Caua moribunda

Ainda era cedo, o sol denunciava um dia quente, deitado em seu manto de um céu azul turquesa e límpido. Uma brisa suave brincava com a ramagem do mandiocal e da floresta vinha o gorjeio de uma juriti. Alguém cantava uma música indecifrável, a voz era potente e aguda, meio desafinado. Tentei olhar por cima da plantação, a voz não me era estranha. Aproximei-me para ver quem era.

Já próximo, uma movimentação estranha, correria, a música fora interrompida por xingamentos: “Ah, diabo! Seiscentos diabos, diabo, diabo, diabo! Setecentas porras, diabo, caralho”.

A ramagem da plantação estava à altura dos meus olhos, tentei olhar por baixo. Umas manivas quebradas, um bissaco cheio de milho e, mais adiante, meu avô, esfregando o rosto sem parar de falar palavrões. Sem perceber, por entre a palha do milho, tocou em um ninho de “caua moribunda”, estas lhe ferraram nos olhos e nos lábios. Os olhos logo ficaram tão inchados que quase se fecharam; já os lábios, o superior, estava quase lhe tapando os orifícios do nariz. Estava engraçado, antes de lhe prestar ajuda, desatei-me a rir da cena.