Na Hora Mais Escura

Cai a noite e com ela vem todo o peso do cansaço do enfrentamento de um dia complicado em minha vida.

Me deixo levar pela calmaria que antecedeu a tempestade e relaxo ao lado de minha amada, surfando nas ondas de um programa qualquer na televisão.

Lá fora, sob a luz da lua cheia, uma nuvem de besouros desesperadamente se debate à procura de um lugar na claridade artificial das lâmpadas. Alguns, inclusive, vêm com força excessiva de encontro ao vidro da janela, nos atormentando com um barulho que nunca acostumaremos.

Ainda antes das 21:00, uma inquietação começa a apontar em meu âmago, na forma de um pequeno incomodo que vem e vai sem aviso prévio.

No rosto, mantenho uma aparência de que tudo está bem, afinal, não haviam sérios motivos para preocupação.

Quanto a isso, enganei-me, pois às 22:00, já deitado em minha cama, a fugaz sensação de outrora agora tomou conta de mim e não há mais conforto que acalente minha alma.

Viro para um lado da cama e minhas entranhas parecem se remexer. Viro para o outro e minha carne parece estar torcida em dezenas de nós.

O suor frio respinga em meu travesseiro e um leve tremor tamborila pelo meu corpo acompanhado de um congelante arrepio na espinha.

Ao meu lado, minha doce amada dorme feito um anjo, sem ao menos imaginar que estou à beira da loucura.

Com o passar dos minutos, uma estranha necessidade de extravasar esse sentimento aponta como se a vida do mundo dependesse disso.

Meu interior queima, arde, como o fogo de mil vulcões.

De pé em frente ao espelho do banheiro, salpico o rosto com água fria na inútil tentativa de controlar esse incêndio, antes que seja tarde demais.

Volto pra cama, já exausto de tanto lutar e, quando menos espero, sou vencido pelo meu inimigo interno e desmaio sem mais lembrar o que houve.

Após um lapso temporal impreciso, acordo no mesmo lugar, já com os pássaros cantando na janela (os besouros já haviam ido embora).

Olho para o lado e meu amor continua ali, em sono profundo.

Já eu, sinto as sequelas da batalha que travei horas atrás.

Parece ódio, raiva, gana.

Mas é só gastrite nervosa.

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* Baseado em um ocorrido com este que vos escreve, noites atrás.

Vinícius Luiz
Enviado por Vinícius Luiz em 09/10/2017
Código do texto: T6137555
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