Mendigando Sorrisos

Ela estava sentada ali sozinha, o tempo todo. Não havia moradia, não havia alguém para lhe falar do quanto sofria. Mal ela abria a boca e o sorriso permanecia tímido. Ou será que apenas oprimido?

Triste cena era vê-la ali todos os dias. Sentada como uma estátua; sua aparência a secar, se sujar, mendigando a própria comida. Não me contive a pensar e repensar, e pensar...

Senhora da pele morena dos cabelos brancos; curtos.

Quase dez anos se passaram e do seu rosto nunca me esqueci será que um dia se lembraria de mim?

Não me satisfaço apenas com aquela imagem delicada, frágil, velha… Sinto a enorme necessidade de fazer passar tudo que vi, por este lápis.

Frio passa e calor abraça para aqueles que tem casa. E ela ali, com a mesma roupa suja. Não há ninguém que possa fazer alguma coisa, além de dar a ela alguns trocados, que a deixa contente.

O que será que comerá hoje? Pelo menos, um pão de queijo daria para comprar?

Com estas coisas tão caras… Não sei se vai dar.

Lá ela estava à mendigar, seu próprio sofrimento. Ou seria livramento?

Entretanto, como julgar?

Talvez ela simplesmente escolhera ali estar. Mas como? Como ignorar?

Dei a ela algumas moedas na medida que percorria aquela rua todos os dias rumo à praça central da cidade. Engraçado pois, toda vez que isto ocorria, ela tentava se mostrar agradecida. Quase que me abraçava. Aquele era o momento mais bonito, pois além da vontade de abraçar, ela abria o sorriso. Lindo!

E eu senhora, não conseguia fixar meus olhos em teus olhos. Queria me desculpar. Covarde, eu temia ser possuído pelo teu desespero; em talvez não ter uma família, um filho, ou algum amigo.

Ou seria isto tudo vergonha?

Não. Isto não poderia ficar assim!

Depois de tanto tempo em meus pensamentos, encontrei comigo mesmo.

Entrei pela porta da consciência para redefinir e consertar lembranças antigas que deixaram carimbados meus olhos, como que para toda ação uma reação.

Fui em busca ao entendimento.

Eu poderia simplesmente esquecer e dizer que se a vida fosse tão bela, como numa taça um belo vinho tinto, eu preferiria me embebedar ao invés de encarar qualquer sofrer alheio. E mais uma vez eu estaria fugindo de mim. Do que me faz ser humano.

Mas ela estava lá, não estava?

A sua lembrança esperou muito tempo com paciência até que o inconsciente abrisse a porta e viesse à tona. Sua história não se fez em vão.

No final, do tempo todo que se passou, ela não esteve sozinha.

“Adormeci” com isto por boa parte da minha vida.

Thiago Salvador
Enviado por Thiago Salvador em 29/04/2017
Código do texto: T5984659
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