Eram apenas cartas (BVIW)

 

Ah, as cartas, aquelas escritas nas traçadas linhas de papel com frases, às vezes, sem sentido, do tipo: “meu amor é do tamanho da minha saudade”. Sinceramente, até hoje eu não sei qual medida se usa para dimensionar um sentimento, deduzo, nesse caso, que seria em quilômetro (km), já que as cartas, geralmente, eram enviadas via correios.

Tetê, uma amiga de infância, enamorou-se de um jovem, o Joaquim, que morava na cidade de São Paulo e veio visitar seus familiares que moravam nointerior do Nordeste. Por alguns meses, depois que ele voltou para o Sudeste, Tetê escrevia cartas para seu amado, e me pedia para eu corrigir os erros de Português. Confesso que eu ria de algumas frases sem nexos, mas não as comentava, pois sabia que por trás daquelas palavras havia uma jovem apaixonada pelo seu primeiro namorado.

Numa dessas cartas, lembro-me de um trecho que dizia assim: “escrevo por essas linhas tortas para dizer que estou pensando em lhe fazer uma surpresa. Comprei passagem para o dia 20,portanto, daqui a um mês, mas não fala paraninguém”. Fiquei sem entender para quem era asurpresa. Mas, o bom dessa história é que o Joaquim respondia as cartas de Tetê, e nelas também havia frases do tipo: “desde que lhe conheci não faço outra coisa”. Deduzi que essa “outra coisa”devia ser pensar nela. E era no que Tetê também acreditava. Porém, uma das cartas de seu apaixonado Joaquim, ela não me mostrou, só me olhou com os olhos cheios de lágrimas. Abraçamo-nos. Em silêncio, ela pegou a caixa onde guardava as cartas amorosas e as queimou, só assim ela poderia esquecer as mentiras que havia por trás daquelas frases “vazias de amor”.

 

Iêda Chaves Freitas

20.06.2023

 

Tema da semana – Por trás das cartas