O "TROCO" E A FORMAÇÃO DO MUNDO OCIDENTAL

Certa vez me perguntaram quais os fatores que, em minha opinião, mais contribuíram para a formação do mundo Ocidental. Naturalmente eu fui pego de surpresa, não por ter que pensar sobre isso durante uma gincana de arremesso de tortas, mas por ser uma pergunta que envolve uma quantidade considerável de possibilidades relativas. Ou qualquer coisa do gênero.

Mesmo depois de ter vencido a gincana e de ser ovacionado como o melhor arremessador de tortas de maçã do bairro, a filosófica pergunta não saia de minha cabeça. Assim sendo, durante semanas me empenhei em pesquisas na tentativa de debulhar o assunto, chegando a uma apreciação que pode, sem dúvida, virar matéria científica, tese de mestrado ou mesmo uma possibilidade de assunto capaz de espantar visitas inconvenientes. Vamos a ela:

Não é novidade para ninguém que a economia de mercado é o ponto nevrálgico do Ocidente. É subjacente a esta economia de mercado que transita toda a libertinagem, especulação, enriquecimento ilícito e principalmente a teoria democrática de “ser quem quisermos dependendo da grana que temos no bolso”. Acontece que nada disso seria possível se não fosse a genial invenção do “troco”! É o troco, e só ele, que possibilita o natural funcionamento da máquina capitalista além, é claro, de nos livrar das irritantes moedas que insistem em escapulir de nossos bolsos furados. Devolver ao cliente a diferença entre seu dinheiro e o preço do produto foi uma sacada genial que contribuiu de forma decisiva para o incremento do consumo.

Historicamente, as primeiras referências que temos da utilização do troco podem ser lidas em pergaminhos datados de 5.000 a.C, encontrados pelos famosos “beduínos pernetas” que costumam circular pelo centro da Ásia Central em busca de cenouras e quiabos. Neles, constatamos a prática do troco em sociedades pouco hierarquizadas. Abaixo, um diálogo transcrito de um desses pergaminhos:

• Que quer pelo carneiro ?

(Esta primeira pergunta indica um homem que quer comprar um carneiro. Não é possível ainda saber se suas intenções serão recheá-lo com frutas cristalizadas ou simplesmente assá-lo banhado-o na salmoura).

• Sara, sua mulher.

(Essa resposta refere-se a um natural e milenar interesse pela mulher do próximo).

• Negócio fechado !!!

(Novamente não é possível ter certeza, mas tudo leva a crer que ele não pensou muito antes de responder. A única coisa certa é que Sara não recheará o carneiro),

• Fez um ótimo negócio. E se ela for boa cozinheira pode ficar com o troco.

(Grifos do autor).

Além de outras coisas (do qual sinceramente não me recordo) o troco propiciou o surgimento de mais uma grande referência do mundo moderno: o fast-food !

Segundo “B. A. Bhá”, cientista israelense perito em begônias, somos a fusão entre o “penso, logo existo” de Descartes e o natural instinto de comer com as mãos e lamber os dedos. Essa característica pode ser comprovada através da famosa simplificação feita por Hume que nos remete a concretude do hambúrguer, a lógica do sanduíche e as comprováveis variações de sabor do “X” salada, com e sem mostarda.

O troco simplificado, através de moedas com valores cada vez menores, foi um incremento de velocidade ao hábito de comer fora de casa. Seria impensável um dia a dia agitado e sem qualidade de vida se não fossem as refeições rápidas e gordurosas que diminui em até quarenta por cento nossas perspectivas de existência agitada e sem qualidade de vida.

E para terminar, como se não bastasse, o troco é ainda o fator diretamente responsável pelo surgimento das máquinas de calcular, da indústria de esmolas e de cerca de oitenta por cento do faturamento das empresas de gomas de mascar.

Gui Desantana
Enviado por Gui Desantana em 12/01/2022
Código do texto: T7427629
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