SERRA NEGRA V

Capítulo V

PRISCILA

Amar com toda alma e deixar o resto por conta do destino, era a regra simples observada naquela época. À medida que crescia, Priscila despertava sua atenção para esta ou aquela coisa que amava naquela fazenda na Serra Negra – uma ave voejando pelo céu azul; salpicado de algumas nuvens brancas, o relâmpago que ilumina as montanhas distantes à noite; o relincho do potro em fase de crescimento ; as plantas rasteiras e silvestres que teimam em nascer na charneca inculta, a água que escorre pelas grotas fundas formadas pela chuva do inverno – como se percebesse que em pouco tempo a parte tangível de seu mundo iria desaparecer, ela cultivava uma extraordinária consciência das marcas do tempo distribuídas pela vastidão da terra. Priscila desde cedo aprendera a acariciar o próprio passado com o mesmo fervor retrospectivo que aplicava nos deveres escolares. Assim, de certa forma, aplicava em sua vida uma tática semelhante – a beleza das coisas intangíveis, irreais – e isto promovia um esplêndido treinamento para resistências e perdas futuras. Seriam os sinais e marcas especiais tatuadas em sua alma tornando-se tão queridos e sagrados para toda a sua vida. Assim era Priscila, assim pensava Priscila, assim vivia Priscila: cheia de amor pela vida, amor para dar e amor para receber em retribuição: ela sonhava povoar o mundo de paz e felicidade. Num povoado distante alguns quilômetros da sede do município, no sítio Flexa Ligeirar para ser mais exato, uma moça se prepara com esmero em seu quarto; um lindo vestido a espera para torná-la mais bela. Filha de pais pobres, - honrados por formação e bondosos por opção -, ela era estudante do Instituto Hélio em Bezerros, a moça Priscila que ansiosa estava para ir em companhia dos pais e irmãos a fim de participar da festa do fim de ano em Bezerros. A charrete já estava atrelada a fogosos cavalos que agitados, esperavam a partida.

- Priscilinha, você já está pronta? – perguntou a zelosa mãe.

- Claro minha mãe, veja se gostou do meu vestido novo...

- Está linda minha filha, hoje você não escapa de um olhar passarinheiro! Agora vamos, seu pai já esta sentado na charrete.

- Oh gente, mãe! Que é isso? Agora eu preciso estudar muito, terminar o curso e me submeter a um teste na prefeitura para ser professora municipal...

Priscila procurava desconversar, mudar de assunto pois o seu coração já pertencia a um rapaz que a estava “passarinhando!”

Um vestido rodado, por Dona Maria Satú foi costurado, caia muito bem em sua silhueta esbelta, uma rosa rósea artificial ajustada ao cabelo ondulado a tornava ainda mais linda. Sentados na charrete, a família enfatiotada, a porta da casa trancada, todos alegres seguiam pela estrada.

clira
Enviado por clira em 07/05/2012
Reeditado em 23/08/2017
Código do texto: T3654514
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