Love Like This: O nascimento de Aislin

Era tarde da noite e chovia muito quando Aika começou a chorar. Os raios iluminavam todo o quarto e os trovões pareciam anunciar a fúria da natureza. A jovem estava a meses sem ver o esposo e sua bebê estava para nascer a qualquer momento. Ela sentia tanta a falta do marido, estava tão sensível, queria tanto poder dar um abraço nele que banhou-se em lágrimas, enquanto alisava sua barriga e conversava com a filha. - “Minha princesinha... Quero que você cuide muito bem de seu pai se eu tiver que partir algum dia... Saiba que mamãe jamais deixaria vocês se não fosse por um motivo forte... Amo você e ao seu pai mais do que a mim mesma...” - Essas eram suas palavras pouco antes de ouvir a porta bater com violência na parte inferior da casa. Era Demetrio chegando, cansado, depois de meses de batalhas intensas e noites mal dormidas em bordéis com as cafetinas mais imundas que existiam. A anja não se importava com o que o esposo fazia, as lutas, as noites de luxúria... Ela sabia que fazia parte de sua natureza admirar espadas e mulheres e se isso o deixava feliz, então ela acatava seus desejos. Afinal, o amor puro é aquele que faz a pessoa desejar o bem e a felicidade plena do outro e não o que prende de forma egoísta o querendo só para si, deixando o parceiro infeliz. Um fato era real, Aika nem sempre conseguia controlar seu ciúmes, talvez por estar com os hormônios a flor da pele devido a gravidez a loira tenha experimentado certos sentimentos estranhos para ela como o ciúmes, mas ela tinha um jeitinho todo delicado de lidar com isso. Escondia-se no porão e chorava muito até conseguir acalmar e ficar com sono. Demetrio nunca soube disso e jamais saberia. A jovem Não queria incomodá-lo. Já era muito para um ser como ele deixar uma reles anjinha amá-lo e ser sua esposa. Era um privilégio para ela poder estar ali a seu lado mostrando a ele a cada dia que seu amor era puro e o mais belo. Agora faltava muito pouco para a bolsa se romper e a menina vir ao mundo... Aika desceu as escadas em busca do amado e viu-o sentado no sofá. Ela caminhou em sua direção, trajando uma camisola branca longa e sentou-se sem pedir no colo dele, levando os braços a envolver seu corpo o abraçando com carinho, suspirando fundo e escondendo a face em seu ombro, deixando-o ouvir sua respiração ofegante. Ela estava pensativa, não conseguia entender como ela podia amar tanto alguém que a qualquer momento poderia matá-la simplesmente por odiar a sua raça. Imaginava que ele a odiava também, mas que não havia a matado por ela ser a única de sua espécie a não ser metida e que tinha honra. Indagava-se dos porquês de sentir tanto amor por ele. Um ser das sombras, totalmente oposto a sua luz, mas que estava impregnado em cada partícula de sua essência de tal forma que ela não conseguia mais respirar sem ele. Abraçava-o com mais vigor, deixando o sentimento fluir por seus poros, por sua alma, sentindo os batimentos cardíacos acelerarem a cada pulsação, chamando pelo esposo e dizendo a cada batimento com toda força: - EU – TE – AMO! Aika o apertou ainda mais e Demetrio pode sentir seu coração gritando, vivo, feliz, cheio de emoção... E sem querer as lágrimas emocionadas escorreram de suas orbes azuladas, mas ela estava tão escondidinha nos ombros dele que Demetrio não poderia vê-la. Ela se esforçou para não chorar, mas era inútil. Seu amor era demasiado forte e sincero e isso a fazia feliz de modo que estava chorando pelo simples fato de poder abraçá-lo forte e sentir sua respiração perto do ouvido. Por saber que ele estava bem e feliz com a vida que levava, mesmo quando estava distante dela. Não conseguia falar a frase que sempre lia nos livros que todos os casais apaixonados diziam... O “Eu Te Amo”, não saia dos lábios da jovem... Ela tinha receio que isso assustasse o esposo, então a única coisa que conseguiu dizer baixinho foi: - Meu véinho... Enquanto a jovem anja estava distraída nos seus pensamentos em torno do que sentia, a pequena Aisllin começou a se remexer na barriga da mãe e enviar uma mensagem telepática ao pai para alertá-lo: - Papai, estou chegando... Prepare a mamãe, ela está muito fraca e sensível, temo que ela não resista... Leve-a para o quarto em seus braços e a coloque na cama... Ela precisa muito de você e eu também papai...

A loira não podia ouvi-la, mas sentia a pequena se mexer, deixou de lado o egoísmo de pensar em seus sentimentos e deu atenção aquela situação inusitada para ela. Soltou-se do abraço e passou a mãozinha na barriguinha e notou um movimento diferente do habitual. Neste instante ela olha nos olhos do esposo com um ar assustado, os olhos molhados de lágrimas denotavam toda a inocência e pureza daquela anja que estava prestes a dar a luz ao grande sonho de sua vida e da vida do amado esposo... Aika não sabia o que fazer...

