DESCONFORTO

Ela aproximou-se da janela, sentiu o ar fresco da manhã a tocar-lhe os cabelos como forma de carinho. Olhou o céu com doçura, procurando entender as ações humanas. O coração machucado pela dor havia retirado as alegrias de dias atrás, deixando o gosto amargo que lhe ia por dentro da alma, era o sabor do desprezo, da exclusão e do preconceito. Sabia, porém, que a vida lhe reservaria surpresas e que para tudo haveria respostas, acreditava que o tempo lhe traria outras oportunidades. Olhou em volta do vazio em que se encontrava, não sabia como recomeçar.

Saiu então a caminhar, como remédio que aliviasse sua dor, buscou olhar a vida como ela é sem a ilusão, que muitas vezes, cega a visão das pessoas, passou devagar por algumas ruas em um bairro simples da periferia, continuou por avenidas tumultuadas com diversas pessoas caminhando apressadas. Chegando a uma praça parou para admirar as imensas árvores que lhe rodeavam, avistou um banco vazio e sentou-se para refletir, presenciou pessoas sorrindo e outras chorando, crianças pedindo e outras brincando, idosos sozinhos e outros compartilhando, viu a vida se modificando, através de rostos desconhecidos, que lhe pareciam enternecidos de sentimentos íntimos a se revelar, eram como respostas soltas no ar, e a quem pudessem alcançar.

Compreendeu então que a vida tudo lhe oferecia, era apenas uma questão de escolhas, Agradecendo a Deus, pelo conforto recebido, seguiu com passos firmes ao retorno de seu lar.