Gourmand ou Gourmet?

04.06.2021

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As pessoas têm características que as tornam inesquecíveis. Meu pai tinha uma, que por ser filho de italianos, pai calabrês e mãe napolitana, de adorar comer bem, mas não pela quantidade e sim pela qualidade. Curtia a boa comida, a boa bebida, a boa conversa, enfim era um gourmand.

Curioso, fui saber o significado dessa palavra francesa, pois sempre confundi com gourmet, e em site na internet encontrei o que segue:

-Gourmet, é aquele que adora comida e bebida, aprecia seu refinamento, faz pesquisas e críticas, adora descobrir sabores novos, é curioso, informado, lê, escreve e entende bastante da matéria.

-Gourmand, é simplesmente quem gosta de comer e beber bem.

Lendo essas definições, conclui que ele tinha algumas caraterísticas de Gourmet e de Gourmand. Adorava saborear a comida e a bebida; era curioso - assistia na tevê programas culinários, anotava as receitas e passava para minha mãe fazer; era critico – sempre questionava minha mãe quanto ao sal, pimenta mas elogiava quando estava bom. Era um Gourmand com pitadas de Gourmet.

Uma das suas manias era ir à padaria Basilicata no bairro do Bexiga, centenária e tradicional na cidade de São Paulo pelo seu famoso pão italiano e pela linguiça calabresa. Ia geralmente aos sábado buscar o pão – sabia o horário que saia do forno. Comprava junto as linguiças para serem curtidas – dependurava-as em um cabo de vassoura na área de serviço do apartamento, deixando-as por semanas até secarem e virarem um salame, que cortava diagonalmente como fazem os italianos. Comíamos com o pão italiano, ele com vinho, eu com cerveja. Fazíamos esse ritual antes do almoço de fim de semana como um aperitivo. Meus filhos, pequenos ainda, adoravam comer essa linguiça que meu pai cortava para eles quando íamos almoçar lá aos domingos, e ficaram viciados. Alegrava-se meu pai pelo gosto deles pela linguiça.

Também, fazia uma salada de tomates maduros e vermelhos – escolhia-os um a um com cuidado no supermercado, com alho picado, salsinha, um pouco de orégano fresco, regada com azeite de oliva extra virgem, inigualável pelo seu tempero, que hoje tento repetir, mas não consigo fazer igual. Tinha ele a mão boa.

Quando a minha mãe preparava alguma comida que ele lhe pedia, um estrogonofe, por exemplo, ele se servia em um prato fundo com um pouco de batata palha e dizia ao degustá-lo, fechando os olhos para melhor apreciar o sabor:

- Maria, está dos deuses, divino, divino! Acertou no sal, o molho está consistente, os cogumelos estão tenros, uma delicia! – ajoelhando-se ao lado dela sentada à mesa, com o prato nas mãos como se fosse rezar, completando:

- É para comer ajoelhado em sua homenagem! – fazendo-nos rir. Inesquecível o meu pai.

Todas essas lembranças me vieram agora, pois estou no apartamento em que morávamos e fui comprar pão na padaria na esquina da rua do nosso edifício. Ele ia lá todos os dias buscar o pãozinho quente e era muito querido no prédio, pois sempre dava um deles para os porteiros. Às vezes, sentava na guarita e ficava conversando com um deles, vendo o entre e sai dos moradores. O condomínio, então, colocou um banco de jardim na entrada do prédio onde sentava para conversar com as pessoas. Era o banco do seu Fernando e está lá até hoje. Adorava um bom papo também.

A padaria é bem antiga e conhecida na região e fazem um pão italiano delicioso, nada comparado com o do Bexiga, mas muito bom também. Peguei um filão de pão italiano bem crocante e comprei cerca de 200 gramas de mortadela Ceratti, marca tradicional e antiga, deliciosa – às vezes ele comprava essa mortadela junto com o pãozinho francês quente para um sanduiche com um pouco de manteiga e café preto. Combinação maravilhosa.

No apartamento, cortei o pão em rodelas, coloquei a mortadela fatiada em um prato, peguei uma cerveja bem gelada da geladeira e fui me sentar na varanda, fazendo a degustação como um gourmand em homenagem a ele. Saudades do meu pai.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 04/06/2021
Reeditado em 04/06/2021
Código do texto: T7271460
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