Ziguezagueando 10

Hugo chegou ao Hotel zonzo, teve experiência de algo parecido com Déjà vu. Colado a moça pela laranja, se submeteu a uma introspecção conjunta revelada, compartilhou com a estranha estado que não pôde manipular, se submeteu e pronto.

Não sabia explicar para si depois de tudo como ocorreu. Com mais de vinte anos na profissão, psicólogo clínico e professor Universitário, não tinha respostas, silenciou-se em argumentos.

Estava diante de fato novo, na profissão e na vida. Os dias restantes que teria que passar na cidade litorânea, participando da convenção anual de psicologia transpessoal, não seriam os mesmos.

Cinquenta anos, começou cedo na arte de mexer nas questões da mente humana, seguia no caminho da psique como cão de caça à presa, se especializou nas doenças emocionais dos últimos tempos, aquelas que salpicam daqui e dali por entre as mudanças e acontecimentos que inovaram o modo de ser na sociedade, e na família, principalmente a tecnocracia, que prometeu enaltecer o ter, e noutra medida, desafiou levar para o subterrâneo da almas, a capacidade creativa. Coisas do espírito.

Gostava de levar a baila para os estudos, o feminino deste novo tempo, resultado do esbugalhar humano no pós moderno. A mulher que de tanto, caminha na maioria do tempo, numa aridez tamanha de subjetividade para continuar sendo aquela da origem, pura de estirpe, única, proprietária dos encantos elevados, dona do dom colorido para levar a espécie, raça humana, aos objetivos do ideal da criação, ao belo, ao sublime.

Hugo era indignado ver o crescente número de mulheres tendo tudo para serem no Eu, com a tocha creativa nas mãos, porém, sem uso.

Meninas crescidas entravam e saíam do seu consultório, cegas de si, ofuscaram a visão interior diante de tantas batalhas para serem em identidade. Algumas guerras vencidas, em direitos e garantias, outras, nascidas destas, em andamento no agora, sem contar o carregamento das ruínas internas deixadas pela luta para o estabelecer, angústia, solidão, solidão, solidãooooo!!!Se sedaram, anestesiaram o Eu, para não retornarem ao status quo na história.

O transeunte, personagem da história com Jovita naquela manhã de domingo, era um de muitos que adotaram a mania de analisá-las, principalmente as balzaquianas deste século.

Passou tentar encaixar Jovita neste grupo, não a achava, a curiosidade durante a semana quase o levou a loucura, apercebeu que a estranha tinha acima de trinta nos, vivida das coisas da sobrevivência, principalmente pelo modo que se desculpou, os trejeitos dela era de mulher pagadora de conta, calejada pelas responsabilidades que a vida impõe ao ser humano para sobreviver.

Mas tinha algo mais, inexplorado, inacessível, secreto.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 03/06/2018
Código do texto: T6354470
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