NEM DISSE..

Desta vez ela chegou encorpada, parecia mais segura e entrou abrupta e presente como a ventania pondo riscado nas paredes, desmontando o vazio e jogando imagens em tudo.

Descortinou as lembranças que bem queria. Forçou as portas e frestas do pretérito, assim num vai e vem tão fremente, como se quisesse as palavras que, naquele momento, ele não sabia...

- O que tens a me dizer?! Disse ela esperançosa.

E nada... Dele não se ouviu nada...

Onde só havia silêncio e espera, ela, indiferente por tanta inércia, rodou, rodou, e rodopiou três vezes e partiu ainda mais desordena.

Mas, aquele mesmo vendaval que a levara, também arrastou tudo, inclusive o tempo...

Ah, o tempo...! Corajoso tempo... Conduzido ao passado, mergulhado em regresso e guiado a buscar, nas entranhas das recordações iniciais, das percepções mais significativas, algo que sempre demonstra o engatinhar de qualquer existência posta em prova...

Como se diz ao silêncio que console a vontade do vento tornado tempestade?????

Talvez, no escuro onde se perderam as incontáveis letras desfeitas, onde se tentaram as palavras perfeitas e as frases mais belas, encontrasse num canto isolado um perfeito instantâneo de magia que a acalmasse em recompensa...

Mas, não!

Merecia ser maior... Merecia ser real... Ser de fato...

Algo que ligasse o passado ao presente e que singrasse perpétuo; Algo além dos versos...

Algo dela...

Eis que o senhor tempo redargüiu...

- Por maiores que sejam as proporções do vento no seu interior restará algo que viverá preservado... Persistindo na calmaria um som de vento leve, de alísio sussurrando, de uma brisa quase infantil...

E assim, ele pensou resoluto:

Mesmo que os ventos não a tragam mais a estas portas, restarão ainda muitos outros caminhos que ela, certamente, seguirá em paz. Parabéns! És vento quase furacão, mas ainda continua com aquele mesmo som sincero, solto e feliz de sorrir menina.

Mas, dizer...

Não disse nada!