Em busca de um tesouro escondido

 

 

Um rei dizia ao filho: - Prepare-se meu príncipe, logo estará no trono, em meu lugar, portanto vá se preparando.

           

_ Não sei se quero reinar, papai. Não sinto a menor vocação para este papo de reinar. Acho que tenho mais jeito para jogador de futebol. Li recentemente que é um esporte que está em alta. - replicou o filho.

           

_ Não compreendo, meu filho. Precisamos da monarquia. - Insistiu o rei.

           

_ Coroe minha irmã. Desde o colégio tenta ser princesa, miss ou rainha. 

           

_ Oh, não posso crer no que estou ouvindo! Devo estar ficando maluco; 

 

Isto não está acontecendo!- Desabafou o monarca, entristecido.

           

O rei pediu um jornal ao Ministro, que lhe perguntou:- Nacional, senhor?

           

_ Dê-me o jornal que meu filho costuma ler. Quero ver que leitura subversiva é esta que tem virado sua cabeça! - ordenou.

           

Ao pegar o jornal, notou que era do Brasil. A manchete dizia:      
          _ “Pelé é 
declarado rei em plena Vila Belmiro. O Rei arrasa seus adversários”.

           

_Hummm... Interessante! O Brasil também tem rei, e que joga futebol. Preciso visitar este país; o povo parece... influenciado por tal rei.

           

_Vamos voar para São Paulo imediatamente! - disse o rei ao príncipe.

           

O príncipe foi o primeiro a se arrumar. A filha, precavida, preferiu ficar no país e cuidar do reino, assumindo provisóriamente o trono, como rainha em exercício, realizando é claro, parte de seus sonhos.

           

No avião, pai e filho discutem o roteiro da viagem:

           

_ Vamos assistir ao combate SAN-SÃO. Dizem que é uma verdadeira guerra.

           

Vamos conhecer o rei Pelé.- sugeriu o príncipe com forte alegria.

           

_ Ok, filho. Assim que desembarcarmos pediremos uma audiência com o rei, em nossa embaixada. Não quero me demorar. Sua irmã é muito inexperiente.

           

_ A maninha sonhou com esse dia. Não vai desapontar.- alfinetou o filho.

           

Enquanto isso, lá no reino...

          

          _ Minha princesa! - gritou o general - Fomos cercados pelos inimigos.

          

Descobriram que o rei viajou e estão a nos atacar. E agora, princesa?

           

_ E agora, digo eu?! O ano tem 365 dias e resolveram nos atacar hoje? 

           

Sem saber o que fazer, desolada, sentou-se no trono e disse: - deixe-me ver se encontro alguma inspiração - e ao sentar-se encontrou o jornal brasileiro; de repente um artigo lhe interessou: -“A vitória do Rei”.

          O artigo, era uma análise do estilo arrojado e ousado de Pelé, em campo, combatendo contra seus adversários concluía:


          “É perfeito, o estilo de Pelé. Percebe-se que há um tesouro dentro 
do rei. Ele consegue trazer de dentro de si, todo o potencial criativo e, com ousadia ele dribla os adversários que, assustados com tanto talento, tremem de medo já na véspera da jogada. Ele parece entrar em campo com certeza da vitória. Ele sempre ataca, e quando possível dá combate na defesa. Mesmo cercado pelos adversários, ele consegue driblá-los magistralmente e sair das dificuldades de modo implacável.”

           

A princesa arregalou os olhos, franziu a testa e pensou: _ Se Há um tesouro dentro dos reis, certamente que dentro das rainhas também. Se eu, um dia posso vir a ser a rainha, é melhor começar a reinar agora!

           

No Brasil, pai e filho encantam-se em pleno estádio do Morumbi. Pelé acabara de chapelar o zagueiro e agora entrava na área, e num toque mestre, lançara a bola para o fundo da rede encobrindo o goleiro. O rei nas numeradas salta e grita gol, abraçando o filho que se diverte ao lado do pai. Um dia inesquecível para aquela família, certamente.

           

A princesa decide buscar dentro de si a rainha que sempre desejou ser e reunindo o Comando de guerra e todos os conselheiros, declararou: _ Saibam senhores, que dentro de cada um de nós há um rei ou uma rainha e, dentro de cada realeza, há um tesouro escondido. Sugiro que convoquem todas as pessoas a reinarem junto comigo e que cada um, busque dentro si, o seu tesouro, que é o seu talento, e defendam nossa nação driblando os inimigos do rei e ataquem com ousadia e criatividade.

           

Entrem na batalha certos da vitória e lembrem-se que este reino não é feito de perdedores, mas de vencedores. Somos uma equipe e não apenas um grupo de pessoas assustadas; portanto à batalha! Nossa garra será maior que nossas armas, se nossa coragem for a estratégia da guerra!

           

Os oficiais ouvem a ordem, erguem suas armas num côro e saem do Palácio tomados de motivação. Reunidos os guerreiros, saem para o combate.

           

          Ao voltarem do Brasil, pai e filho contam à princesa a destreza do rei Pelé. Como ele tem determinação e controle durante uma partida de futebol. - “Não é à toa que lhe chamam de rei” - completa o filho.

           

_ E aqui, alguma novidade? - pergunta o pai à menina.

           

_ Nada tão interessante quanto o que viu no Brasil. Tivemos também um joguinho fácil em nossas trincheiras. Nossa equipe, descobriu que tem talento para driblar o medo e as ansiedades, e no final da partida ganhamos por dábrio-ó, já que eles abandonaram o jogo quando viram que iam perder. O senhor tem uma excelente nação em suas mãos. - respondeu a filha com simplicidade.

           

_ Viu meu filho? Sua irmã não tem condições de reinar. Acha esta potência de país, uma simples equipe de futebol. Essas meninas! - disse o rei caminhando ao lado do filho.

           

_ Ora pai, acha que se eu reinar, vou ser diferente dela? Se no Brasil, O rei é um jogador, aqui um jogador será o rei. Afinal de contas, o que vale é ver a galera feliz - encerra o príncipe - mas é bom pensar no talento da minha irmã, porque o povo anda dizendo que ela bate um bolão!

 

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 Julho de 2000 - homenagem póstuma ao meu pai Arnaldo Mendes 

Luciano Mendes
Enviado por Luciano Mendes em 03/07/2010
Reeditado em 18/06/2011
Código do texto: T2356050
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