Viva!

Ah, aquela festa... Não imaginava que teria tanta gente. Era algo bem específico; feito para aqueles que, como eu, gostavam de algo considerado diferente pela maioria. Cheguei um pouco atrasado, pois o taxista errou o caminho, provavelmente de propósito, já que ficou me assediando durante boa parte do percurso. Dali a pouco lá estava eu diante de muita beleza e aparente alegria. A música era alta e as pessoas pareciam possuídas pelo ritmo contagiante. Nunca havia estado ali antes, por isso não tinha ideia do que estava por vir. Era verão e o suor escorria-nos pelos rostos, à medida que dançávamos como se não houvesse amanhã. Logo eu me senti exausto, pois estava fora de forma e resolvi me sentar num sofá ali perto para descansar um pouco. Móvel confortável; testemunha de muito mais do que eu poderia imaginar. Não demorou nem dois minutos, lá estava um casal sentado do meu lado. Tinham fogo para dar e vender e não pareciam querer esperar para saciá-lo. Subiram aquela longa escada-caracol em direção ao sabido, mas escondido. Ainda ali sentado, vi muitas coisas que jamais vira. Muita exposição; pouca verdade. Como bom observador, percebi que, apesar de querer mostrar uma coisa, algumas pessoas sentiam outra; completamente diferente. Foi então que o clima festivo deu lugar a um ambiente umbralino, onde olhos de águia como os meus podiam enxergar bem mais que sorrisos fáceis. Aos poucos todas aquelas máscaras foram caindo. Os que haviam bebido demais para fugir da realidade corriam para o banheiro, pois o vômito era inevitável. Aqueles que choravam calados no canto sentiam-se profundamente tristes e abandonados. Ouvi a conversa de alguns sobre suas frustrações quanto aos seus parceiros, enquanto outros falavam da dor da rejeição e da humilhação, vinda de preconceitos absurdos. Eu parecia observar tudo aquilo através do buraco de uma fechadura e me sentia um extraterrestre, percebendo que não havia vivido nada. Então eu desejei fortemente passar por algumas daquelas situações, pois apesar de todo sofrimento, aquelas pessoas continuavam tentando encontrar algum sentido para suas vidas. Além disso, as mais tristonhas eram ouvidas e aconselhadas por outros olhos que também as observavam e convidadas para dançar; como se a música pudesse (mesmo temporariamente) fazê-las esquecer suas dores. As adoentadas estavam sendo acolhidas e levadas para casa por seus amigos. E eu ali sentado pensei: “_Quer saber? Eu vou me divertir também.” Desde então, eu tenho dançado bastante; não apenas literalmente, mas sempre conforme a música.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 14/09/2017
Reeditado em 14/09/2017
Código do texto: T6114090
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