Desabafo
 
João e Maria moram num reino distante, num determinado espaço de tempo.
João desde a sua infância, sempre foi uma pessoa responsável, cuidador das suas obrigações, respeitava os mais velhos e era temente a Deus.
Como nascera num lar pobre, desde pequeno ajudava sua mãe nas obrigações de casa: fazia almoço, janta, passava palha de aço nos tacos, encerava, passava escovão, arrumava a cozinha, faxinava a casa, providenciava o café da manhã, da tarde, e de quebra tinha que desdobrar nos estudos, se quisesse algum dia ter êxito na vida.
Joãozinho tinha alguns sonhos, entre eles: um dia comprar uma casa para sua mãe e também sonhava encontrar uma jovem que o amasse, mas que além de amante e esposa, fosse também companheira, amiga, que juntos pudessem sorrir; chorar; brincar e que no final de sua vida um cuidasse do outro com todo amor e carinho, suprindo assim a lacuna deixada pela senectude.
Até os 15 anos cuidara com todo carinho da casa da sua mãe. todavia as dificuldades financeiras persistiam, e também já era hora de começar a trabalhar, as necessidades iam surgindo, e de alguma forma precisavam ser sanadas.
Deus lá do alto sondava a vida de Joãozinho, sua dedicação para ajudar os seus semelhantes, os sonhos existentes no seu coração, e o recompensou, abençoando o fruto do seu trabalho. Dessa forma, Joãozinho passou a ser uma pessoa muito próspera e conseguiu realizar um dos seus sonhos, que era abençoar sua mãe com uma moradia.
Aos 22 anos o rapaz conhecera Maria, uma jovem muito bonita, morena, altura 1,65 m, cabelos encaracolados de cor preta, coxas roliças, olhos grandes brilhantes e por ela se apaixonara e três anos após se casaram.
Agora casado, Joãozinho sonhava em ser pai, ter filhos com quem pudesse brincar, e através do amor e carinho dedicados a eles, poderia tê-los como amigos, além de filhos. Durante cinco anos o casal tentou ter filhos, infelizmente isso não foi possível devido a infertilidade de Maria. Mas superaram esse problema, e de comum acordo decidiram não adotar filhos.
Duas décadas o casal viveu em paz, mas o vigor da juventude foi esvaindo, a situação financeira já não era mais a mesma e tinham acabado de sair do arraial, nada faltava em sua casa, mas as viagens e as regalias foram cessadas.
Agora seria o momento ideal, daquela relação ser provada pelo fogo das adversidades. Um verdadeiro amor, mesmo passando pelo crisol, consegue manter-se forte, inabalado.
Inicialmente Maria trabalhava, mas dois anos depois, insatisfeita com o seu trabalho, pedira demissão, optando por cuidar da sua casa.
Sempre houve brigas entre o casal, mas de forma esporádica, agora elas eram constantes, acentuada passou a ser a desconfiança, esses fatos começaram a minar a relação do casal.
Joãozinho era uma pessoa carinhosa, brincalhona, cuidador de suas obrigações, provedor do lar, mas apesar de tudo carente, com todas essas coisas acontecendo, a solidão tomava conta do casal.
Um certo dia, devido a desconfiança reinante entre o casal, houve uma desavença. culminando na separação de corpos. Joãozinho continuava casado com Maria, mas agora não dormiam no mesmo teto. Maria morava na casa e o esposo fora morar na edícula que ficava no fundo do quintal, foi a forma que eles encontraram, visando a diminuição das brigas. Apesar de cessadas as relações sexuais, Joãozinho continuava provendo todas as necessidades da casa, como sempre tinha feito.
Outrora quando morava na casa da mãe, Maria não tinha uma boa relação com o seu pai, tanto ela, como o pai, tinha algo em comum, eram orgulhosos e não gostavam de dar o braço a torcer.
No presente o esposo estava encontrando o mesmo problema, pois quando a esposa recebia alguma ordem, ficava resistindo e muitas das vezes não acatava aquilo que Joãozinho pedia, atitude que o entristecia.
Outra atitude que entristecia muito o coração do Joãozinho, era quando os parentes de Maria iam visitá-la, ela o tratava com desprezo, pouco caso, falta de respeito, as vezes cumprimentava apenas seus parentes, como se João não tivesse no local, na hora do almoço convidava seus parentes, mas o chefe da casa mesmo era ignorado. Essas coisas iam fazendo com que Joãozinho ficasse muito indignado, primeiro por ser uma pessoa que merecia respeito, como qualquer outra, e também era um líder responsável daquele lar. Maria sempre teve tudo, nunca lhe faltara nada, tinha toda liberdade na casa, o esposo não conseguia entender essa atitude de ingratidão, primeiro dela para com Deus, e depois dela para com ele.
Em certos momentos Joãozinho ficava pensando, que mesmo dando tudo a ela, mesmo sendo dependente dele, ela tratava-o dessa forma. Como seria a atitude dela, caso ela fosse independente e provedora do lar?
Mas mesmo Maria agindo assim de forma grosseira, Joãozinho tomou a decisão de cuidar de Maria, enquanto ela necessitasse dele, independente da situação. O tempo foi passando, a situação continuava da mesma forma e nada mudara. Até que num certo dia, a enfermidade prostrou na cama Joãozinho. Depois de ter feito tudo para Maria, agora era hora dela retribuir. E no momento que Joãozinho mais precisava dela, continuou tratando com desprezo, com pouco caso e pouco dava-lhe atenção, carecendo de cuidados, o esposo acabou falecendo. Maria herdou tudo o que ele tinha e agora ficou à vontade, para viver como lhe aprazia.
  
 
Simplesmente Gilson
Enviado por Simplesmente Gilson em 22/07/2018
Reeditado em 30/07/2018
Código do texto: T6397291
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