O reducionista

- Percebi sua guinada para a esquerda.

- Para a esquerda? Mas estou parado, meu caro.

- Não, não me refiro a movimentar o corpo, mas às ideias políticas.

- Ah, sim. E por que você acha isso?

- Você não é mais o mesmo.

- Não sou mais o mesmo? Bem, antes preciso saber alguma coisa.

- Pois não?

- Isso que você pensa sobre mim é bom ou ruim?

- Ruim, ora.

- Ah, entendi. Você é um militante, não?

- Sim, milito em nome da moral e dos bons costumes!

- Muito bem! Mas por que você acha que eu..., para usar as suas palavras, ... dei uma guinada para a esquerda?

- Suas ideias. Você não é mais o mesmo.

- Talvez isso seja bom, não?

- Ser de esquerda?

- Não, não ser mais o mesmo.

- Bem, no seu caso é ruim.

- Por quê?

- Porque você abandonou a moral e os bons costumes. Foi seduzido por uma ideologia imoral.

- Olha, não sou adepto de nenhuma ideologia. Talvez, você, meu caro, seja um desses reducionistas populares.

- Reducionista popular? O que você quer dizer com isso?

- Ora, isso é simples como seu julgamento. Se meus pensamentos começam a desalinhar dos seus, ou melhor, da ideologia que você entende como verdadeira, defensora da moral e dos bons costumes; então estou me desviando para o lado contrário do seu. E nesse caso me desvio para a imoralidade, já que você tem certeza que o seu lado é o lado certo, o único certo. Isso é ser reducionista, ou seja, não admitir outras possibilidades e reduzir tudo a isso ou aquilo; ao certo e errado, etc.

- Entendo. Então?

- Então, o quê?

- Vai continuar do lado errado?

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 08/07/2017
Código do texto: T6048895
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