De Barriga Para Baixo

De cúbito ventral estava ele na calçada

Fazia frio naquela madrugada

Ele com certeza sentia uma fome terrível

Olhei aquele ser estendido

Imune às intempéries do tempo

Enquanto eu me dirigia para a esbórnia

Ia bebericar e me deliciar com os afagos das mundanas

numa casa de tolerância dos arredores

Me vi ali, bebendo comendo e protegido do frio do calor e embebido de amor

Eu era todo prazer, de repente me veio à memória

aquela imagem do corpo exposto na rua, abandonado.

Corri porta a fora, e me deparei com o féretro rijo, gélido, duro de frio... não, duro de morto.

Era tarde, era muito tarde, e eu morri, morri socialmente, mas eu continuo bebendo e me deliciando com as mundanas das Casas de Tolerância da vida.

Eu só não tenho sido tolerante.

Du Carmu Roserval
Enviado por Du Carmu Roserval em 03/04/2010
Reeditado em 03/04/2010
Código do texto: T2175891
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