Cap 24 - Final

Haviam se passado semanas desde que a final fora cancelada novamente sem um vencedor e todo mundo tinha ido parar em um hospital devido o quebra pau que houve.

A neve começava a cair o ar gelado não só dava frio no corpo, como também em minha alma.

Na manhã seguinte eu voltaria ao ano de 2007 para terminar meus afazeres.

Sai caminhando pelas ruas de Tókio sem destino naquela madrugada. Andei por mais de uma hora sem rumo, até que ouvi alguém tocando um violão em um local de movimentação duvidosa.

Até então não tinha idéia de como tinha chegado até ali, eu estava perdida de verdade por aquelas ruas. E aquilo não me preocupava.

Entrei no local de onde vinha a musica curiosa. Era um pub escuro, com pessoas estranhas. Sentei em uma mesa e pedi um refrigerante com limão. O atendente foi rápido na entrega da bebida. Porem não me olhou nos olhos.

Bati de relance o olhar no violão que a pessoa tocava. Eu o conhecia. Observei mais apuradamente quem era o musico.

Derrubei no chão o copo que tinha em mãos ao ver Iori ali, tocando despretensiosamente.

Embora Iori estivesse tentando se manter concentrado em uma canção, ele não conseguia deixar de mergulhar em memórias sobre o que havia acontecido há dias atrás.

Eu lia sua mente claramente:

Ele pensava em coisas que ocorreram que ele sempre julgara serem impossíveis: lutar ao lado do Kusanagi, perder a consciência daquele jeito, atacar alguém sem querer, amar alguém novamente (mesmo que por alguns instantes).

Senti um nó em minha garganta em ouvir seus pensamentos. E era esse ultimo pensamento que mais lhe perturbava. O barulho do copo se despedaçando chamou a atenção do ruivo. Vi seu desconcerto a me ver derrubar o copo ao chão.

Cruzei o olhar com Iori e sorri apontando para o violão. Por meio de telepatia lhe falo:

-Você toca bem hein!

Em resposta, suas palavras mentais vieram como adagas para cima de mim:

“Maldição! Novamente essa sensação de vulnerabilidade que essa menina me traz!”

Vi o cenho de Iori fechar em uma carranca e uma corda o violão se partiu, interrompendo a música bruscamente.

Iori virou a cabeça para o lado com violência, resmungando algo. Era como se percebesse que eu estava lendo o que ele pensava.

Devagar ele levou uma mão ao rosto, removendo a franja dos olhos e respondeu-me em voz baixa me olhando com certa raiva:

- Me deixe em paz, não posso mais suportar isso. Jurei que não deixaria me levar por sentimentos assim de novo... -largou o violão no chão e abandonou o palco deixando o publico que o assistia.

Sinto que aquilo não fora coincidência. O destino havia jogado xadrez comigo me levando ate aquele lugar nas vésperas de ir embora para minha época. O sorriso que havia brotado em meu rosto quando vira aquele homem ali, sumira de minha face.

Eu me sentia em um xadrez no qual eu era apenas um peão pronto a ser sacrificado em prol de coisas maiores.

Os Olhares das pessoas se depositavam sobre mim. Eu me sentia um alvo.

Fiz menção de sair do local, me levantei e estava preparada para pagar a conta do que não havia consumido. Olhei ainda para a entrada dos bastidores. Não agüentei, me virei no sentido oposto a porte de saida e tracei o caminho em direção ao violão.

Peguei-o delicadamente, ali ainda havia marcas do suor da mão de Iori. Passeei as mãos livremente pelas cordas, dedilhando-as e restaurando a corda rompida sem que ninguém percebesse.

Dedilhei alguns acordes de uma musica qualquer e fiquei sentada na beirada do palco balançando as pernas, me sentindo um pouco mal com aquilo tudo. Eu estava me questionando sobre que tipo de coisas fazer e que decisões tomar naquela hora.

Eu realmente não sabia o que fazer....

