A Fumaça saindo da velha chaminé

Era uma manhã de Abril, o céu estava cinzento! fui com meu carro, ao aeroporto de Viracopos, um Chevrolet Caravam anos 80, passando pela Helvetia.

Quando entrei na estradinha, onde hoje tem um posto de gasolina, um velho com um pequeno cachorro, me fez sinal pedindo carona.

Eu estava só, parei, abri a porta lateral e lhe disse pode entrar.

Ele entrou e colocou o cachorro no colo, quando atravessamos a ponte da Helvetia, aquela sobre um riozinho, ele me agradeceu, desceu desejando-me uma boa viagem. Cumprimentei-lhe e continuei o caminho para seguir para o aeroporto pela mesma estrada, quando iniciei a curva que antecede a subida, estrada não asfaltada até hoje, vi com surpresa que o velho, e uma velha acenavam para mim, numa velha casa, com a chaminé fumegando. Fiquei surpreso, pois o havia deixado bem antes. Parei o carro, eu estava bem adiantado para a entrada no serviço, desci e fui até eles.

Pediram para que eu entrasse, entrei e sentei-me numa cadeira confortável, a senhora num velho vestido largo me ofereceu uma xícara com café.

O velho ficou no quintal amarrando o cachorro, quando eu ia perguntar como ele tinha conseguido andar tão rápido até a velha casa ela disse que ele havia cortado caminho, tudo pode aquele que crê.

O velho entrou e fechou a porta, uma bela sinfonia comecei a escutar, sem que eu visse nenhuma vitrola tocando.

Eloin, esse era seu nome, se apresentou, eu me apresentei e lhe disse que trabalhava no aeroporto de Viracopos, ele me disse, sei. Ele me disse que conhecia o aeroporto e admirava tudo o que via la e ao redor. Perguntei-lhe se lhe podia fazer uma pergunta, ele me disse, esteja a vontade, Maria diz que tudo pode aquele que crê.

- O que o senhor foi fazer na cidade com seu cachorro?

-Fui comprar fumo de corda para o meu cachimbo e um pouco de ração para o Tobi.

- E se eu não lhe tivesse dado carona?

- O Senhor tudo provê.

- vocês conhecem bem as escrituras não?

- Nós há estudamos, e as vivemos cada dia. Isso é necessário, e ajuda a enfrentar as duras provações que nos visitam, como a morte, por exemplo.

- vocês acreditam que tem vida depois da morte?

- Esta escrito que devemos viver, morrer e renascer a fim de alcançarmos a perfeição.

O ambiente estava fascinante, a medida que o tempo passava mais eu me sentia a vontade, ele então me convidou para irmos ate seu pomar que ficava a beira do riacho, no fundo da casa. La na sombra de uma laranjeira florida, ele me pediu para sentar no gramado, me contou então que ali estava uma pequena mostra do nosso grande universo, a semente, a flor e o fruto, a obra da abelha que colabora em dar as flores a condição de poder dali brotar o fruto, tudo seguindo uma lógica de perfeição inigualável, se o homem soubesse ver na fruta que come, no perfume da flor que cheira, na constituição da água que bebe, na limpeza que o raio faz no ar que ele respira, ou ainda nos benefícios que a chuva traz para a terra sedenta, olharia com outros olhos tal cenário e procuraria colaborar ao invés de destruir, tudo o que o circunda, desde uma simples galinha que oferece seus ovos e sua carne até o oceano que nos oferece seus peixes, assim como juntamente com as florestas permitem a vida orgânica no planeta seguramente ele, elevaria preces de agradecimento ao fim de cada dia por ter nascido em tal contexto, mas ao contrario o homem quer desfrutar egoisticamente de tudo que a natureza lhe oferece e assim sofre e faz sofrer seu semelhante.

-E como poderia o homem satisfazer tais exigências?

-Existem dois modos de aprendizado um é pelo amor é outro pela dor, com o livre arbítrio podemos escolher, gozar ou chorar.

-Poderia o homem sem sofrer, entender que o modo que ele vive está errado?

-Somos dotados de inteligência que se desenvolve a cada oportunidade vivida.

-Em todas as épocas, tivemos mártires, grandes pensadores para nos guiar para melhores atitudes ou ações, agora parece que não temos nenhum não é verdade?

- Eles semearam, cabe a nos, a colheita.

-Se você jogar um pedra no rio, ela afundará mas o rio continuará o seu rumo, se amanhã você caminhar nesse mesmo rio a pedra que você jogou poderá lhe cortar os pés, e você culpara o rio não é verdade?

-Assim nos ensina a filosofia do bom viver, faça o bem, pense em fazer o bem, e ensine seu semelhante a fazer o bem, e o rio irá tirar da pedra, seu lado cortante lhe dando a chance de pisar sem danos ao seu pé.

- é uma árdua tarefa.

- Essa laranjeira um dia foi uma simples semente que encontrando solo fértil pode atingir essa altura e nos dar esses frutos deliciosos. Perseverar é o lema que deve ter o homem em suas atitudes em prol do bem.

