A EXPLOSÃO DA IGREJA MATRIZ DO ICÓ

Nos meados do fim do século XIX, havia em Icó uma família muito importante, a família do barão do Papagaio, cuja sua mulher era extremamente valente e disposta, não levando controvérsias para casa, a duquesa Loura como era conhecida resolvia as pedengas geralmente na bala. Em frente ao casarão da rua principal, no canteiro do meio, tinha dois centenários e imensos pés de tamarideiros, ou jubais para muitos. A baronesa tinha uma identificação muito estreita com as frutíferas, pois desde o tempo de infância que ela brincava de esconde esconde com o duque na copa das árvores, as quais foram plantadas por seu pai, o infanti dom Arara Calmom, vice rei do condado do Cariri, cuja província capital era o Icó. Além de tudo, a duquesa era uma grande onirtóloga, principalmente as espécies de periquito da caatinga ou jandaia, ave de arribação, que anda aos bando, é que toda época da frutificação dos tamarideiros, eles ficavam aos milhares, se alimentando dos tamarindos. Esses frutos que são em formatos de baje, são ótimos estimulantes para o acasalamento das aves, como a fortificação dos bicos dos mais jovens. A duquesa de sua janela do seu quarto chegava a tocar na copa das árvores, e conhecia e identificava por vezes algumas das aves. Eram dois meses de êxtase para a duquesa. Perto ao casarão do barão do Papagaio, também tinha uma prisão pública, além da igreja matriz. Tudo era junto nessa dita rua principal, cujo nome era rua do Roberto correia Ivo, o conde de Mombaça, herói da guerra do Paraguai, vendendo laranja de Cangati para à tropa brasileira. Os visinhos de frente do casarão da duquesa, reclamavam da zoada dos periquitos e também de alguns presos que iam comer tamarindos ali embaixo das árvores, fazendo verdadeiras bafafas ali em baixo. Aquela família que morava do outro lado da rua não gostava dos pés de tamarindos, e vazou em boca miúda, que Zé Preiá, líder deles, tinha falado que de noite ia cortar os dois pés de frutas. Quando a baronesa soube dessa notícia, falou para quem quisesse ouvir que se aquele paraibano da moléstia cortasse suas árvores, ela explodiria toda a vila dos preás do Icó. E assim começou a trazer pólvora do Juazeiro, para se necessário fosse, explodir os preás, chegando a ter em casa cinco barris de um quarto de tonelada de pólvora. Zé Preiá quando soube da quantidade de munição da visinha, e conhecedor de sua coragem, foi até a baronesa para dismitir os fatos e dizer que respeitava o duque e duquesa, e nunca iria fazer tamanha barbaridade daquela, e que a duquesa podia ficar tranquila que suas árvores iriam viver mais cem anos. Depois de um ano desses acontecimentos a duquesa resolveu doar a pólvora e deu para o bispo toda a sua pólvora adquirida nos últimos anos. O bispo pensou em quando era de valia toda aquela pólvora para a festa da padroeira, transformando tudo em fogos de artifícios, seria muito bom e econômico para a paróquia do Icó. Então mandou guardar os cinco barris de pólvora na sacristia da igreja matriz. De noite o sacristão às escondidas levou a mulher do seu Preiá para namorar na sacristia, levando uma vela para clarear o caminho. Terminado as intimidades entre Tarcísio o sacristão e Linda mulher do Preiá, eles trataram de saltar nas molas, pois se o Preiá pegasse com certeza mataria os dois. Na presa de fugir, o jovem casal se esqueceu da vela, deixando a mesma em cima de um barril de pólvora. Depois de uma hora que a vela se acabava, a chama da mesma pegou fogo no barril de madeira e por cumplicidade na pólvora, causando a maior explosão já registrada no interior do Cariri. A explosão foi tão forte que destruiu a igreja toda, a prefeitura que era ao lado, e arrombou a porta do presídio, por onde fugiram todos os presos. Consta que a explosão foi escutada no Crato, tamanha foi sua amplitude. Até hoje ninguém sabe o que aconteceu naquela noite.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 20/12/2018
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