Demetrio fez o que pôde. Levou Aika para os aposentos, buscou toalhas e água quente e também uma tesoura e pediu que a anja ficasse relaxada e focalizada na respiração. Ela o obedeceu, mas gemia de dores. Sua intimidade abria-se a medida que relaxava, mas ainda sentia muita dor. Aos poucos pôde-se ver a cabecinha da pequena. Demetrio tomou o cuidado de colocar as toalhas embaixo de Aika, segurou a cabeça da menina, apertava levemente o abdômen da loira e logo a doce e bela Aislin saiu de uma vez do ventre de sua mãe... Linda, de olhos tão negros quanto os do pai, cabelos brancos como era de se esperar e toda a feição de Demetrio. Parecia uma bela boneca de porcelana. Estava ali seu maior sonho... O sonho de ambos. Aika estava cansada, mas tinha forças para segurar a pequena filha. Demetrio a colocou em seus braços ainda sujinha do fluido que a envolveu durante os nove meses de gestação. Aika deu um beijo delicado na testa da filha e Aislin cerrou os olhos, como se estivesse exausta. Era tão esperta, mal tinha acabado de nascer e já estava com os olhos abertos observando tudo. Demetrio pegou de volta a menina, cortou seu cordão umbilical, lavou-a na água morna, colocou roupas limpas. Enquanto a limpava e vestia a pequena sabia que ele era seu pai e estava feliz em estar com ele naquele instante. Queria dizer-lhe o quanto estava feliz, mas naquele instante esqueceu-se como fazia para se comunicar com ele por pensamento... Demetrio a ajeitou na cama ao lado da mãe para que elas dormissem. Saiu do quarto e deixou ambas ali quietinhas.

No dia seguinte Aika levantou-se, tomou um banho, amamentou sua pequena e desceu as escadas para procurar Demetrio... Eis que então ela viu um pedaço de papel em cima da mesa. Curiosa, acatou o papel e leu:

“Querida anja... a partir de agora cada um segue seu caminho... Demetrio.”

A loira a princípio sentiu vontade de chorar. Seu coração apertou e acelerou, uma dor incomensurável assolava a alma da anja, mas ela não podia ficar triste neste instante. Não agora que havia tido um presente lindo como Aislin. Era sua herança deixada por Demetrio... Pensou no que será que poderia ter feito para ele não a querer mais... Napoleão entrou na casa e viu a dona entristecida, então lambeu sua mão e deitou-se em seus pés distraindo-a dos pensamentos. Aika abaixou e fez carinho no cachorro, recordando-se do dia em que ele chegou na casa a alegria que foi. A loira suspirou fundo, segurando a emoção do invólucro, reunindo forças para não cair nesse momento. Então, guardou o bilhete e foi para o quarto, chamando o amigo para admirar com ela a pequena criança. Aislin dormia como um anjo... O cachorro ia começar a latir e Aika fez sinal de silêncio, colocando o dedo indicador no nariz e dizendo: - “Vai acordar a menina... shhhh...” Napoleão entendeu e permaneceu quieto, apenas observando a doce anja cuidar de sua filha.

Passado alguns dias Aika sentia-se fraca, não conseguia comer e mal dormia. Seu invólucro estava adoecendo...

Demetrio simplesmente disse adeus e se foi. Deixando a casa para ela e a filha. A doce anjinha amava-o incondicionalmente e independente da decisão que ele tomasse, ela acatava. Se ele achava necessário partir e deixá-la, então ela entenderia e viveria sua vida, entristecida por amá-lo, mas cuidando da casa e da filha que era herdeira da residência. Caso algo acontecesse a Aika a pequena Aislin seria dona da casa do pai... Sentindo-se fraca demais, Aika preocupou-se com a filha e não conseguia ter outra ideia, a não ser a de ir para o Monte Olimpo passar uns tempos para que pudesse se restabelecer e assim voltar bem para criar a menina na terra. Pegou sua filha e o cachorro e partiu... Voltando para casa já mais forte, após alguns meses...

Aislin era o maior bem que Demetrio poderia ter deixado para Aika. Uma linda menininha que tinha muito dele. Rosto, pele, olhos... Tudo. Até o gênio da pequena se assemelhava ao do pai. Quando mamava fazia carinha de emburrada e estava sempre séria. Era raro ver um sorriso nos seus lábios. A não ser quando a mãe começava a lhe contar histórias sobre o pai... Aislin adorava ouvir Aika contando como eram os dias com Demetrio. Sempre que ela começava, Aislin ficava com as belas orbes negras brilhando como pedra úmida, fascinada com as coisas que sua mãe contava sobre seu pai...

Desde que Demetrio havia partido a loira andava pensando em comprar uma casa próxima dali, assim a filha poderia ficar perto do pai quando ele voltasse algum dia. Enquanto não comprava a casa ela decidiu dormir no quarto da criança no sofá que havia lá, pois imaginou que quando ele voltasse não iria querer vê-la em sua cama. Então pegou todas as suas coisas e mudou-se para os aposentos de Aislin. E lá passava os seus dias, cuidando da pequena, brincando com Napoleão, contando histórias e vivendo sua vida tranquila como gostava... Hoje era um dia tranquilo, estava chovendo e a loira acabava de dar de mamar e contar algumas histórias para Aislin que dormiu feliz... Napoleão também dormia e Aika permaneceu parada, sentada em um banquinho de madeira ao lado do berço, admirando a face da filha...

Fabiana Alves Chaves Ferreira
Enviado por Fabiana Alves Chaves Ferreira em 21/02/2013
Reeditado em 21/02/2013
Código do texto: T4152605
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