UMA LEMBRANÇA DE UM NATAL DISTANTE

Era véspera de natal e eu tinha seis anos.

Esperava ansioso pelo meu presente. O velhinho logo viria, segundo meu pai.

As horas não passavam e a ansiedade aumentava. Será que eu ganharia o meu sonhado presente? Diziam que criança que não se comportava Papai Noel não presenteava.

A tarde estava chegando ao final. Os últimos raios de sol já haviam se despedido e o cinzento da noite já anunciava que breve chegaria. Na minha casa Papai Noel chegava cedo, lá pela hora do ângelus, como se dizia naquela época.

Meu pai me avisou que alguém estava batendo na porta da frente e eu corri para atender. Não tinha ninguém. Voltei para a sala e para minha surpresa o bom velhinho tinha deixado meu presente na janela enquanto eu havia ido atender a porta.

Peguei o pacote bonito e sob o olhar sorridente de meus pais desembrulhei rapidamente rasgando o papel de presente.

Peguei meu brinquedo. Uma máquina locomotiva verde. Sentei no sofá e, cabisbaixo, nada falei.

Meu pai percebeu minha frustração e perguntou: - Não gostou da locomotiva? E eu respondi laconicamente: - Não tem vagão. Para mim um trem sem vagão não tinha graça, não tinha sentido. Mesmo assim, fui brincar com a minha locomotiva e não percebi que meu pai se ausentou.

Já era umas oito horas da noite e eis que chega meu pai com outro embrulho. Olhou para mim sorrindo e estendeu o pacote. Surpreso, rasguei o embrulho e dentro havia um trenzinho completo, com dois lindos vagões.

Hoje, quando lembro desse fato, não consigo segurar a emoção. Meu velho já se foi há tantos anos e a saudade é cada vez maior dentro de mim.