TRES MENDIGOS

JACQUES CALABIA LISBÔA

Em certas ocasiões eu andava pela cidade.

Entrei na Igreja Católica da "Boa Viagem".

Fui nela para uns minutos poder orar.

Depois que terminei o meu sagrado sacramento

é que avistei num dos bancos assentado um mendigo.

Aproximei-me para com ele falar.

O mendigo me pegou de surpresa e foi dizendo:

_ Quem es tu?

_ Tu es Elias ou algum dos profetas?

Sem ter tempo para ao mendigo responder ele com sua fala

de voz que ecoou pelo templo continuou:

_ Sabe qual o motivo faço-lhe perguntas?

_ Percebi que você não é como os outros homens...

_ Eles nem de mim se aproximam...

Respondi ainda mais surpreso:

_ Só queria lhe ajudar...

O mendigo prosseguiu contando a mim sua vida

difícil que passava para sobreviver na sarjeta.

Mostrou-me seu diário onde escrevia tudo.

Eram páginas e mais páginas a lápis escritas.

Depois de falar que voltaria a viver em sociedade

o mendigo me abençoou e levantando-se do banco

e pegou no chão seu saco velho sujo e foi embora.

Sai da Igreja da Boa Viagem pensativo.

Depois outro dia eu caminhava pela rua.

Vi outro mendigo no passeio assentado.

Tirei da minha carteira algum dinheiro.

Coloquei todas as notas na mão do mendigo.

Pensando em ir embora senti o mendigo pegar meu braço.

Cai ao chão na mesma hora ajoelhado.

O mendigo com lágrimas entre os olhos assim falou:

_ Eu pedia a Deus para mandar a mim uma alma

que fosse para comigo caridosa...

Ao mendigo fui dizendo:_ Não é necessário agradecer....

Ouvi aquele homem velho responder de imediato:

_ Eu não tinha dinheiro para voltar a minha terra

onde vivi e nasci.

_ Você foi mandado por Deus para me ajudar...

_ Acabou de colocar em minhas mãos a quantia

da passagem de ônibus que preciso para voltar...

Puxou-me e deu-me seu abraço.

Esfregou o rosto dele no meu rosto.

Senti todo ele molhado de suor.

O mau cheiro emanava do seu corpo.

Ouvi de novo a fala do velho mendigo:

_ Criei meus filhos que me abandonaram na sarjeta.

_ Agora tu és o filho que eles não são para mim.

Depois de me abençoar partiu dizendo que iria comprar

sua passagem a fim de voltar para casa.

Fiquei sem saber o nome dele.

Na missa do galo avistei um certo mendigo.

Fui a uma padaria que estava aberta aquela hora.

Comprei um bolo sem olhar o preço.

Aproximei da Igreja de São Francisco e avistei fiéis

falando para o mendigo ir dali embora.

Coloquei na mão do mendigo o bolo.

Ele agradeceu a Deus levantando o bolo aos céus.

A seguir, falou comigo:_ Sabe aquelas pessoas na igreja?

_ Eu só desejava ouvir a Palavra de Deus...

_ Elas me expulsaram daquela igreja por causa de todo

o meu jeito e mau cheiro.

_ Tenho fome espiritual e estômago vazio.

O mendigo tirou de dentro de sua bolsa um cinturão dourado.

_ Ganhei esse cinturão num luta de boxe...

_ Sabe todas aquela pessoas na igreja?

_ Elas não são diante de Deus o que tu és...

_ Nem Dilson Funaro é...

Ele abriu os braços ao céus e foi dizendo:

_ Diante de Deus tu és um gigante....

_ Lembre-se de mim em suas orações...

_ Levei um soco na cabeça e vou te esquecer...

O mendigo partiu um pedaço do bolo e comeu.

Sai de perto dele e fui embora.

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Obs: Estes fatos aconteceram comigo a mais de 20 anos

quando eu ainda era jovem e hoje lembrei deles e oro pelos

mendigos.

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BELO HORIZONTE, 04 DE MARÇO DE 2017. MG