RETIRANTES

A seca castigava àquele pequeno vilarejo, localizado em uma cidadezinha do sertão de Pernambuco. Lá a cultura do milho tinha grande importância para os moradores, pois era o único meio de sobrevivência...

Os habitantes daquele lugar já não sabiam como minimizar os prejuízos provocados pela seca. Com a falta de chuva, plantações de milho precisam de irrigação para crescer e, o investimento é muito alto... Senhor Joaquim dono de um pequeno sítio denominado, Porteira Quebrada, estava desesperado, pois tinha perdido toda safra de milho, do ano anterior. Nesta época do ano, os milharais deveriam estar ocupando o terreno da propriedade. Mas, a palma e o mato tomam conta do sítio do agricultor, já que o mesmo não plantou por causa da falta de chuva e de investidores. A ação do agricultor era pertinente, tendo em vista que, já aproximadamente três meses não chovia no sertão, um pingo d’água sequer. O pequeno lago artificial próximo ao sítio já estava totalmente vazio. Mais uma preocupação para ele; como mataria a sede dos poucos animais que sobreviveram à estiagem do ano passado. No pequeno sitio tinha uma vaca magra e sofrida, mas muito boa leiteira, e duas galinhas com alguns pintinhos. Atualmente, era com a venda do leite que alimentava sua família.

O sol, ainda, não havia resplandecido no horizonte, mas o senhor Joaquim já estava sentado em frente ao terraço, pensando em soluções para o problema da seca. Sua esposa, dona Olívia, aproximou-se devagar e foi logo falando:

- Marido, você não vai tomar seu café?

- Mulher, estou preocupado por demais, com essa estiagem, já falta água para os animais beberem. Assim, nossa vaquinha não dará leite. Como vamos sobreviver?! Disse-lhe senhor Joaquim.

Quase chorando, ele continuou falando:

- Você sabe que arrendei este sítio, quando foi preciso construir esse lago artificial, que hoje está quase vazio.

A mulher não conteve o choro, tinha um olhar de tristeza, seus olhos emaranhados pelas lágrimas que escorriam sem controle. Ela olhou fixamente para o marido e disse-lhe:

- Vamos tomar nosso café, tem um pouco de leite e cuscuz quente em cima da mesa. Alimentados pensaremos o que fazer.

O casal tinha um único filho, com dois anos de idade, o pequeno Gabriel, que até parecia um anjinho. O garotinho tinha cabelos encaracolados e um rostinho terno. Os três sentaram-se ao redor da mesa; a mulher foi puxando conversa:

- Vamos para São Paulo, marido, em busca de um sonho promissor, lá tem futuro para nosso filhinho, meus parentes podem ajudar em que for preciso, pois aqui já não tem futuro para a gente.

- Mulher, deixe de besteira, não vamos sair da nossa terrinha, por nada. Aqui temos um pedaço de chão e este casebre. O agricultor falou já soluçando.

E dona Olívia respondeu-lhe com precisão:

- Para que serve, um sítio arrendado, uma plantação de milho que não existe e meia dúzia de animais quase mortos, por falta de chuva. A seca está destruindo nosso lugar.

O Sr. Joaquim saiu da cozinha furioso, sem tomar seu desjejum matinal. Correndo, em disparada por entre as palmas, sem rumo certo. Só se ouvia o choro do pequeno Gabriel. Ele correu e correu, parou e fixou o olhar no pasto e, observou que estava faltando alguma coisa, sentiu um vazio, um aperto forte no peito; passou pela porteira escancarada, quebrada a bastante tempo, desde a época de seu avô Tião. O mesmo não gostava da porteira fechada, pois dizia que o sítio era de todos e, ele de propósito quebrou a Cancela. Assim, permaneceu quebrada até os dias atuais. Com a morte do avô o sítio foi batizado, Porteira Quebrada, em sua homenagem. Já cansado da correria, ele avistou de longe a vaquinha caída e, percebeu que o animal estava morto. O mundo desabou, procurou chão e não encontrou. E pensou: “Como vou alimentar minha família, não posso continuar assim; tenho uma família para sustentar e sem condição nenhuma de alimentá-los.” Saiu cabisbaixo, à procura de um local para enterrar o pobre animal. Agora, somente restam duas galinhas, quatro pintinhos e um sítio arrendado. Com muita tristeza enterrou a vaquinha e dirigiu-se ao casebre. Viu sua esposa chorando junto ao fogão e, foi logo dizendo:

- Mulher, tomei uma decisão, vou entregar o sítio ao banco, vender os animais e viajaremos, em retirada, para São Paulo, iremos para casa dos nossos parentes.

A mulher envolveu-o em um forte abraço e, choraram juntos.

Os preparativos para a longa viagem foram finalizados... Em uma certa manhã de sol escaldante, os três aguardavam na velha rodoviária, o horário da partida do ônibus, ao destino desejado. O casal estava confiante; eles acreditavam que na cidade grande, São Paulo, fosse um lugar mais promissor.

Os tempos passaram... E já em São Paulo, o Sr. Joaquim arrumou emprego de serviços gerais em um condomínio fechado, dona Olívia trabalhava de costureira em uma grande indústria têxtil, Gabriel estudava o curso técnico em edificações e já estagiava. Eles moravam em uma casa modesta, bem acolhedora, próximo ao trabalho do Sr. Joaquim. Nunca mais eles voltaram ao Sertão, o sítio fazia parte de um passado... Uma história sofrida, mas a perseverança e a coragem deles, contribuíram para este final feliz.

Foram muitos os tropeços, mas nem por isso o casal desistiu de um sonho promissor. São tantas histórias assim...

E você vai desistir de seu sonho?

Elisabete Leite – 04/05/2018

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 17/05/2018
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