Esmola

Um dia desses eu estava andando pela rua e me deparei com uma cena um tanto peculiar: vi um rapaz maltrapilho parado em frente a um shopping com uma placa nas mãos. Na hora, imaginei do que se tratava e comecei a observar que algumas pessoas que por ele passavam deixavam-lhe algo no chapéu. Notei que seus olhos eram profundamente tristes, mas toda vez que alguém lhe dava algo, um sorriso tímido e desconfiado surgia-lhe no rosto. Fiquei ali por mais algum tempo, enquanto o tal chapéu se enchia. Ao perceber que eu lhe estava observando, o homem fez uma expressão de constrangimento, como se eu lhe pudesse julgar duramente por seus atos. A mendicância nunca me foi vista com bons olhos e por isso havia algo a ser dito àquela criatura. Quando me aproximei do pobre homem, ele me olhou com olhos de sofrimento, como se me quisesse hipnotizar com sua dor e carência. Eu lhe fiz algumas perguntas; inclusive quanto havia ganhado até aquele momento e ele pediu que eu desse uma olhada. Fiquei surpreso ao ver o que ali havia. Nunca imaginei que alguém seria capaz de pedir aquilo. Era algo de valor inestimável; algo que não se deve pedir a ninguém. Era amor. E enquanto conversávamos, mais e mais pessoas iam deixando suas “moedas” e partindo, sem qualquer contato com o homem. Não era pra menos que naquele rosto magro sorriso e choro se misturavam, afinal, ele não tinha noção de como sobreviver sem as migalhas de afeto de outras pessoas. Sua miséria afetiva era tanta que, quando alguém não lhe dava algo, ele se deitava no chão e implorava pelo mínimo. Difícil não ter qualquer sentimento de empatia por aquele homem tão jovem e tão perdido; até de si mesmo. Foi então que eu tive uma ideia. Eu lhe contei a história de um amigo meu que vivia na mesma situação (em termos financeiros), mas que conseguiu dar a volta, trabalhando como autônomo no meio educacional. A princípio, o homem parecia relutante e confuso, não conseguindo entender a comparação de sua vida à do meu amigo, mas aos poucos as minhas palavras foram acendendo uma chama de esperança em seu peito. Na verdade, aquele sentimento novo veio para substituir a ilusão de que sua felicidade dependia dos outros. Ainda assim, o homem quis saber como poderia obter amor, sem que precisasse pedi-lo aos outros. Foi então que eu lhe aconselhei a olhar para dentro de si mesmo. Eu lhe mostrei que era preciso perceber que o mais profundo e verdadeiro dos amores poderia ser produzido por ele mesmo dia após dia. Diante disso, ele começou a chorar e aquelas lágrimas viraram um mar de angústia e solidão, saindo-lhe pelos olhos. E depois da longa conversa, o homem foi embora cabisbaixo, mas com uma semente plantada no coração e que eu espero que brote e floresça e dê frutos muito doces.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 10/11/2017
Código do texto: T6168344
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