O RECLUSO

    Ninguém entendeu quando Carlos deixou o seu emprego, a família, os amigos e as festas. Abandonou praticamente tudo o que tinha e foi morar em uma pequena casa na zona rural. Tal evento caiu como uma bomba entre aqueles que o conheciam, ou pelo menos, assim pensavam.
    Todos o viam como um rapaz muito extrovertido, que gostava de sair, sempre cercado por pessoas da mesma idade, sedentos por diversão nos agitados fins de semana na capital. Uma mudança tão brusca seria algo para desconfiar.
    _Ele deve está aprontando alguma coisa! _disse uma senhora que morava em frente à casa de Carlos e que já se acostumara a vê-lo sempre chegar embriagado com o volume do som alterado, “mais parecendo um bloco de carnaval”, como ela mesma costumava dizer.
    Os amigos estavam sempre comentando o assunto.
    _Ele não disse nada, não levou celular e só deixou um recado de que não gostaria que fossem visitá-lo.
    _Será que ele está com depressão? Uma coisa é certa: ele não está bem.
    _Sei lá... Talvez ele quisesse ficar sozinho...
    _Ficar sozinho?! Carlos sempre quis tudo, menos ficar sozinho – comentou uma amiga.
    _O pior é ficar aqui sem fazer nada sabendo que ele não está bem. Acho que devemos procura-lo.
    _Mas ele não quer ver ninguém! Não podemos força-lo!
    _Eu sei, mas não me entra na cabeça uma pessoa que passou a vida inteira em festas, farreando, curtinho a vida com os amigos e, de uma hora para outra, resolve se isolar em uma casa longe de tudo e de todos.
    _Será que ele cansou de tudo: festas, churrascos, baladas, bebedeiras?...
    _Duvido! Isso não seria normal vindo de uma pessoa como Carlos.
    _Bem... Vamos esperar alguns dias. Se ele não voltar, vamos lá trazê-lo de volta. Nem que seja à força!
    _Concordo! _Riram as duas.
    _Acho que eu não aguentaria passar um dia sozinha, sem ver ninguém. Preciso estar sempre em contato com pessoas, animação...
    _Ou seja, você não suportaria ficar com você mesma durante um dia inteiro? Você deve ser chata, hein?!
    _Acho que sim!
    E as duas deram uma boa risada, antes de continuarem a caminhada.

Rogério Rodrigues
Enviado por Rogério Rodrigues em 22/01/2018
Reeditado em 21/04/2023
Código do texto: T6233055
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