Confesso que gostaria de ficar ali conversando com aquele senhor mais um pouco mas as horas corriam depressa, me despedi e voltei para meu carro e rumei em direção ao aeroporto.

Conversei com meus colegas sobre essa aventura e um que morava ali na Helvetia me disse que ali onde eu falei que tinha estado, havia sim uma velha casa, mas que uma enchente havia destruído a casa e matado um casal de velhos que ali habitava, salvando-se somente um cachorro que havia subido num pé de laranja.

No dia seguinte, por curiosidade voltei ao lugar e de fato não vi a casa nem a chaminé fumegando, andando pelo lugar e pensando que ali havia uma laranjeira, de repente vi tudo de novo, o fundo da casa dando para o rio, o pé de laranja, e novamente sentado sob a arvore encontrei Eloin me olhando convidando-me a sentar ao seu lado.

- Ola, disse, como vai?

- Desculpe mas, não estou entendendo...

- O tempo não existe, podemos ir para frente ou pra traz através de nossa mente, agora que você voltou pudemos sintonizar com o ontem e tudo ainda esta como quando estivemos trocando alguma considerações então é difícil entender?

- Não tenho tanta capacidade, mas admito que as vezes vagueio pela infância, pelos brinquedos que tinha, vejo os amigos, enfim tens alguma coisa nova para me dizer?

-Nada é novo sob o Sol que nos aquece, se ilude aquele que nisso acredita.

- Eles nada descobrem apenas encontram o que está esperando para ser descoberto.

- Se isso é verdade, tem alguma coisa nova para ser encontrada?

- Por enquanto o homem está sendo incentivado pelo dinheiro, e isso faz com que muitos benefícios para a humanidade não sejam revelados esperando um momento mais adequado para tal. - O dinheiro foi inventado para ser um meio não uma finalidade.

- Mas quem pode viver sem ele?

-Para viver precisamos somente respirar, lembre-se que o que você tem em seu interior é o que vale.

- A economia global não pode prescindir desse sistema...

-Mas a volúpia de ganhar a escraviza a esses desejos.

- Tudo que precisamos então é nos cristianizar? Virarmos filósofos?

- Você está certo, e isso antes que seja tarde. Precisamos ser pombas com a vivacidade da serpente. Isso irá contribuir com a nossa felicidade.

- Quem pode nos exemplificar tal sabedoria?

- Nós deveríamos aprender com a Natureza, que tudo nos oferece, mas deve ser usado com parcimônia, com inteligência ou seja, para durar eternamente, se tais ofertas se transformam numa fonte de renda, tais recursos são explorados a fim de oferecer mais lucros e daí gera super produção sem a devida reciclagem originando a escassez pela falta de produtos básicos com os danos ecológicos. O homem enquanto nesse minúsculo planeta, deve se considerar em transito, como se estivesse numa prisão, fazer menos danos ao que o circunda procurar se irmanar seus semelhantes, e contribuir, com tudo que o cerca.

- Vamos entrar vou lhe mostrar uma coisa. Disse Eloin.

Entramos e ele me colocou junto à janela, lá fora estava a laranjeira, sobre a mesma o sol brilhando e no fim do quintal o rio correndo, ele me colocou junto a vidraça e me fez ver que eu também estava naquele conjunto de objetos refletidos na vidraça, então me disse:

- Vês? Tudo se harmoniza sem agressões, assim deve ser o mundo, tudo junto, mas cada um na sua freqüência vibratória, e isso não é difícil, é uma lei que deve ser obedecida, aquele que agride ou altera o que lhe circunda sofre as conseqüências. Para isso foram criadas as leis.

Fiquei ainda por um momento ali me olhando na vidraça, junto a Laranjeira, ao sol e ao riacho e de fato eu ali estava inteiro participando de um momento que poderia até sentir as freqüências vibratórias de tudo o que me cercava inundando-me de paz.

Maria me chamou para ir até a cozinha, e saborear um gostoso café, fui devagarzinho de costas, ate a porta da cozinha, a fim de não perder a sintonia com aquele quadro maravilhoso, um crepúsculo se avizinhava. Sorvi o café ainda inebriado por tal magnitude, os cabelos brancos da senhora perto do fogão a lenha, e a figura pacifica de Eloin perto da porta da cozinha fumando seu cachimbo.

Não quis perguntar mais nada, voltei para porta e vi do rio subindo uma neblina, envolvendo tudo que ao redor se encontrava, fiquei olhando aquele ambiente e de repente vi uma figura de mulher jovem com cabelos longos, ir se formando saindo das águas e vindo em direção da janela, quis chamar Eloin que continuava a fumar seu cachimbo, mas a jovem fez me sinal de silencio, convidou-me a sair, dei a volta e fui lentamente ao seu encontro, sua vestimenta longa e diáfana, quase transparente, me estendeu seus longos braços e me entregou uma pedra brilhante e calmamente se dirigiu para a neblina que cobria o riacho. Não tive coragem de dizer nada, e assim com a pedra em minha mão voltei para dentro de casa. Eloin veio até mim e disse que aquela pedra era uma confirmação do que eles me haviam dito nos dias antecedentes, se você se ferir e culpar o rio, a pedra que você jogou e pisou em cima, foi trabalhada para te beneficiar e não lhe ferir. Assim, o riacho lhe devolve como uma jóia esculpida.

