Memórias de um tempo remoto

Quanto mais o tempo passa, mais essas lembranças parecem ser tão presentes, não parece ter algumas décadas aquele cheiro da roseira do meu quintal que ainda assombra minhas narinas,o olhar pidonho daquele gato amarelo que me perseguia toda tarde na tentativa do meu lanche, eu dei o nome a ele de Mimi, soube depois que ele tinha dona e seu verdadeiro nome era Tilinho, mas para mim era meu mimi.

Lembro dos meus amigos aos quais passei minhas primeiras experiências, aventuras, travessuras, dos medos em demasia, das inseguranças, dos ciúmes, para mim era o fim quando meus pais não me deixava sair e via pela aquela janela todos eles reunidos entre gritarias e risos brincando, eu pensava; ''Será que não estão sentindo minha falta''? 'Será que esqueceram de mim''? Oh tola preocupação, se eu soubesse que hoje as pressões e preocupações da vida adulta seriam tão piores eu desejaria não sair desse tempo. Eu apanhava minhas bonecas e fazia meu mundo ali, todas tinham nomes, famílias e seus conflitos,, modéstia a parte sempre fui uma criança criativa, um tanto excêntrica também, a curiosidade mórbida sempre me atraiu, , lembro me uma vez que eu estava brincando com um amiguinho e eu queria fazer um velório de um brinquedo, começamos e vi o medo nos olhos dele, mas sozinha eu não faria, embora eu tivesse essa abelhudice com a morte, eu era muito medrosa, e muito sensível também. Sempre tive uma grande compaixão aos mortos, talvez seja da carga religiosa que herdei de meus pais. Certo dia houve um fato que me marcou muito, eu devia ter uns cinco ou seis anos, a porta da cozinha estava aberta e havia muitas galinhas na vizinhança, e eu sempre tive pavor devido a um pesadelo que tive que uma galinha gigante queria me pegar, elas invadiram a cozinha com um monte de pintinhos, eu corri até a porta e fechei com desespero, nisso pego o pescoço de um pintinho amarelinho,caiu molinho, naquele momento me senti uma assassina!! Chorei, chorei, imaginei a dor dele, na tristeza da mãe, depois que tiraram aquele corpinho, eu fui até a porta e pus meu pescoço e apertei, eu queria sentir um pouquinho daquela dor do pintinho. Não dormi aquela noite, dias depois ganhei um patinho para me consolar, não durou muito, morreu, assim de repente , eu tive inúmeros bichos, gatos, coelhos, cachorro, sempre possui uma adoração por eles.

Eu costumo manter essas memórias vivas, são momentos onde tudo era mais saboroso, colorido, sem muito discernimento das coisas, e a ignorância embora perigosa é muito mais feliz, dizem que as memórias é que nutri os velhos, é um escape da dura e natural decadência, será que estou velha?

Denise Brunato
Enviado por Denise Brunato em 19/10/2017
Reeditado em 19/10/2017
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