V. MARTE CAP. 28"

(SALVE-ME)

 
     Ana ainda sonolenta dormiu novamente, Mirote pilotava devagar a nave aproveitando para ver os progressos realizados na grande gleba, havia digitado uma mensagem para seu amigo Jacó com cópia para Fábio Brandão, mas dirigiu-se primeiro à casa do seu amigo Jacó. Quando chegou ele já o esperava e pediu para subirem ao segundo andar da casa, Ana estava encantada com a casinha enfeitada por Yasmim com flores de todo tipo, no segundo andar eles construíram um Jardim de inverno com uma pequena estufa onde cultivavam orquídeas uma paixão do casal, neste jardim bastante amplo os dois escreviam suas histórias já vividas no novo mundo. Jacó pediu para ficar a sós com Ana Margarida e se apresentou de maneira bem natural para ela, como um homem       que gostava de conversar e entender as pessoas, Ana pensou que talvez ele fosse um psiquiatra, mas ele praticamente adivinhando seu pensamento desfez este engano dizendo-lhe francamente que não era médico ou não se considerava isto, apenas era um amigo do comandante de longa data e o amigo confiava nele, e deveria ter gostado muito dela para vir pessoalmente trazê-la e lhe pedir que conversasse com ela. Ana ficou mais tranquila e disse que gostaria sim de conversar com ele.

     Jacó lhe disse: - enquanto  conversarmos quero que veja algo e acionando o controle remoto ligou um painel de três metros de largura por dois de altura. Começou a aparecer desenhos animados mostrando historinhas diversas todas relacionadas ao trabalho e a vida, pequenas criaturas que tinham às vezes apenas alguns dias de vida, mas que a viviam na sua plenitude até que a vida deixasse de existir. O tamanho dos animais começou a aumentar e a voz inconfundível de Jacó, grave, mas sem ser metálica e ferir os ouvidos começou a descrever, explicar e tecer um parecer de cada um dos animais que surgia na tela. Ana foi mergulhando na narração maravilhada com cada história que ele contava e assim foi até chegar ao ser humano... -Ana Margarida, este é o mais perfeito e complicado animal já criado, falou Jacó, por algum fator desconhecido recebemos o dom maior que pode existir, “a inteligência” Talvez outros animais cheguem a desenvolvê-la tanto quanto nós, mas ainda vai demorar muito tempo, mesmo com a ajuda da ciência e tecnologia atual.

     É difícil explicar o porquê de termos mudado tanto nosso comportamento e fugido dos padrões que seria correto na natureza. Uma manada de cabras tem um líder macho que é capaz de copular por anos a fio com todas sem necessidade de outro macho, estes mais jovens tem sua vez, mas geralmente depois do macho chefe ter já garantido sua descendência, isto vai até que tenha um macho capaz de desafiá-lo e dividir a manada formando outro bando, assim é quase com todos os animais chamados irracionais. A inteligência mudou o comportamento que seria natural no homem e na mulher, criou-se o sentido de união de grupo onde dividindo poderiam ser mais fortes, a mulher aceitava as mudanças pacificamente já que isto garantia a ela e seus filhos, segurança e bem estar. Até que ela acordou para ocupar o seu lugar correto num mundo comandado pela inteligência. Assim é agora e isto não está mais sendo dividido para unir, esta se tornando uma separação perigosa e esta sua dedicação por um macho como você demonstrou, seria louvável se ele correspondesse da mesma forma, mas o seu Sergio não é o ser que precisa de proteção de ninguém, é mau caráter, é ruim de coração e não pensou duas vezes em desistir de você para satisfazer seus próprios vícios.

     Fez uma pausa e esperando a reação da moça, comoveu-se ao ver algumas lágrimas escorrerem pelos lindos olhos verdes claros da garota, ela nada disse e ele continuou. Você com seu ato mostrou que ainda é possível ao jovem sentir muito amor e o fato de ter tentado trazê-lo para este mundo tentando livrá-lo das drogas prova isto, mas também mostra o porquê da fêmea ter aceitado por tanto tempo serem subjugadas pelos machos numa posição inferior e às vezes deprimente até levá-las a uma reação com o apoio de homens com uma visão mais larga do que a do machismo e incompreensão. A fêmea tem o sentimento da ternura e aí o que deveria ser apenas para seus filhotes é estendido para todos os que se mostram frágeis numa clara mostra de que ela é o animal mais apropriado para dominar o universos, o homem está se destruindo exatamente pela sua força e arrojo, ele não sabe como lidar com as situações de poder que acha que tem e o fato de estar sob a supremacia feminina. Aí se entrega ao vicio, a degradação e acaba sucumbindo engolido pela sua própria falta de dialogo no sentido de dar e receber.

     Sobram alguns homens e isto quer dizer entre quarenta por % que tem esta capacidade de compreensão. Os outros sessenta por % arrastam com eles trinta e cinco por % de mulheres que são incapazes de sentimentos nobres por alienação ou por defeitos congênitos. Mas é um número bastante representativo e que poderá decretar a extinção do antigo sistema de sobrevivência onde a mulher vai ser a parte dominadora e o homem agirá como coadjuvante, salvando-se alguns espécimes. Pode ser que até chegarmos a isto, haja guerra entre os dois sexos e aí poderemos estar decretando outra era, a era onde o ser humano se extinguirá dando ensejo a que outras espécies venham a desenvolver á inteligência. O fato de estarmos indo para a conquista de outros mundos pode salvar a humanidade e ai é que você deve valorizar a sua vida, para participar deste processo preocupando-se em dar esta sua ternura para mais pessoas do que apenas um que não o merece.