A natureza não é morta como chamamos nada causa de dano ao homem, somente lhe devolve o que recebe.

O maior beneficiado em todas as ocasiões é o homem que é a imagem de Deus e tem por escopo ajudar o planeta.

- Essa pedra vos pertence, tome.

Peguei a mesma, me despedi e quando entrei no carro, pelo espelho retrovisor, vi os dois me acenando.

Meus olhos anuviaram.

Lembrando desse acontecimento através da leitura do livro a cabana, vejo que não é raro nos situarmos em certas dimensões que nos ampliam o horizonte da compreensão que se harmoniza ao nosso redor.

Todos nos, independente da idade ou do sexo, vibra numa certa freqüência que bem estabelecida, em suas raízes ou dimensões, nos distinguem da mediocridade de vida que levam aqueles que somente trabalham e estudam a noite para pegar o canudo da formatura. Somos mais que simples criaturas trabalhadeiras, possuímos uma inteligência que nos permite viajar sem sair do lugar, através da leitura de um bom livro de aventuras, ou escutando uma musica clássica que nos eleva o pensamento as alturas.

Os nossos cinco sentidos, podem se ampliar e vermos e escutarmos em freqüências altíssimas como aquelas sentidas pelos cães por exemplo.

Somo saciáveis com o gozos do sexo, da gula, e dos demais prazeres materiais, mas nós somos seres espirituais, presos atualmente a um corpo carnal perfeito para nossas necessidades evolutivas.

Se ocorrer um fato semelhante a esse, busquemos repeti-los sem alardeados para evitar certas explicações que as vezes são cansativas.

Nada é extraordinário ou milagroso tudo esta dentro de uma dimensão alcançável por aquele que se dispõe a penetrar tais labirintos.

Não sou diferente, ao contrario ainda encontro muitos gozos nas coisas terrenas, uma das questões que admiro quando converso com amigos que não bebem, não comem carne, é que para eles meus exageros são perniciosos, eu não os vejo assim.

Numa passagem bíblica esta o Apostolo Pedro tendo uma visão e uma voz diz que nada deve ser evitado por razões que ainda não estamos convencidos de sua utilidade, ou de outra quando Jesus diz que o tem valor é o que sai e não o que entra na boca.

Na musica ou na literatura sempre me sensibilizo ao ponto de derramar algumas lagrimas, e isso é tão sublime que sinto falta quando não pratico tais exercícios.

Na amizade porem sinto que esta umas das maiores satisfações que o ser humano possa de alguma forma usufruir de um bem estar infinito. Não importa se seja num bar ou numa sala, o importante é ter aquele papo legal com os amigos que sempre tem uma visão cômica daquilo que é conversado, seja fofoca, seja política, com os amigos não se fala de religião.

Já o futebol é a paixão de todos os freqüentadores de bares, e isso faz com que sintam raiva, tristeza, gozo, prazer numa coisa que as mulheres dificilmente entendem.

Assim seja no comer ou no beber o nosso corpo sempre nos satisfaz.

Uma historia interessante é aquela em que um homem estava pescando e como ele nada pegava, resolveu abrir uma latinha de cerveja bem gelada e esquecendo-se da vara virou a lata na boca, a cerveja descia redonda, refrigerando a parte interna de seu corpo, ouviu um barulho da linha correndo no mar quando olhou: vara e linha afundando nas águas salgadas, olhou ao redor, nada viu então disse um palavrão bem alto, terminou de tomar a cerveja, preparou outra vara e a jogou no mar, como passava o tempo e nada acontecia, amarrou a vara no suporte de seu barco, e abriu outra latinha, virou na boca e viu a vara quase afundar nas águas azuis, colocou a lata de volta na geladeira e lutou com a fera que teimava em levar sua vara para o mar, depois de mais ou menos vinte minutos saiu do mar uma bela pesca, tendo em seu rabo a vara que ele havia perdido momentos antes, de um momento pra outro teve tripla compensação peixe, varas, e cerveja gelada.

Pensou que havia perdido o que ainda não estava.

Pensava que a sorte o havia abandonado, quando ainda o estava ajudando.

Pensava em deixar tudo e voltar pra casa, quando ainda não havia começado a pescaria de fato.

A alegria tomou conta dele, e daí pra frente foi só prazer, encheu o barco de pescadas, espadas e demais peixes, não teve mais tempo de beber.

Quando o vento estiver a favor aproveite solte sua pipa, o mais alto que puder, já quando o vento estiver contra, veja como usá-lo a seu favor, não o xingue, e nem de mais valor do que ele tem.

A vida não é feita só de subidas, temos as retas e as descidas.

Mesmo assim o homem facilita suas tarefas inventando meios de locomoção que o levam mais depressa e sem fadiga ao destino.