Então comecei a cantar uma musica de coração aberto: Snow On The Sahara

(veja nessse link a musica http://www.youtube.com/watch?v=LHXyPTmliNs )

" Only tell me that you still want me here

When you wander off out there

To those hills of dust and hard winds that blow

In that dry white ocean alone

Lost out in the desert

you are lost out in the desert

But to stand with you in a ring of fire

I'll forget the days gone by

I'll protect your body and guard your soul

From mirages in your sight"

Yagami percebeu que após sua saída, algumas pessoas do publico foram embora. Então escutou um som diferente soar de seu violão que julgava estar inutilizado. Também chegou aos ouvidos dele a melodia conduzida por minha voz.

Ele se precipitou a olhar para o palco pela entrada dos bastidores e me viu cantando.

Iori se aproximou de mim bem devagar, como se a cada passo dado seu coração saltasse em uma batida descompassada.

Mais uma vez ele estava sendo dominado por sentimentos. Mas, não por um poder maligno, e sim por outra coisa ainda mais poderosa. Era algo que ele recusava admitir.

Estendeu a mão para tocar em meu ombro, mas não pôde mais se mover

Assustei-me com a presença dele atrás de mim. Quando o vi, terminei as ultimas frases da musica olhando em seus olhos, procurando não perturbá-lo, e sim declarar minhas razões:

-“I'll be the moon that shines on your path

The sun may blind our eyes, I'll pray the skies above

For snow to fall on the Sahara"

Finalizei os acordes, para em seguida lhe entregar o violão ao som de algumas palmas da platéia notívaga.

Senti que a agressividade que ele tinha em mente havia passado e agora estava totalmente paralisado. Pela primeira vez na vida lhe faltou coragem.

Simplesmente segurou o violão em suas mãos e desviou de meu olhar para o instrumento. Em um tom severo me dirigiu as palavras:

- Você... o que veio fazer aqui? – depositou o violão aos pés do banquinho.

- Você parece que não quer falar comigo, Yagami... - procurei o olhar dele. - na verdade... Caminhei pelo caminho que a lua no céu me iluminou. – senti meus sentimentos serem esmagados como flores são ao sentirem as rodas de tratores. - Parece que a lua segue suas costas... mas você vê apenas sua sombra e não a de outras pessoas atrás de ti. - desviei o olhar que ele não queria me dar e sai em direção à porta.

Yagami me segurou pela mão com força, com um movimento inusitado, sem pensar. Foi apenas um reflexo. Por instantes ele se questionou do porque fazer aquilo e hesitou a começar a falar:

- Não... eu não... –soltou meu braço lentamente, respirando fundo - Apenas não posso permitir isso, será que não entende!!?? Não sou digno desse sentimento, não posso me dar ao luxo de mante-lo. Você mesma sabe, pois estava lá, sentiu e viu o que posso fazer quando perco a consciência...

Falei, ainda virada de costas, para aquele homem que tanto mexia comigo:

- você prefere sempre perder a consciência para o lado ruim e nunca para o lado do bem? Se preferir... – virei em sua direção, me aproximei e toquei seu peito de leve com a minha mão direita – eu me retiro desse instante de sua vida e de suas lembranças. – suspirei com tristeza na alma - Sabe que posso apagá-las, não sabe?? Se elas tanto te martirizam, eu soluciono seu problema.

Eu me perguntava por que às vezes eu me sentia tão mal? Por que ele fingia não gostar de minha presença? Eu lia a mente daquele homem, sabia o que pensava.... será que ele sabia disso?

Eu tinha certeza que aquela pergunta havia lhe perturbado muito.

A voz de sua razão lhe dizia que seria melhor não mais se lembrar de mim.

Mas eu via que ele brigava com uma nova voz que gritava desesperadamente para que se rendesse aos sentimentos que tinha.

Quando percebi que seus olhos pesavam com a presença de lágrimas, Yagami me deu as costas, não querendo mostrar aquela reação e me respondendo inesperadamente a pergunta que eu tinha feito:

- Eu não prefiro perder a consciência para nada. Mas... mas... não tive escolha, e se isso acontecer de novo? – vi seus ombros arquearem a procura de ar - Eu não posso permitir que ninguém volte a se ferir por essa condição minha! É meu dever ser forte contra essa maldição, embora as pessoas não mereçam.

