O dia de visitas
Dona Laura já estava apreensiva, afinal, aquele era o dia tão esperado das visitas, e ela e seus vizinhos, esperavam ansiosos. Na outra rua a espera também causava rebuliço. O Sr. Antonio, que era um dos moradores mais antigos, relembrava os anos que passara desde que havia chegado. Ele fazia questão de relatar para os mais recentes moradores todas as suas experiências em outras visitas, orgulhoso ao falar sobre os parentes e amigos que vinham visitá-lo.
Porém, em outra rua, entre outros vizinhos, estava o Sr. Joaquim, triste e sem muitas palavras. Ele era um antigo morador como o Sr. Antonio, mas ao contrário do amigo, nunca havia recebido nem uma visita sequer. Embora ano após ano se preparasse para o dia de visitas, ninguém aparecia. Era como se ele não estivesse lá, como se nunca tivesse tido parentes ou amigos.
Era um lugar de muita calma, onde moravam pessoas ricas e pobres juntas, sem se importar com suas diferenças.
Já eram oito horas quando as visitas começaram a chegar. Aos poucos as ruas foram ficando lotadas de pessoas, cada um visitando seu parente ou amigo.
De repente, o momento saudoso foi interrompido, e o silêncio imperou por um momento. A protagonista do acontecimento era Júlia de oito aninhos apenas, que acabava de chegar e ia morar atrás da rua da Dona Laura, ao lado da casa do Sr Joaquim. As crianças do local logo vieram dar boas-vindas à chegada de mais uma amiguinha.
Foi exatamente nessa hora que aconteceu algo que emocionou a todos os moradores. Acontece que a Júlia era bisneta do Sr. Joaquim, (aquele mesmo que nunca havia recebido nenhuma visita), Então seu neto (que era o pai de Júlia), veio até onde estava o Sr. Joaquim, conversou com ele, pediu desculpas por nunca ter aparecido para uma visita e lhe fez um pedido. Para que ele cuidasse de sua filhinha. O velhinho ficou contentíssimo com a visita e lisonjeado com o pedido que prometeu cumprir.
Seu neto foi embora, ao sair deixou algumas flores e limpou a plaquinha que estava pendurada na porta onde estava escrito;
“Aqui jazz Joaquim da Silva”.
1908 à 1978
Saudades de sua família“.
Foi nessa hora que os portões do cemitério começaram a ser fechados. Estava acabado o dia de visitas e tudo voltou à sua calma costumeira.
Marcelo Bancalero