O Verão de 1993

Acordei cedo, muito antes do que o normal. Acredito que na verdade mal dormi devido à ansiedade. Naquela manhã íamos para a praia. Eu, meus pais e minha irmã. Meu irmão mais velho, que morava em outra cidade, ia nos encontrar lá.

Saímos de Vacaria até o balneário de Cidreira, litoral norte gaúcho. Seria a segunda vez que eu ia para a praia. Na primeira eu era muito pequeno e as lembranças me eram bastante rarefeitas. Agora, com dez anos de idade, eu possuía uma consciência melhor do que me esperava lá. Meu pai havia deixado tudo preparado na noite anterior. Mantimentos no porta-malas de nosso recém adquirido VW Passat. Era a primeira vez que íamos viajar com o “novo” carro da família.

Lembro de acordar e ouvir meu pai na garagem acomodando as últimas coisas no porta-malas. Ele estava há muito tempo acordando. Talvez também estivesse como eu, ansioso por aquele momento. Ajudei-o a revisar as coisas, ainda que tudo já estivesse mais do conferido.

Em seguida minha mãe e irmã acordaram e não demorou muito para estarmos na estrada. Com a parada para o almoço chegamos pouco depois do início da tarde. Instalamos nossas coisas na colônia de férias. Seria uma estadia de uma semana no litoral.

Íamos para a beira-mar todos os dias. O tempo passava rápido. As brincadeiras na areia eram mágicas. O calor era reconfortante. Lembro-me bem da brisa salgada e do cheiro de milho verde. Não era um legume diferente do que eu comia na cidade, mas ao mesmo tempo possuía um sabor totalmente distinto.

A minha mãe e minha irmã ficavam a maior parte do tempo tomando banho de sol e eu ia com meu pai e meu irmão para o mar. Nós três pulávamos as ondas e jogávamos água um no outro.

Aquilo não era algo que fazíamos sempre. Não conseguíamos nos reunir com frequência. Não brincávamos juntos sempre. E nunca antes estivemos juntos no mar. Só que ali, dentro daquele quadro, nada disso importava. Éramos somente nós três e o tempo havia parado. Era uma pintura em constante movimento onde consigo recordar de cada momento como uma pincelada de amor e alegria.

Eu estava ali com as minhas maiores referências masculinas, brincando na água e fiquei em êxtase. Senti-me como nunca seguro e realizado. Não ouvíamos nada além de nossas risadas e o barulho do mar.

Aquele verão foi o único que pudemos celebrar juntos. Meses depois meu pai partira vítima de um derrame cerebral. Os anos se passaram e as lembranças daquele dia no mar nunca me abandonaram.

Hoje, mais de trinta anos depois, quando me sinto só, teletransporto-me para aquele verão. Consigo sentir o calor do sol e o frescor da brisa. Percebo-me novamente sentado lá na beira do mar afundando os dedos e a areia fica entre eles. Ouço as risadas dos meus dois amigos.

Vamos cara! Escuto meu irmão. Levanto rapidamente e corro em direção a eles. Chutamos a água que vem nas pequenas ondas iniciais. Olho minha irmã e minha mãe. Aceno. Volto-me ao mar. É muito bom estar aqui com vocês.

Sol, água e acalanto.

O verão de 1993 foi perfeito.