     Enquanto falava, a tela mostrava situações de caos da humanidade através dos tempos, mostrava homens altruístas que davam a vida pela coletividade e outros que eram monstros movidos pela ganância, vícios e poder, corrompendo e transformando seres mais simples em instrumentos para alcançar seus fins criminosos, isto levou Ana Margarida a se revoltar com o que tentara fazer, ela viu que a vida tem um sentido muito mais amplo do que cuidar apenas de uma vida, envergonhou-se do seu ato e chorou novamente, Jacó a abraçou num gesto de conforto, sabendo que alcançara seu objetivo: colocara aquela cabeça para fazer parte de um corpo. Desceu abraçado com ela para o andar térreo onde Mirote e Yasmim, tomavam café e falavam de velhas histórias da terra. Yasmim pegou a menina pela mão e a arrastou para um passeio na beira do rio, Ana sentiu que ia saber de mais coisas sobre a vida. No entanto, a jovem senhora apenas andou com ela pelos caminhos cheios de flores à margem das águas claras do Amazonas Marciano, nua pedra à sombra de uma jovem palmeira se sentaram e Yasmim perguntou a ela se conhecera o comandante Mirote antes deste dia? Ela respondeu que não, o conhecia de ouvir algumas alusões sobre ele ser o comandante da RM 0I a jovem mulher lhe disse: - ele a conhece do planeta Terra, Ana levou um susto e perguntou, - como assim? Yasmim explicou, quando ele quis saber da sua vida na terra descobriu que fora amigo da sua mãe e entrou em contato com ela, sua mãe contou-lhe que não sabia de você desde que se juntara com Sergio e agora... - Que foi, perguntou Ana? - Bem sobrou para mim a parte mais difícil, vamos lá.

     Sua mãe contou que o Sergio quando saiu das dependências de triagem carregando as drogas, foi atacado por bandidos que queriam as drogas ele resistiu e foi vitima de disparos de armas de fogo e faleceu no local. O pai dele foi avisado e por sua vez fez a sua mãe saber, mas ela não sabia onde você estava. Ana voltou a chorar, mas agora apenas como desabafo e sentida pela morte do namorado, no entanto, não sofreu nem se desesperou. A longa conversa com Jacó a fez ver a vida de outra maneira, estava convencida de ter feito tudo errado, sentia pelo Sergio que era seu primo e talvez por isto o tenha amado com todo aquele sentimento, mas ele se foi e ela estava viva e queria aproveitar esta vida com gosto e não a desperdiçando como antes. Pediu a Yasmim para retornarem e voltaram conversando agora já como boas amigas. Perguntou ao comandante se poderiam retornar a base e com sua aquiescência despediu-se de Yasmim e Mestre Jacó prometendo voltar para ficar uns dias com eles se eles o permitissem. Claro que a resposta foi positiva e eles partiram.

     Ela riu e perguntou a Mirote se ele sempre pilotava devagar? Ele disse: - nem sempre, mas quero falar mais com você e o melhor é ir sem pressa. Ela propôs que eles fossem ao Recanto das Artes comerem alguma coisa enquanto conversavam. Ele aceitou até agradecido, assim veria seu compadre Arauto das artes e conheceria sua netinha a décima a nascer m Marte filha do seu amigo com Miriam. Encostou a pequena nave e foi recebido com festa pelo amigo que deixou Ana com Mirian e a pequena Ellis e foram tomar uma cachaça que ele estava fabricando artesanalmente e servindo apenas para os bons amigos que apareciam lá, depois de saber do sucesso que estava sendo o recanto ele pediu licença e explicou que precisava ficar um pouco a sós com Ana e o amigo já querendo casá-lo de novo riu e falou: - agora vai. Ele nem respondeu, adorava aquele amigo e sabia que ele nunca ia descansar enquanto não o visse amarrado riu e foi sentar-se com Ana que estava se servindo num dos nichos de comida do recanto. Ele se serviu de um bife grosso de filé mignon, fritas, arroz e um copo de suco, após a parca mas saborosa refeição, ele perguntou sobre a mãe de Ana, ela respondeu- foi bom perguntar, eu quero justamente lhe pedir mais um favor, não tenho sido um modelo de filha para dona Márcia, mas gostaria de mudar isto se tiver um jeito de trazê-la para viver aqui, quero dar a ela todo o carinho que faltou enquanto eu vivia minha loucura de amor.

     Mirote sorriu e disse: Chegará uma nave amanhã às nove horas da manhã e sua mãe vai estar nela, enquanto estava com Jacó eu conversei com ela e a convidei a vir, uma vez estando aqui, é só uma questão de convencê-la a ficar. Os olhos de Ana brilharam de alegria, e Mirote pensou que finalmente ela estava descobrindo a vida e disse-lhe ainda: - antes de voltarmos  a nave, vamos ver outro casal de amigos o Fabio e Simone. Ela concordou e despedindo-se dos novos amigos se foram.


     Uma explicação: Devo livrar o mestre Jacó de responsabilidade, quem quiser criticar o texto, desçam o bambu no Trovador, pois, até vou lhe pedir desculpas, já que o Trovador é quem escreveu tudo e usou seu nome para dar mais ênfase ao relato, claro que se ele escrevesse o texto com certeza sairia algo realmente dentro da psicologia. Mas não posso ficar amolando o mestre toda vez que precisar de conselhos para alguém, já dizia aquele velho deitado: “o dono do boi pega no chifre” Só espero que ele me perdoe pelas coisas que eu escrevi em seu nome. Um abraço galera.



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Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 20/04/2013
Reeditado em 20/04/2013
Código do texto: T4250950
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