SUAS MÚSICAS

Ele na sala ou no quarto ouvia suas músicas de antigamente.

Aquelas letras me angustiavam pelas palavras de traição, despedida, saudade, paixão, frustração.

Eu, que fui da capital federal, onde os ritmos dos anos 70 embalavam minhas noites e até hoje sobem o meu astral, achava muito chato ter que escutar algo que me deixava cheia de dúvidas.

O rico repertório de: Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Altemar Dutra, Aguinaldo Rayol, Luiz Gonzaga, Angela Maria, Alberto Luna, Carlos Nobre, Nubia Lafayete, Carmem Costa, Agostinho dos Santos, Elizeth Cardoso, Moacyr Franco, eram dos seus gostos os mais preferidos.

Implicava com ele pois não via alegria nessas músicas.

Para ele era um descanso, uma terapia, lembranças da juventude, dos pais, das orgias, das mulheres que teve.

Sempre dizia essas letras tem poesia, beleza, não são como as de hoje. E eu concordava.

Ficava horas a escutar suas músicas, passando de um cantor para outro.

E eu no quarto como ouvinte desgostosa a ouvir e imaginar o que se passava na cabeça dele. Chegava a sentir ciúmes.

Nunca soube, mas esse ritual sempre foi uma das poucas coisas que o alegrava.

Hoje entendo e me perdoo pela incompreensão e até gosto, valorizando nossos eternos cantores e pelo pano de fundo que envolve o ambiente de nossa casa com as baladas de outrora.