Ziguezagueando 19

Era Lua Cheia naquela noite. Foi o presente da divindade para os dois foragidos.

Jovita? até então, implodida do feminino irrealizado na relação afetiva com um homem.

Hugo? Explodiu, baixou guarda do exprimir ser homem em sentimentos na vida a dois com mulher, alma falida no ato de amar e ser amado.

Era mês de outubro; a Terra, o Sol e a Lua, alinhados. A atração gravitacional dos dois últimos , levou a maré ficar alta, que dominava pelo bramido das ondas, ouvido em alto mar.

A noite foi tomada por uma claridade Lunar nas águas, que servia de lâmpada para o casal, talvez pelo poder atrativo do entorno e dentro deles, mantiveram-se a beira praia.

Nem calor nem frio, o rosto do casal, destacavam um para o outro, do contato com o reflexo do clarão da Lua. A praia estava quase deserta, a natureza, feminino -masculino, presente nos elementos e corpos, bem representada, que naquela noite comungava no entrelaçamento e troca de energias.

O Sol, no princípio masculino, a Lua, no feminino, regendo as correntes oceânicas, resultando no grito das ondas, proclamando Deus na criação.

O banquete para aquelas duas almas, estava posto.As estrelas apareceram no firmamento aos montes, salpicando aqui e lá no céu. Tudo gritava vida.

Jovita estava lado a lado com Hugo, pegou nas mãos dele, depois de ouvir, viver tanto em um só dia, estava possuída, se entregando àquele ritual sagrado da natureza, que fazia um convite lamurioso! Festivo aos dois!

A ruivinha piscava seus olhos compassadamente, passou dirigi-lo para um ponto no meio do nada, em direção a Lua. Passaria falar a alma feminina, entrando triunfal na arena preparada, de estéril de si, entrou luminosa, aquecida pelas palavras definidoras do anfitrião, força masculina, que foi motriz no desencadeamento do despertar interior dos dois, pelo diálogo decisivo proposto na noite por Hugo.

Da fecundação, zigoto formado, feminino-masculino, aqueles do acasalamento, que foi a tomada simultânea da laranja pelas mãos dos dois no primeiro encontro na feira,e depois, do trajeto, como o tubular, caminho de busca de Hugo e fuga de Jovita, estavam ali, implantados no útero oferecido pela natureza. Mar em noite de Lua Cheia.

Como numa prece, voltou seu olhar para Hugo: Devo estar aqui, em algum lugar que não sei onde. Sobrevivo a este eu que nomino de mamífera no topo da cadeira alimentar, mulher provedora. Intuo que você, Hugo, nesta solidão escolhida, possa ter hibernado, talvez possa me conduzir à fonte de vida do meu interior, me revelando o novo.

Jovita sorriu, em uma sonoridade baixa. Indagou:Seria por esta boca avantajada de carne que fala? Que me circundaria pelo beijos que me desse, desenhando-me por inteira para mim? Acendendo a casa que moro, e aí sim, me levando ao êntase supremo do “Ter me encontrado”, eu mesma?

Quem sabe? faríamos a festa que este princípio exato da matemática nos prenuncia ser o melhor. Pode ter um lugar pronto em nós, esperando ser usufruído...quem sabe?

Jovita debruçou sobre os braços que estavam entrelaçados, passou segurar as duas pernas. Ainda olhando para a Lua, falava baixinho: Iniciar a empreita por mim, seria andar no escuro. Se me busca, e me diz que eu estava em fuga, é porque alguma coisa de mim, que ainda ignoro, enxergou. Se ousar desafiá-lo a me buscar, pode ser que o que encontrar não agrade as duas partes em reciprocidade.

A empreita depende de coragem, Hugo! vasculhar, é para quem teria o mapa da minha constituição. Não sei se é seu caso. Também não quero lhe impor que me dê garantias de êxito. Caso complicado.

Sairia desta noite completa, se estivesse segura de que poderia trazer Eu para eu, me completando.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 19/06/2018
Código do texto: T6368346
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