O Príncipe perdido

Ele acordou feliz, seus pensamentos buscavam com ansiedade a paz em sua alma. Após receber a convocação por telegrama, sentiu o coração invadido por imensa gratidão. Vestiu-se apressado, querendo valorizar cada minuto na corrida para a encantadora ilha que o aguardava, tamanha era a sua agonia em sair daquele local em que se encontrava hospedado. Ansioso correu à rodoviária com esperança de encontrar uma passagem disponível para aquele mesmo dia, despedindo-se da turbulenta cidade que o angustiava com sua aparência cinzenta e triste. Sentou-se na poltrona pouco confortável da única linha de transporte para a ilha e fechou os olhos agradecendo a Deus pela conquista daquele novo recomeço.

Há muito tempo ele procurava por sua identidade, era um homem sem rumo, um navegante sem um porto seguro, vivendo a procura de algo que o completasse intimamente, possuía um olhar perdido querendo sempre fugir de si mesmo, faltava-lhe arrimo para a vida. Seu maior prazer era encontrar a alegria em suas pequenas realizações voltada a comunidades carentes com a prestação de serviços sociais, enfim ele poderia agora realizar algo realmente útil em prol dos mais necessitados.

Olhando a paisagem rústica do local, observou que lindo presente a natureza oferecia, quantas cores pintavam a vida simples das pessoas, sem que quase ninguém as notassem. Naquele momento parou para pensar em sua vida, sentindo-se plenamente agradecido pelos momentos inesquecíveis ao lado de pessoas amigas que agora ficariam para trás, mas ele não tinha escolha pois a vida o havia encurralado em decisões necessárias ao seu amadurecimento moral e que lhe custaram todos os bens que possuía, ficando como bagagem o fortalecimento de sua dignidade. Agora só lhe restava partir em direção as novas construções e as novas conquistas. Precisava recomeçar a buscar o real sentido da vida para sanar aquele íntimo doído, que apenas o empurrava para a sobrevivência do dia a dia.

Ao desembarcar na pequena vila, percorreu as ruas formadas por pedras, admirando os antigos casarões coloniais da época em que a vila fazia parte importante do país, hoje permaneciam parados no tempo, ainda conservados em sua beleza natural. Avistou a pousada amarela que parecia ser a única na cidade, entrou pelo portão aberto e sorriu para a simpática senhora sentada na varanda. Após conseguir um quarto para dormir, deitou-se para relaxar os pensamentos, lembrou-se que um dia alguém o havia lhe comparado a um belo príncipe, por seus cabelos loiros e seu porte esguio que lhe davam a aparência de uma descendência nórdica e riu ao relembrar. Ficava comovido quando comparado a um homem de bem, seguindo o caminho justo, sonhando em construir um mundo melhor.

Aquele emprego na ilha era um meio de fugir do caos e das injustas das cidades grandes, onde a ganância e o interesse dominavam os corações das pessoas, causando uma cegueira espiritual. Talvez ali naquele pequeno mundo encantado ele construísse seu reino florido, pautado na essência do bem coletivo. Adormeceu com a sinfonia das ondas do mar a embalar seu sono, alimentando seus sonhos.

O sol forte da manhã, entrando festeiro pela janela, o convidava a levantar-se. Saiu a caminhar pela praia respirando profundamente o aroma delicioso de um ar totalmente puro, fitou as belas nuances no céu que pareciam pintar as nuvens de prata e brincar com seus desenhos, sorriu para si mesmo. Parou impressionado com a beleza das montanhas que formavam a ilha, a infinidade de pássaros, e as águas verdes e cristalinas o transportavam para um mundo fantástico, sentiu-se emocionado com a travessia, percebendo que outros, pareciam tão acostumados que não se importavam de olhar em volta e apreciar aquela grande obra de Deus que ganhavam de presente.

Ao chegar, deparou com o enorme pico verde a sua frente, parecendo referenciá-lo na postura de um guardião, encontrou um clima de festa entre o povo simples que ali vivia, caminhou pelo pequeno centro comercial da ilha, notando o intenso movimento dos vendedores de artesanatos e dos pescadores realizando seus trabalhos em cooperação mútua. Aquelas cenas pitorescas, tocaram fundo em sua alma, criando um lampejo a clarear suas idéias, caminhou sereno em direção ao seu destino sem olhar para trás, almejando apenas encontrar o seu lugar ao sol. Finalmente o príncipe perdido havia regressado para casa.