O infeliz...

Era tarde, ele saiu para trabalhar. Como sempre muito pontual. Ele não reparava nas pessoas, não queria conversar com ninguém. O que lhe incomodava era a vida. A vida de quem não vivia realmente. Ele mesmo. Não tinha família, não tinha amigos, não tinha uma namorada. Não tinha humanidade. Só restava pra ele a ilusão de dias nublados sem nenhum carinho, sem nenhum amor ou ódio. Quando chegou no trabalho resmungava consigo mesmo. Era um homem bonito. Era um homem inteligente. Era sozinho e doente dos olhos. Ninguém conversava com ele, ninguém percebia sua beleza, o que todos fofocavam sobre ele era do seu mistério, da sua loucura de vida vazia. Nada era comum neste homem, somente a tristeza de um câncer, de uma mentira no semblante, de um segredo surreal. Nada existe. Nada neste homem é alegre. Nada neste ser que acorda e ver o sol desaparecer por detrás das trevas é real. Tudo morre no trabalho, tudo some no horizonte dos sonhos, tudo termina na aurora do pecado, tudo é um cochicho frio e violento na língua dos depravados de um silêncio. Ele chega, ele desaparece, ele si odeia, ele não ver. Morre o silêncio nos lábios do murmurador, padece um amigo no sangue, sequestrado é a esperança deste indivíduo. Tudo é pecado, tudo é um amor de quem não sabe amar. É o infeliz. Maldição de quem nunca foi visto, percebido com o coração. De quem tem tudo é morre na praia do lixo sociável.

Os seres são sozinhos. Nosso herói não entende sua língua, ele não enxerga o pavor dos demais ao seu redor e nisto padece os planos de infortúnio no amor. Onde ele chega existe relâmpago. Onde ele dorme há trabalho e ansiedade. Onde ele existe o barulho é sensível. Nosso herói nunca foi tocado. No viver diário inexiste sonhos. Nosso herói é um horroroso pesar para a inspiração do pecado, jamais foi beijado, jamais foi amado por quem acredita que nesta ação nobre conheça o mesmo amor. Nunca teve luz. Sua gravata é negra. Sua charmosidade é idílica. Sua morte diária é um confessar dos homens em busca da labuta da cidade. Onde existe um ser tão rude que acredita que neste conto de vida ilumine os tristes de mesma implicabilidade? Nosso herói é um resquício do animalesco em cada um de nós. Ele termina o turno e desaparece. Ele é morcego, ele é rival dos entraves do sistema ordinário. Ele é o medo de quem padeceu no umbral das horas perdidas da meia noite. E quando tudo minguar o desejo de sexo e orgias em sacralidade quão reluz na papelada de nus unidos num corpo de medíocres. Sem lar. Sem amigos. Sem família. Sem mulher. Sem prazer. Sem vida e depravado no escritório dum adeus aos festeiros de dias sem iguais. Ele morre todos os dias. Ele clama por uma paz e uma guerra viril de seres desencontrados em si mesmos. Não existe amor no seu espírito. Não existe luz no seu corpo. Não existe feiura que lho impeça de ser feliz, mas nosso herói é um monstro sem oxigênio. Um Dragão que rumina os filhos. Um monstro que todos os dias vibra nas planilhas do tempo. O que aconteceu com ele? Ele é um nada. O que lhe mata? A felicidade que ele não entende no seu próprio coração. O que ele acredita? Que o trabalho a cegueira a riqueza e a beleza não significa nada. O que isso tudo quer dizer? Que todos os seres Humanos declamam poesias, e que depois de escrita nossa missão de perdidos na folha dos enganos, a mesma poesia, é vã arte, de escritores vagabundos do achado propósito de vampiros. Assim não seja?