um Universo representa para um homem.

-- Então, isso quer dizer que, para a unha, “em seu todo”, o homem da qual ela é uma partícula seria imaginado como o Universo?

-- Eureka! Sabia que não estaria perdendo o meu tempo! Você acertou na mosca!

-- Agora, não mais como célula da unha, mas como homem, já pode estabelecer uma análise crítica sobre o que pensar com relação a Deus. Com seus olhos voltados para o Universo Eterno, colocando-se como uma pequena partícula nesse Corpo Divino Universal, o Todo, onde Tudo vive, respira e se movimenta... E essa visão, a partir da atual conjectura antropomórfica, desaparece. Dá lugar a algo muito maior, ou seja dá lugar à Fonte, de onde tudo provém. Sem formas, sem barbas, sem palavras, sem ouvidos, sem imagens, sem sentimentos, sem emoções, sem imposições, sem julgamentos, sem críticas, prêmios ou castigos e, principalmente, sem a difusão do medo!... Simplesmente, É o que É! “O Ser!”

-- Tudo bem! Fico muito grato por esse ensinamento. Mas, afinal, quem é você?

-- Eu Sou você! Ou melhor, Eu Sou a Fonte! Eu sou o “Ser” em você!

Acordei. Olhei o relógio e os ponteiros indicavam, exatamente, três horas da madrugada de segunda-feira. Levantei-me e fui até a sacada, olhando firmemente para o céu. As estrelas brilhavam e, dentre elas, havia uma que se destacava das outras. Parecia sorrir para mim com um jeito maternal. Um sentimento invadiu minha alma: “Saudade”....

Amelius
Enviado por Amelius em 05/06/2013
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