114 – O MEU OUTRO EU (02)...

Sonhos malditos por vós eu clamo e os espero, que das profundezas dos lamaçais mais fétidos dos porões da minha alma se alevantem, as portas destas solitárias masmorras escancaradas estão, estremeçam!

- Um novo embate?

- Talvez!

Que tempos aterrorizantes voltem a ensandecer o meu pensamento, tudo que num dia do ontem no desespero, no sufoco de uma agonia palpitante, na batalha ultima os venci, acorrentei e os aprisionei nos sepulcros mais obscuros da minha alma, hoje humildemente eu os conclamo a voltarem para o palco da minha vida, cantei vitórias, bebi do mais puro dos vinhos brindando o meu triunfo sobre esta minha outra metade tão libertária, diferente e tão conflitante com a minha realidade.

Quanta ignorância, que vitória inútil, que comemorações fúteis, de vencedor a vencido na questão de um momento, um gosto de desgosto apodreceu na minha boca, ressecou as minhas entranhas, minha mão da luz desprovida tateando em muralhas intransponíveis desta realidade cinzenta e fria agora a me envolver e a empalidecer, meu olhar estuporado se fixa neste vazio melancólico desassistido de emoções na alma minha afora neste amontoado de nada em que me transformei e sinto todo o meu ser implorando pela volta dos velhos tempos de fortes matizes.

Liberto do jugo da minha outra metade um imperscrutável torpor desanimou o meu viver que do amor e da dor foi desprovido, tudo isto por herança são restos de uma personalidade que um dia foi brilhante e ousada, hoje alma alijada de serventias.

Na solidão desta vida que escolhi claramente eu sinto os meus desejos procurando por tudo aquilo que um dia foi, tudo aquilo que arranquei da minha personalidade tentado ser agradável a tantos, servil a outros, falso no sorriso estampado na vã procura de afagos por ser aquilo que no cerne do meu ser eu nunca fui...

- O que vem lá?

- O que estou ouvindo?

Ouço o uivo de um cão raivoso pela madrugada estremecendo, procurando por mim. É a minha outra metade, libertária e esfuziante, que da outra margem do rio acena festas e divertimentos, com ela tudo o que escondi e repugnei, e eu não tenho uma outra escolha, que sejam bem vindos as minhas mediocridades, a inveja, os sonhos malditos, todas as minhas amantes, todos os meus inimigos, que volte o ódio antigo, energia que sempre me impulsionou nos embates dos grandes acontecimentos, tudo que fiz e venci foi calcado no ódio, no desejo cruel de esmagar quem que pelo meu caminho ousasse se interpor, sinto saudade destes dias de fúrias, de noites insones, da estratagema esquadrinhada movimentando as peças neste tabuleiro maluco que é a minha vida, que venham os sofrimentos, os amores impossíveis, que venham tempos difíceis repletos de antagonismos e de traições...

Anjos e demônios apostando vitórias e derrotas neste encontro marcado, esperado e desejado, ousarei noite adentro atravessar este tenebroso rio, na outra margem nos confins da minha alma o pior dos inimigos pacientemente espera por mim, o mais pérfido, o mais vil e covarde, e ele nada mais é que o meu outro eu, a minha outra metade tão repugnante e tão sem escrúpulos, e eu não posso destruí-lo, se assim o fizesse estaria a mim mesmo destruindo, que não haja mais batalhas e sim um cessar de hostilidades, um tratado de paz, assim o tempo nos ensinaria a nos respeitarmos e a nos admirarmos...

A gargalhada da Medusa ecoando alma minha adentro, mau agouro na certeza, mas o que posso eu fazer?

Eu não tenho uma outra escolha, um outro caminho pra seguir, o caminho é este, vivenciar o amor sem conhecer a dor, isto é impossível, pois, é com eles que conseguirei preencher este imenso vazio que há no meu coração...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 07/12/2011
Reeditado em 12/04/2013
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