Do mato

Sinto falta de coisas tão simples. Andar descalça na terra fria, correr no gramado com os meus cães, e observar os animais. Ouvir o  barulho do vento, sacudindo as copas das árvores, sentir o cheiro da chuva, a gente sentia de longe quando ela estava pra chegar. Sinto falta do canto dos pássaros e da magia que tem o pôr do sol, e o sol das almas, esse eu nunca mais vi. De ficar olhando o céu azul, entre as frestas das folhas de palmeira. Sinto falta da sombra do bambuzal, do pé de kiri e suas flores roxas que forravam o chão. E dos lagos e córregos, onde me sentava a beira no fim da tarde. As libélulas pairando sob a água, o coaxar dos sapos, o canto das cigarras, o cheiro do mato. Sinto falta das pessoas simples, enraizadas na sua terra, no seu lugar, com sua cultura e costumes. O cheiro do bolo e do café, o pinhão e batata doce assados na brasa,os causos e contos a beira da fogueira ou do fogão a lenha, as frutas saborosas colhidas no pé. O brilho das estrelas e dos vaga-lumes. Nos tempos de geada, a paisagem branca, e tranqüila.  As teias de aranha prateadas pelo sereno das manhãs. As madrugadas frias, as noites negras, ou enluaradas, claras como o dia. A sabedoria dos mais velhos, e as brincadeiras de criança. Éramos todos livres, livres dessa forma de viver que adotamos, e que nos envenena pouco a pouco, a cada dia. Parecem coisas muito simples, e de fato são. Mas hoje, longe do meu lugar, longe da minha essência, da minha verdade, e trancafiada dentro de mim mesma, eu apenas sobrevivo.