TELE-VIZINHO

             Seu Maneco era um homem de bom coração morava em lote grande na Vila Nova um dos primeiros bairros de Goiânia. Construiu ali sua casa de frente para a rua, e nos fundos uma meia dúzia de pequenos barracões que alugava para famílias pobres que se mudavam para a Capital. Naquela época televisão era uma diversão cara, mas estava ao alcance das posses de se Maneco. Era a única televisão naquele lote e uma das poucas do bairro. A noite generosamente ele abria a janela para que seus inquilinos tivessem acesso àquela maravilha da tecnologia. Mas a verdade é que sua mulher, que era uma paraibana de maus bofes o obrigava a incluir aquela benesse no preço do aluguel. A princípio eu não acreditava, mas com o tempo foi ficando demonstrado que ele realmente cobrava um a taxa para dar direito aos vizinhos de assistirem pela janela. A partir das sete da noite, os inquilinos se amontoavam na janela que por sorte era grande, para assistir a novelas, shows, jogos de futebol, missas. Sempre tinha gente na janela, pois quem não gostava de uma coisa, gostava de outra.Alguns chegavam a levar cadeira, tamborete para subir e ver melhor. Moravam cerca de trinta pessoas no seu pequeno cortiço. Volta e meia dona Querubina, sua mulher, pressionava para aumentar a taxa porque a conta de energia estava alta. Quem por acaso não concordasse não podia assistir. O filho deles um esquisitão com problemas mentais, que andava pelas ruas conversando como os postes era quem fiscalizava e afastava dali os inadimplentes. O horário de pico, eras oito quando passava uma novela chamada Redenção, acho que a primeira ou segunda novela na televisão. Quando tocava a música da novela era um corre corre para pegar o melhor lugar vez por outra saíam xingamentos, brigas desacatos até vias de fato. Numa dessas confusões seu Marcelino um carioca de cerca de cinquenta anos, muito folgado, desquitado e metido a galã passou a mão pelas “intimidades” da mulher de Felício que se retesou toda aprovando a ousadia, o que fez parecer que já era um costume. Mas seu marido percebeu e aí a coisa ficou preta. Felício foi até seu barraco e voltou com uma faca para acertar as contas com Marcelino, depois se acertaria com a mulher pois achava que ela vinha facilitando. Mas o outro não esperou fugiu correndo pela rua. e não voltou nem para buscar sua mudança. Em vista do ocorrido, seu Maneco fechou a janela avisando que não a abriria mais, pois estava dando muita confusão, muita briga. A novela estava caminhando para o seu final, faltava uns dez capítulos. Os inquilinos ficaram revoltados, estavam sendo punidos por um erro de outra pessoa, e além do mais tinham pagado a tal “taxa” que seu Maneco cobrava e resolveram ir atrás de seus direitos. O filho de um deles era advogado e resolveu interpelar na justiça. Não era justo que ficassem sem sua diversão favorita logo na fase melhor da novela. Uma liminar foi concedida aos impetrantes da ação, os inquilinos. Seu Maneco foi obrigado a manter a janela aberta por força da lei, que dava direito a eles. Levou um sermão do Juiz por cobrar daquelas pessoas pobres uma coisa que lhe custava tão pouco. De agora em diante a janela ficaria aberta todas as noites, e de graça. Dona Querubina que sempre mandou por trás dos bastidores, teve que se conformar assistia a novela com cara de poucos amigos depois voltava a fazer seu tricô. A vida seguiu calmamente no cortiço da rua 220, com todos tendo direito à TELE-VIZINHO.
Al Primo
Enviado por Al Primo em 22/09/2020
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T7069682
Classificação de conteúdo: seguro