Senti meu coração apertado. Abracei-o pelas costas, encostando meu rosto banhado em lágrimas em sua nuca. Ele continuou sua frase em pensamento:

- Por isso jurei jamais ceder a nenhum sentimento de novo... mas agora, está difícil manter esse juramento... -quando ele disse essas últimas palavras vi uma lágrima cair no chão. - Quanto tempo faz...? quanto tempo faz desde a ultima vez que derramei uma lágrima?

- Não posso forçá-lo a gostar de mim, nem de ninguém. Muito menos posso permitir que sofra com isso. - sussurrei e afrouxei o abraço aos poucos.

Deixei-o. Fui caminhando contando passos até a porta.

As lágrimas me embaçam a visão. A solidão dele é a mesma que a minha.... não temos em quem nos apegar. Pela primeira vez em minha longa existência havia visto uma pessoa que guardava dentro de si as mesmas magoas que eu. Mas, por motivos inexplicáveis, aquilo não parecia nos unir e sim nos separar.

Dei um murro na porta, fazendo um barulho imenso de vidro e madeira se quebrando.

Olho com raiva para minhas mãos que se feriram como mãos humanas. Mais uma vez eu parecia humana e não era. Com as mãos sangrando, voltei correndo em direção de Iori. Pulei em seu pescoço beijando devagar sua testa, nariz e boca.

Senti que Yagami havia se surpreendido com a minha atitude. Mas em alerta, ele apenas me retribuiu o beijo.

Senti que seu coração batia tão forte que parecia surrar-lhe o peito.

Ele me olhava nos olhos quando arrancou um pedaço da manga de sua camisa e amarrou em minha mão para que não sangrasse mais.

As mãos dele estavam em minha face, senti ele encostar meu rosto no dele e mais uma vez caíram lágrimas de nossos olhos. Ao afastar meu rosto lhe dei mais um beijo, cheio de alegria, amor e paz… porém, sabia que algo dentro de nós estava se despedaçando.

Iori começou a falar antes mesmo que terminássemos o beijo:

- Não vou pedir que me perdoe, nem que me entenda, apenas que...

Levei meu dedo indicador aos lábios dele, ainda úmidos. As palavras não eram necessárias. Sequei a lagrima que estava caindo de seus olhos com as costas da minha mão. Senti meu coração parar quando Iori terminou sua frase:

- Peço apenas que me esqueça... – fechou os olhos, para não me encarar.

Essas foram as palavras mais difíceis que ouvi em toda minha vida. O chão havia sumido, tudo se embaçava.

Saí dos braços daquele homem, coloquei os pés no chão, sentindo uma dor indescritível na alma.

Com os olhos doendo, segurando as lagrimas que teimavam em sair, abri a boca e não consegui pronunciar nenhuma palavra.

Apenas engoli todo e qualquer sentimento que eu seria capaz de sentir. Sorri, de olhos fechados lutando contra as lagrimas.

- Me perdoe a aproximação. ... em momento algum ... queria... - balancei a cabeça espantando todas as palavras que eu seria capaz de dizer naquele momento.

Apenas dei-lhe as costas e fui me dirigindo à porta lentamente.

Na rua eu sentia a neve caindo aos poucos, gelando meu coração e meu rosto molhado. Recomecei a caminhar de novo sem saber para onde ir.

Aquela sensação de vazio e de medo era meu destino.Talvez fosse necessário para seres como eu viver sem rumo, sem ninguém.

Era como poder caminhar acima da vida das pessoas, sem que elas percebam quem eu seja realmente.

Virei as costas definitivamente daquele tempo e lugar. Invocando o espaço e tempo para voltar ao ano de 2007.

A manhã pintava o horizonte de rosa e azul naquele momento. O sol nascia e a lua se escondia atrás de meu coração.

Nisa Benthon
Enviado por Nisa Benthon em 15/12/2009
Reeditado em 10/10/2015
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